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Assembleia Geral da OEA termina sem resolução sobre Venezuela

Segundo o representante do México na OEA, não foi possível emitir uma declaração sobre a Venezuela por questões de "procedimento"

Protesto: "De que lado estão vocês, da história ou dos assassinos?!", gritou um deputado opositor (Carlos Jasso/Reuters)
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AFP

Publicado em 22 de junho de 2017 às 09h01.

A 47ª Assembleia Geral da OEA foi concluída nesta quarta-feira, na cidade mexicana de Cancún, sem que os países críticos do governo da Venezuela aprovassem uma resolução sobre a crise política que abala aquele país.

Os Estados Unidos junto com outras delegações, como a do anfitrião México, promoviam a criação do chamado "grupo de contato" que buscava mediar uma eventual negociação entre o governo e a oposição na Venezuela, em um momento em que a crise no país sul-americano piora após 82 dias de protestos e 74 mortes.

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"Já fechou a resolução de direitos humanos e não está incluído o grupo de contato", disse à imprensa o representante do México na OEA, Luis Alfonso de Alba, um dos principais patrocinadores dessa proposta.

O diplomata explicou que por questões de "procedimento", a última opção para emitir uma declaração sobre a Venezuela, que dominou a reunião no balneário mexicano de Cancún, era retomá-la no âmbito dos direitos humanos, mas não foi possível.

O chanceler mexicano, Luis Videgaray, admitiu que não houve uma resolução "como gostaríamos de ver, mas há uma mensagem muito clara, que deve ser ouvida nas ruas de Caracas (...), dirigida aos que estão na rua arriscando sua vida".

O encerramento da Assembleia Geral foi interrompido por um grupo de opositores venezuelanos, que entrou carregando uma bandeira da Venezuela aos gritos de "assassinos, assassinos".

"De que lado estão vocês, da história ou dos assassinos?!" - gritou o deputado opositor Luis Florido.

"Esta organização não respondeu à profunda crise na Venezuela. Enquanto vocês aqui discutem e contam votos, nós na Venezuela estamos contando mortos e balas", exclamou o deputado Carlos Vecchio.

Consulta aberta

De Alba disse que o caso da Venezuela agora só poderá ser retomado na chamada sessão de consulta de chanceleres que se mantém aberta após o encontro, embora não haja data para uma nova reunião.

Vinte países apoiaram na segunda uma resolução que contemplava este "grupo de contato", mas são requeridos 23 dos 34 votos e, por isso, não foi possível aprová-la.

Se fosse apresentada na Assembleia Geral, teriam bastado 18 votos, já que as decisões são tomadas por maioria simples.

Os críticos de Caracas conseguiram na segunda-feira o apoio de alguns países do Caricom, que reúne 14 votos e que nesta reunião foi fundamental para inclinar a balança do lado do governo de Maduro, que fornece petróleo em condições prioritárias.

De Alba ressaltou, entretanto, as "expressões majoritárias de preocupação pela situação" na Venezuela.

Tais inquietações se focam no chamado a uma Assembleia Constituinte por parte de Maduro, na violência nas manifestações e na situação da procuradora-geral, Luisa Ortega, chavista que surpreendentemente confrontou o governo e o poder judiciário pela violência nas ruas.

Na sessão de terça-feira houve um intenso lobby liderado pelos Estados Unidos, que queriam adotar pelo menos um passo "modesto" no caso da Venezuela.

Diante das críticas, a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, tachou os detratores de "tipo de cachorrinhos simpáticos ao império", enquanto os Estados Unidos advertiram que apenas uma invasão militar poderia impor o "grupo de contato", que qualificou como "inútil e desnecessário".

A Venezuela participa de sua última Assembleia Geral da OEA pois, em abril, anunciou a sua retirada do grupo, que se concretizará em dois anos.

Para neutralizar as propostas dos Estados Unidos e do México, Rodríguez apresentou 10 projetos de resolução que condenavam o muro fronteiriço que o presidente Donald Trump busca construir e a sua retirada do Acordo de Paris, enquanto para o México propôs uma condenação pelo desaparecimento dos 43 estudantes da escola de Ayotzinapa.

Os países críticos de Caracas fizeram repetidos chamados para que Maduro reconsiderasse a convocatória da Assembleia Constituinte, que libertasse os considerados "presos políticos", que acabasse com a "repressão", que estabelecesse um calendário eleitoral, que reconhecesse uma crise humanitária e que aceitasse a mediação do "grupo de contato".

Após o primeiro fracasso de segunda-feira, José Miguel Vivanco, diretor da Divisão das Américas da Human Rights Watch, advertiu que para a Venezuela seria um "triunfo" se despedir desta Assembleia Geral sem que tenha emitido uma resolução sobre a crise política por mínima que fosse.

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