Argentina: 5 sinais dos discursos dos candidatos que indicam os rumos do 2º turno
Sergio Massa e Javier Milei precisam atrair eleitores que não votaram neles para conquistar Presidência
Repórter de macroeconomia
Publicado em 23 de outubro de 2023 às 00h30.
Última atualização em 23 de outubro de 2023 às 00h30.
Após a divulgação dos resultados do primeiro turno das eleições na Argentina, neste domingo, 22, os três principais candidatos fizeram discursos, que sinalizam os rumos que a eleição deve tomar.
O segundo turno será disputado entre o atual ministro da Economia, Sergio Massa, que teve 36% dos votos, e o deputado ultraliberal Javier Milei, que alcançou 30%. A candidata de centro-direita, Patricia Bullrich, teve 23% dos votos e ficou de fora da disputa.
A seguir, cinco pontos das falas que chamaram a atenção por trazerem mensagens diretas, ou nem tanto, sobre como devem seguir as campanhas. A votação do segundo turno será em 19 de novembro.
1. Patricia Bullrich fez ataques ao governo e não deve apoiar Massa
"O populismo empobreceu o país, e não vou celebrar que chegue ao governo quem fez parte do pior governo da história da Argentina, que repartiu dinheiro e endividou ainda mais o país", discursou Bullrich
Em sua fala, ela fez diversos ataques ao governo do qual Massa faz parte, embora sem citar o nome do ministro. Ao mesmo tempo, praticamente não fez ataques a posições de Milei. A candidata também não parabenizou nenhum deles.
"Hoje aceitamos a derrota, mas temos convicção profunda de que os valores que levamos, da transparência, da luta contra a corrupção, que se deve abandonar o populismo para acabar com a pobreza", prosseguiu.
2. Milei fez muitos acenos ao partido de Bullrich
Milei discursou depois de Bullrich e repetiu parte dos ataques que ela fez ao governo atual. Inclusive disse uma frase muito parecida com uma dela, a de que os países que optam pelo populismo "se afundam na miséria".
Ele não disse o nome de Massa, mas fez ataques ao kirchnerismo, em referência aos Kirchner, que governaram a Argentina de 2003 a 2015, primeiro com Néstor e depois com Cristina, que atualmente é vice-presidente do país e parte do governo do qual Sergio Massa é ministro.
"Não podemos permitir que o kirchnerismo siga nos afundando. Dois terços [do eleitorado] votaram contra esse governo de delinquência", discursou Milei. Ele também defendeu que é hora de deixar o passado para trás, em um sinal de que pode querer esquecer dos ataques que fez a Bullrich durante a campanha.
Milei também saudou Jorge Macri, primo do ex-presidente Mauricio Macri, que disputará o segundo turno para a prefeitura de Buenos Aires, "contra o kircnherismo, como nós", ressaltou.
Durante a campanha, Milei se coloca como candidato antissistema, contra todos os políticos tradicionais, que ele chama de "casta". Assim, é curioso vendo ele citar o sobrenome de um ex-presidente como um possível aliado.
3. Massa discursou sozinho no palco
Último a discursar na noite, Sergio Massa falou em um palco vazio, com um telão que exibia a bandeira argentina. O vazio do cenário foi interpretado como um sinal claro de que Massa quer se distanciar de aliados do partido, incluindo o atual presidente, Alberto Fernández, e sua vice, Cristina Kirchner. Só ao final da fala alguns familiares se juntaram a ele.
Massa quer se mostrar como novidade: prometeu um novo governo a partir do dia 10 de dezembro, quando o novo presidente toma posse, quase como se não fosse parte da gestão atual.
Já a bandeira argentina ao fundo deixava claro que o ministro aposta em um discurso nacionalista. Ele defendeu que a Argentina é um grande país, apesar dos problemas atuais, em resposta indireta à Milei, que já disse várias vezes que aquele "é um país de m****".
4. Massa defende governo de união nacional
Em sua fala, a mais longa entre os três candidatos, Massa disse ainda que quer fazer um governo de união nacional. "Vamos chamar os melhores de cada área, independente da política", prometeu.
A ideia poderia abrir espaço para que políticos do Juntos por el Cambio, coligação de Bullrich, possam apoiá-lo em troca de cargos futuros, mas há dúvidas se a legenda teria interesse em participar de um futuro governo que começará com enormes problemas a resolver, como inflação anual de quase 140% e crise cambial profunda.
Em sua fala, Massa admitiu que o país passa por muitos problemas, em tom quase de pedido de desculpas, e defendeu que a saída da crise passa por manter direitos dos argentinos. Outra provocação a Milei, que defende o Estado mínimo e com menos benefícios sociais.
5. Milei fez o discurso mais empolgado da noite
Enquanto Massa discursou em tom sério, e um tanto monótono, na maior parte do tempo, e Patricia assumia a derrota, Milei falou em tom empolgado.
Ele buscou celebrar que, dois anos após criar um partido e entrar na política, conseguiu chegar ao segundo turno de uma disputa presidencial. "É uma conquista histórica. Há dois anos, se nos dissessem que estaríamos disputando um segundo turno contra o kirchnerismo, não acreditaria", comentou.
O discurso teve ainda gritos de guerra envolvendo palavrões, como é comum em seus eventos, e um tom de que tudo estava bem, apesar do fato de Milei ter estagnado e obtido praticamente o mesmo número de votos das primárias, sem ganhar novos eleitores.