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Após calma nos protestos, iraquianos voltam às ruas contra políticos

Desde terça-feira, o presidente iraquiano e o chefe do Parlamento estenderam várias vezes o prazo para nomear o novo chefe de governo

Iraque: o cargo de primeiro-ministro no Iraque é reservado aos xiitas (Abdullah Dhiaa al-Deeen/Reuters)
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AFP

Publicado em 22 de dezembro de 2019 às 11h49.

Após uma relativa calma, os manifestantes voltaram às ruas neste domingo (22) no Iraque contra os políticos incapazes de encontrar um novo primeiro-ministro que satisfaça todos os partidos, e também contra o Irã, determinado a manter sua influência no país.

Desde terça-feira, o presidente iraquiano Barham Saleh e o chefe do Parlamento, Mohammed al-Halbusi, estenderam várias vezes o prazo para nomear o novo chefe de governo.

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Neste domingo, no entanto, devem submeter à votação dos deputados o nome de um candidato.

Os manifestantes, porém, decidiram não esperar por nenhum anúncio. Milhares foram às ruas de Bagdá, especialmente na Praça Tahrir, e das cidades do sul.

"Halbusi, Bahram, chegou a hora!", gritaram, acusando-os de "procrastinar e violar a Constituição".

Além de reclamar dos atrasos na decisão sobre um novo líder de governo, os manifestantes denunciam a influência do Irã no poder de Bagdá, temendo que o candidato apoiado pelos iranianos, Qusai al-Suheil, acabe sendo primeiro-ministro.

"Mas é exatamente isso que rejeitamos: o controle iraniano sobre nosso país, que Qasem Soleimani dirija tudo", disse Tahrir Hueida, estudante de 24 anos, em referência ao general enviado pelo Irã para acompanhar o processo.

E no Iraque, houve poucas ocasiões em que, quando uma decisão importante foi tomada, Soleimani não estava por trás.

Homem "íntegro"

Para a formação do governo, o emissário de Teerã foi assistido por um líder libanês do Hezbollah para negociar com os partidos sunitas e curdos, cujo apoio é necessário para os xiitas obterem maioria no Parlamento.

O cargo de primeiro-ministro no Iraque é reservado aos xiitas.

Referindo-se ao presidente Saleh no Twitter, um deputado da oposição pediu que ele evitasse "mergulhar o país no caos sangrento, escolhendo uma figura que o povo já rejeitou".

Na Assembleia, a mais fragmentada da história recente do Iraque, alguns argumentaram que Saleh recorreu ao artigo 81 da Constituição, que o autoriza a decretar o cargo de primeiro-ministro vago e ocupá-lo de fato.

"Centenas de mártires caíram e ainda desconsideram nossas demandas", disse Muataz, estudante de 21 anos, na Praça Tahrir.

"Queremos um primeiro-ministro íntegro, mas eles nos trazem corruptos como eles, que vão deixar que nos roubem", acrescentou.

Desde 2003, mais da metade da receita do petróleo do Iraque acabou desviada em casos de corrupção, segundo dados oficiais.

Por outro lado, no sul, onde ocorreram semanas de desobediência civil e escolas e outros prédios administrativos foram fechados por "ordem do povo", estradas foram cortadas neste domingo pelos manifestantes, como a que leva ao porto de UmKasar, perto de Basra, vital para as importações.

Nos últimos três meses, essa revolta de natureza espontânea deixou cerca de 460 mortos, 25.000 feridos e dezenas de ativistas mortos ou sequestrados por "milícias", segundo a ONU.

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