BID diz que "tsunami de dólares" é desafio para a A. Latina
Presidente do banco acha que crescimento da região deve atrair investidores internacionais, mas pode elevar a cotação das moedas locais
Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2010 às 14h32.
Rio de Janeiro - A avalanche de dólares que a América Latina recebe e a saúde das contas públicas são os dois maiores desafios para a região em 2011, afirmou o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, em entrevista publicada nesta segunda-feira pelo jornal "Valor Econômico".
"Estamos vivendo a década da América Latina. Conseguimos uma estabilidade muito importante, temos uma cesta de produtos básicos muito demandada e uma classe média crescente. Mas não há dúvida que, na macroeconomia, vamos enfrentar desafios", afirmou Moreno em entrevista ao "Valor".
"Há um tsunami de dólares buscando oportunidades. As oportunidades buscam os países onde há crescimento e não há dúvida que os fluxos de capitais continuarão chegando (à América Latina)", acrescentou o presidente do BID.
A forte entrada de divisas na região causou a valorização das moedas de vários países da América Latina frente ao dólar e foi a maior queixa apresentada pelas delegações da Argentina, Brasil e México na última Cúpula do G20, na Coreia do Sul.
Além de encarecer as exportações e reduzir a competitividade dos produtos da região, a valorização das moedas da América Latina ameaça causar desindustrialização em países nos quais sai mais barato importar produtos industrializados do que fabricá-los.
Moreno acrescentou que outro importante desafio para a América Latina no próximo ano é a manutenção da saúde das contas públicas, inclusive porque a valorização das moedas pode afetar o balanço de pagamentos.
O presidente do BID considera que os países têm que se concentrar na "consolidação" de suas economias e que o rigor nas contas públicas, apesar de não ser muito popular, "é sempre uma boa decisão a longo prazo".
Na opinião de Moreno, a economia da América Latina em geral crescerá entre 4,5% e 5% em 2011, embora a expansão de alguns países, principalmente Argentina, Brasil e Chile, e em menor medida Peru, dependerá em parte do crescimento da capacidade de consumo da China.
"Pode até ser que a economia chinesa diminua o ritmo, mas o que importa é sua capacidade de consumo. O país já concentra 25% do mercado de luxo do mundo, por exemplo", disse.
Em sua entrevista, Moreno também defendeu uma aceleração do processo de integração da América do Sul, mas advertiu que é preciso levar em conta os detalhes operacionais.