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Bangladesh afunda na crise política após eleições violentas

No domingo, ao menos 24 pessoas morreram depois que milhares de manifestantes atacaram 200 colégios eleitorais

Policiais e soldados perto de urnas eleitorais danificadas: antes das eleições, a oposição pediu a renúncia do governo (AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2014 às 13h03.

Dacca - Bangladesh estava nesta segunda-feira afundada em uma grave crise política, um dia após eleições legislativas boicotadas pela oposição e marcadas pela violência.

O resultado das eleições era conhecido de antemão, já que o partido governante, a Liga Awami, e seus aliados se apresentaram sem oposição em 153 das 300 circunscrições do país.

O partido da primeira-ministra Sheikh Hasina Wajed conquistou 80% dos assentos. Os restantes foram para movimentos aliados ou candidatos oficialmente independentes.

No domingo, ao menos 24 pessoas morreram depois que milhares de manifestantes atacaram 200 colégios eleitorais. Estes incidentes durante o dia eleitoral abrem uma brecha em uma democracia frágil, que vivenciou vinte golpes de Estado desde sua independência, em 1971.

O jornal Daily Star, um dos mais lidos, lamentou nesta segunda-feira as eleições mais violentas da história do país e criticou "a vitória sem substância" da Liga Awami, "que não lhe dá nem mandato, nem legitimidade ética para governar".

A primeira-ministra assegurou nesta segunda-feira que sua reeleição é legítima e exigiu que a oposição renuncie a qualquer atividade terrorista antes do início de um eventual diálogo.

O boicote do principal partido da oposição "não significa que exista um problema de legitimidade", disse Hasina, já que "a população participou das eleições, assim como outros partidos", alegou.

A oposição, que boicotou as eleições, decidiu no domingo prolongar uma greve geral até quarta-feira, para protestar contra a farsa eleitoral e a repressão que, segundo sua contagem, deixou 22 mortos em suas fileiras.

Mas o partido no poder mostra-se inflexível e promete eliminar qualquer militância, excluindo dialogar com o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), principal partido de oposição.


"Não prevemos nenhuma negociação no momento", disse o ministro do Meio Ambiente, Hassan Mahmud, à AFP. "Nossa prioridade é formar um governo e conter a violência. Devemos eliminar a violência e a militância para permitir que a população respire", acrescentou.

Antes das eleições, a oposição pediu a renúncia do governo e a instauração de um executivo neutro e provisório que organize eleições, como foi feito no passado. Mas a primeira-ministra rejeitou a proposta.

"O governo deve declarar nulas e sem valor estas eleições e precisamos de um novo escrutínio organizado por um governo neutro", considerou Shamsher Chowdhury, vice-presidente do BNP, a principal das 21 formações opositoras do país.

O jornal New Age pediu nesta segunda-feira ao poder que alcance um compromisso, estimando que sua intransigência poderia acarretar ao país "a ira da comunidade e de organismos internacionais", que poderiam isolar Bangladesh econômica e diplomaticamente.

Embora não tenha sido divulgado nenhum número de participação eleitoral, um funcionário de alto escalão declarou que em Daca, a capital, havia alcançado apenas 22,8%.

Antes das eleições, os Estados Unidos, a Commonwealth e a União Europeia desistiram de enviar observadores, ao estimar que não eram reunidas as condições para eleições livres e transparentes.

Bangladesh viveu em 2013 o ano mais violento desde sua independência do Paquistão, em 1971.

Segundo uma ONG, 500 pessoas morreram de forma violenta desde janeiro de 2013, 150 delas desde outubro, quando a oposição lançou sua campanha de greves e manifestações para que as eleições fossem anuladas.

O principal partido islamita do país, Jamaat-e-Islami, foi proibido de participar das eleições de domingo.

Mas, paradoxalmente, alguns analistas afirmam que este movimento poderia ser o principal beneficiado da rivalidade entre a Liga Awami e o BNP.

"Ali onde a oposição é reprimida e marginalizada, ou inclusive enfraquecida, aparece o extremismo. Em nosso caso é o islamismo", adverte Ahsan H. Mansur, do grupo de análises Policy Research Institute.

