Brasil tem ambições peculiares no campo nuclear civil
Washington - O Brasil, um dos convidados à primeira cúpula de segurança nuclear em Washington, que acontece entre segunda e terça-feira, conta com um ambicioso programa nuclear civil. Somou-se tarde, em 1998, ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), sem subscrever o protocolo adicional que reforça o controle por parte da Agência Internacional de Energia Atômica […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.
Washington - O Brasil, um dos convidados à primeira cúpula de segurança nuclear em Washington, que acontece entre segunda e terça-feira, conta com um ambicioso programa nuclear civil.
Somou-se tarde, em 1998, ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), sem subscrever o protocolo adicional que reforça o controle por parte da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
A possibilidade de que material nuclear caia em mãos terroristas é a principal obsessão dos Estados Unidos, e motivo pelo qual o presidente Barack Obama convocou a reunião de cúpula em Washington.
"Não queremos que o tema desta reunião (o terrorismo nuclear) se converta no quarto pilar do tratado, não queremos que seja incorporado ao TNP", indicou na sexta-feira o porta-voz do presidente Luiz Inacio Lula da Silva, Marcelo Baumbach.
Mas o caso brasileiro é peculiar por outras razões.
O Brasil anunciou em 2004 a construção de uma usina de enriquecimento de urânio em Resende para seus dois reatores nucleares em funcionamento.
Depois, surpreendeu a AIEA ao negar a seus inspetores uma visita às centrífugas da usina, colocando lonas para ocultar os equipamentos.
Na época, o Brasil explicou que essas centrífugas representavam um novo protótipo desenhado no país, enquanto algumas fontes argumentaram que talvez sua tecnologia tenha sido copiada de países europeus.
Durante meses, o conflito foi motivo de tensão dentro da AIEA e chegou a ser comparado, dentro das devidas proporções, ao caso iraniano, que se nega a abrir totalmente suas instalações aos inspetores da agência.
No final de 2004, houve um acordo sobre o tamanho das lonas que ocultavam as centrífugas. Isso permitiu, oficialmente, preservar os interesses brasileiros, ao mesmo tempo em que os inspetores puderam finalmente vistoriar as instalações.
"É improvável que esse acordo único (entre Brasil e a AIEA) seja levado à cúpula, uma vez que o regime de não-proliferação já tem problemas suficientes", explicou à AFP Maria Rost Rublee, especialista em não-proliferação da Universidade de Auckland (Nova Zelândia).
"A principal preocupação são Irã e Coreia do Norte; ninguém quer reviver velhas pendências, além das que já estão na agenda" da comunidade internacional, ressaltou a especialista.
A reunião, que começa na segunda-feira com um jantar de trabalho, ameaça criar outro tipo de polêmica, com a ausência do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Rublee coloca o Brasil na lista de países similares ao Japão, isto é, com capacidade de explorar a construção de armas nucleares, mas sem interesse oficial em fazê-lo.
No entanto, que o Brasil não seja um problema a ser levantado em Washington não significa que o país não pretenda dar prosseguimento a uma política ativa de defesa de seus interesses.
O presidente Lula, inclusive, deve se reunir com o primeiro-ministro japonês durante sua visita a Washington, antes do início da cúpula, informaram à AFP fontes diplomáticas que preferiram não ter o nome divulgado.
As ambições do Brasil destacam-se uma vez mais numa região cujos membros, Cuba incluída, assinaram há quatro décadas a declaração de Tlatelolco (México), segundo a qual a América Latina não será nunca uma zona de armamento nuclear.
Argentina, Chile e México também participarão da cúpula. A Argentina, com dois reatores, é um país sem grandes ambições nucleares por falta de dinheiro, segundo Rublee. O Chile, por sua vez, depende dos Estados Unidos para a reciclagem de seu urânio enriquecido.