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Candidato da direita tradicional anuncia que apoiará Hernández na Colômbia

"Fico" Gutierrez disse que o senador de esquerda Gustavo Petro é "um perigo" para a Colômbia e apoiará o magnata Rodolfo Hernández no segundo turno

Fico (à esq.) e Hernández (ao centro) em debate antes das eleições: Hernández é criticado por falas controversas, como ao dizer que admirava Hitler (Ivan Valencia/Bloomberg/Getty Images)

Fico (à esq.) e Hernández (ao centro) em debate antes das eleições: Hernández é criticado por falas controversas, como ao dizer que admirava Hitler (Ivan Valencia/Bloomberg/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 30 de maio de 2022 às 11h42.

Última atualização em 30 de maio de 2022 às 12h50.

Tirado do segundo turno na reta final da eleição, o candidato de direita Federico "Fico" Gutierrez anunciou que apoiará o magnata Rodolfo Hernández nas eleições na Colômbia. Hernández afirmou que o senador de esquerda Gustavo Petro, favorito para vencer o pleito até o momento, é um "perigo" para o país.

Gutierrez anunciou o apoio rapidamente, logo após ficar confirmado que não estaria no segundo turno.

O candidato disse que "nós não queremos perder o país e não vamos pôr em risco o futuro da Colômbia, nem de nossos filhos". "E por isso Rodrigo [seu vice] e eu votaremos em Rodolfo no próximo 19 de junho", afirmou.

Gutierrez representou, na prática, o campo da direita tradicional, o que lhe custou votos pela associação indireta com o presidente Iván Duque, altamente impopular. Ao mesmo tempo, fez campanha tentando se apresentar como renovação na política, tendo apenas 47 anos e uma gestão elogiada como ex-prefeito de Medellín.

Gutierrez foi o terceiro colocado, com pouco menos de 24% dos votos. Petro, de esquerda, venceu o primeiro turno com 40% dos votos, enquanto Hernández ficou com 28% (veja aqui os resultados).

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Hernández chegou ao segundo turno de forma surpreendente, crescendo nas pesquisas nos últimos dias antes da eleição e ultrapassando o próprio Gutierrez.

Aos 77 anos, Hernández é uma figura controversa e visto por analistas como de perfil populista. O empresário atua no ramo da construção civil e foi prefeito da cidade de Bucaramanga.

Hernández tem posições de direita radical, já tendo dito publicamente que admirava o ditador alemão Adolf Hitler e dado um soco em um vereador.

Sem estar vinculado a um partido, ele afirma que seu objetivo é fortalecer o combate à corrupção, à violência e à imigração na Colômbia, e tem feito sucesso na internet — virando um fenômeno no TikTok — como candidato antissistema.

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Em meio às polêmicas envolvendo o empresário, não estava claro se Gutierrez apoiaria Hernández. Agora, a declaração de apoio do candidato dá o tom do que deve ser o segundo turno em junho, com eleitores antiesquerda devendo se aglutinar em torno de Hernández contra Petro.

Eleições na Colômbia:Gustavo Petro e Rodolfo Hernandez disputam 2º turno

Gustavo Petro e Rodolfo Hernandez: candidatos com promessas contra o status quo disputarão segundo turno (Juan BARRETO, Yuri CORTEZ/AFP)

Como em outras eleições latino-americanas recentes, o pleito na Colômbia é marcado por ampla desconfiança dos eleitores com os políticos tradicionais. A confiança dos colombianos na democracia também é uma das piores na região.

Os três favoritos para ir ao segundo turno eram políticos que não estiveram amplamente no governo nacional nos últimos anos e se vendem como algum tipo de renovação.

No segundo turno, tanto Hernández quanto Petro representam promessas de um voto antissistema.

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As eleições deste ano foram também as primeiras em duas décadas que não contam com um candidato oficial do grupo do ex-presidente de direita Álvaro Uribe. Uribe governou a Colômbia de 2002 a 2010 e fez dois sucessores: Juan Manuel Santos (com quem romperia depois por um acordo de paz com os guerrilheiros das Farc), e o atual presidente, Iván Duque.

Duque não pode se reeleger pelas leis eleitorais. Além disso, o grupo de Uribe e Duque perdeu popularidade em meio a protestos da chamada "primavera colombiana" em 2019 e, mais recentemente, em 2021, que terminaram com dezenas de civis mortos e críticas ao governo pela violência policial.

O próprio Gutierrez, embora não fosse do partido do atual governo, terminou tendo a imagem arranhada ao ser visto como o candidato do grupo e o favorito dos empresários colombianos.

Enquanto Hernández tenta aglutinar o campo conservador, Petro, por sua vez, tentará surfar a onda de rejeição à direita tradicional na Colômbia e o momento favorável à esquerda na América Latina, com pautas como redução da dependência de carvão e combustíveis fósseis, maior tributação aos mais ricos e ampliação dos serviços do Estado.

Se eleito, Petro seria o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.

As propostas do senador — que no passado foi guerrilheiro e hoje moderou parte do discurso — vão em linha com nomes da nova esquerda local, como o presidente do Chile, Gabriel Boric. O grupo de Petro foi o grande vitorioso das eleições legislativas da Colômbia realizadas neste ano.

Petro é o favorito nas pesquisas de segundo turno feitas antes da eleição deste domingo, mas os próximos dias ditarão os rumos que a campanha tomará a partir de agora. No segundo turno, o senador deve sofrer alta oposição de grupos que rejeitam sua candidatura. A votação decisiva acontece em menos de três semanas, em 19 de junho.

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