Canadá reage a isolamento de Trump e reduz dependência dos EUA
Apesar das tentativas iniciais de aproximação, Justin Trudeau deu ordens aos seus ministros para se distanciar das políticas internacionais dos EUA
EFE
Publicado em 13 de junho de 2017 às 06h44.
Toronto - O Canadá começou a reagir ao crescente isolamento de seu principal aliado, os Estados Unidos, com uma série de políticas para reduzir sua dependência de Washington.
Após a surpresa inicial da eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, o Canadá se apressou em montar uma ofensiva diplomática, política e econômica. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, modificou seu gabinete e ordenou aos ministros que estabelecessem, o mais rápido possível, vínculos com os principais nomes do novo governo americano.
O principal objetivo era garantir que as ameaças de Trump de romper o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN), que inclui Canadá, México e EUA, não se transformassem em realidade. E, na pior das hipóteses, que seu país não se tornasse outra vítima da retórica de Trump, como aconteceu com o vizinho do sul.
As viagens para os EUA de ministros de Trudeau e do próprio premiê se multiplicaram rapidamente e, por enquanto, a ofensiva funcionou: Trump praticamente se esqueceu do Canadá e publicamente possui um bom relacionamento com o político canadense.
Mas, agora, quase seis meses após a chegada de Trump à Casa Branca e diante do isolamento dos Estados Unidos, Trudeau deu novas ordens aos seus ministros, desta vez para se distanciar das políticas internacionais do parceiro e, em alguns casos, preencher o vazio criado.
Em quatro dias, o governo canadense emitiu três novas linhas de política externa, defesa e direitos humanos que se confrontam diretamente com o quadro politico que os republicanos e Trump estão começando a armar em Washington.
Não é coincidência que Ottawa tenha emitido suas novas políticas depois que Trump concluiu sua primeira viagem ao exterior, onde atacou seus parceiros da Otan, minou a aliança militar ao não apoiar o artigo 5 de mútua defesa e evitou criticar a monarquia saudita.
No último dia 6, a ministra das Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, introduziu uma nova ideologia que orientará a política externa destinada a reforçar a "ordem multilateral" mundial, uma das principais vítimas das novas políticas da Casa Branca.
Então, contra o isolamento americano, o Canadá "vai trabalhar com outros povos e países que compartilham nossos objetivos", entre os quais Chrystia citou multilateralismo, aliança com a Europa e a Otan, livre comércio e promoção dos direitos das mulheres.
E embora a chanceler canadense tenha agradecido aos Estados Unidos pela contribuição dada nas últimas décadas à paz e estabilidade global, a nova política externa canadense foi classificada por comentaristas políticos locais como uma "declaração anti-Trump".
No dia seguinte, foi a vez de o ministro da Defesa canadense, Harjit Sajjan, concretizar o aspecto militar da nova política externa do país.
Sajjan anunciou um aumento de 70% dos gastos militares do Canadá nos próximos anos, com o objetivo de reduzir a dependência de Ottawa dos EUA nas questões de defesa.
"Se nós somos sérios sobre o papel do Canadá no mundo, temos de ser sérios sobre o financiamento das suas forças militares", afirmou o ministro, antes de explicar que a meta é de que no período 2026-2027 o país destine 1,4% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para gastos militares, em comparação com o 1,19% atual.
Depois, foi a vez de a ministra de Desenvolvimento Internacional, Marie-Claude Bibeau, anunciar uma nova política de ajuda internacional "feminista", pois o "Canadá acredita que o progresso na igualdade de gênero, além de promover a igualdade de direitos das mulheres e meninas, é melhor forma de reduzir a pobreza".
"Além do mais, o Canadá acredita que a sociedade é mais próspera, pacífica, segura e unida quando os direitos das mulheres são respeitados, e elas são valorizadas e capacitadas em suas comunidades. Portanto, a igualdade de gênero será agora um objetivo e se integrará em toda a ajuda internacional do Canadá", disse.