*Atualizada às 14h03 do dia 06/01/2014

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Dacca - Bangladesh estava nesta segunda-feira afundada em uma grave crise política, um dia após eleições legislativas boicotadas pela oposição e marcadas pela violência.

O resultado das eleições era conhecido de antemão, já que o partido governante, a Liga Awami, e seus aliados se apresentaram sem oposição em 153 das 300 circunscrições do país.

O partido da primeira-ministra Sheikh Hasina Wajed conquistou 80% dos assentos. Os restantes foram para movimentos aliados ou candidatos oficialmente independentes.

No domingo, ao menos 24 pessoas morreram depois que milhares de manifestantes atacaram 200 colégios eleitorais. Estes incidentes durante o dia eleitoral abrem uma brecha em uma democracia frágil, que vivenciou vinte golpes de Estado desde sua independência, em 1971.

O jornal Daily Star, um dos mais lidos, lamentou nesta segunda-feira as eleições mais violentas da história do país e criticou "a vitória sem substância" da Liga Awami, "que não lhe dá nem mandato, nem legitimidade ética para governar".

A primeira-ministra assegurou nesta segunda-feira que sua reeleição é legítima e exigiu que a oposição renuncie a qualquer atividade terrorista antes do início de um eventual diálogo.

O boicote do principal partido da oposição "não significa que exista um problema de legitimidade", disse Hasina, já que "a população participou das eleições, assim como outros partidos", alegou.

A oposição, que boicotou as eleições, decidiu no domingo prolongar uma greve geral até quarta-feira, para protestar contra a farsa eleitoral e a repressão que, segundo sua contagem, deixou 22 mortos em suas fileiras.

Mas o partido no poder mostra-se inflexível e promete eliminar qualquer militância, excluindo dialogar com o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), principal partido de oposição.


"Não prevemos nenhuma negociação no momento", disse o ministro do Meio Ambiente, Hassan Mahmud, à AFP. "Nossa prioridade é formar um governo e conter a violência. Devemos eliminar a violência e a militância para permitir que a população respire", acrescentou.

Antes das eleições, a oposição pediu a renúncia do governo e a instauração de um executivo neutro e provisório que organize eleições, como foi feito no passado. Mas a primeira-ministra rejeitou a proposta.

"O governo deve declarar nulas e sem valor estas eleições e precisamos de um novo escrutínio organizado por um governo neutro", considerou Shamsher Chowdhury, vice-presidente do BNP, a principal das 21 formações opositoras do país.

O jornal New Age pediu nesta segunda-feira ao poder que alcance um compromisso, estimando que sua intransigência poderia acarretar ao país "a ira da comunidade e de organismos internacionais", que poderiam isolar Bangladesh econômica e diplomaticamente.

Embora não tenha sido divulgado nenhum número de participação eleitoral, um funcionário de alto escalão declarou que em Daca, a capital, havia alcançado apenas 22,8%.

Antes das eleições, os Estados Unidos, a Commonwealth e a União Europeia desistiram de enviar observadores, ao estimar que não eram reunidas as condições para eleições livres e transparentes.

Bangladesh viveu em 2013 o ano mais violento desde sua independência do Paquistão, em 1971.

Segundo uma ONG, 500 pessoas morreram de forma violenta desde janeiro de 2013, 150 delas desde outubro, quando a oposição lançou sua campanha de greves e manifestações para que as eleições fossem anuladas.

O principal partido islamita do país, Jamaat-e-Islami, foi proibido de participar das eleições de domingo.

Mas, paradoxalmente, alguns analistas afirmam que este movimento poderia ser o principal beneficiado da rivalidade entre a Liga Awami e o BNP.

"Ali onde a oposição é reprimida e marginalizada, ou inclusive enfraquecida, aparece o extremismo. Em nosso caso é o islamismo", adverte Ahsan H. Mansur, do grupo de análises Policy Research Institute.

*Atualizada às 14h03 do dia 06/01/2014
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