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Apetite glutão por carne vermelha está na berlinda

Estudo sugere mudança de hábito à mesa para mitigar emissões e ajudar a combater as mudanças climáticas. Não significa renunciar à carne, mas conter excesso

Excesso: nos Estados Unidos, cada pessoa devora, em média, 160 quilos de carne em um ano (Creative Commons/ Joshua Bousel / Flickr.joshuabousel/Flickr)

Vanessa Barbosa

Publicado em 23 de julho de 2014 às 13h53.

São Paulo - Difícil resistir a um pedaço suculento de bife, não? Onipresente na dieta de muitos países, a carne vermelha tem um custo que passa despercebido na nota fiscal: o seu impacto no meio ambiente . Um novo estudo sugere que a mudança de hábitos alimentares pode ajudar a mitigar emissões de gases efeito estufa, vilões do aquecimento global .

Não se trata de renunciar à carne, mas de reduzir seu consumo, a começar em países conhecidos pelo apetite voraz. Nos Estados Unidos, por exemplo, cada pessoa consome, em média, 160 quilos de carne em um ano.

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Isso dá quase meio quilo de carne por dia, sendo que, para suprir as necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos, recomenda-se entre 100 e 120 gramas.

É o excesso que pesa no orçamento planetário, pressionando os recursos naturais.

Segundo o estudo, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, 60% das terras agrícolas do mundo são usadas para a produção de carne bovina e para o cultivo de grãos que servem de ração para os animais.

Estas práticas respondem por nada menos do que 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, além de demandarem grande quantidade de terra e serem fonte de poluição das águas por excesso de nutrientes (oriundos do esterco dos animais).

A pesquisa mostra uma nova escala dos danos. A carne vermelha exige 28 vezes mais terra do que para produzir a carne de porco ou frango, 11 vezes mais água e resulta em cinco vezes mais emissões responsáveis pelo aquecimento global.

Quando comparado com produtos como batata, trigo e arroz, o impacto da carne por caloria é ainda mais gritante — requer 160 vezes mais terra e produz 11 vezes mais gases de efeito estufa.

“A produção de alimentos à base de carne é uma forma importante e generalizada dos humanos impactarem o meio ambiente. Ajudar o consumidor a fazer escolhas que mitiguem alguns destes impactos deve ser uma prioridade socioambiental”, dizem os pesquisadores.

Berlinda climática

Em abril, uma outra pesquisa, feita pela Universidade de Tecnologia Chalmers, estimou que s emissões de gases de efeito de estufa provenientes da agropecuária podem ameaçar a meta climática da ONU de limitar o aquecimento global a 2ºC.

Segundo a pesquisa, o óxido nitroso e o gás metano, liberados pelas atividades no campo, podem dobrar até 2070, o que, por si só, já tornaria inviável cumprir a meta do clima.

A redução do consumo de carne vermelha, naturalmente, afetaria o número de ruminantes criados para alimentação no mundo, e vice-versa.

Em um estudo publicado em dezembro de 2013, na revista Nature Climate Change, cientistas sugeriram a redução da massa global de 3,6 bilhões de ruminantes, que hoje é 50 por cento maior do que aquela que percorria o planeta meio século atrás.

Segundo a pesquisa, o caminho para reduzir esse número seria através da implementação de algum tipo de sistema de impostos ou de comércio, como a redução dos subsídios governamentais para a produção de carne, o que alteraria os preços ao consumidor e afetaria os padrões de consumo.

Em entrevista ao britânico The Guardian , os autores afirmaram que "influenciar o comportamento humano é um dos aspectos mais desafiadores de qualquer política e é pouco provável que uma mudança na dieta em grande escala aconteça voluntariamente, sem incentivos".

Embora a redução das populações de animais se apresente como uma forma clara para mitigar as emissões do agronegócio global, os agricultores e proprietários de terras têm inúmeras outras oportunidades de mitigação, muitas das quais oferecem co-benefícios ambientais e até econômicos.

Relatório do Worldwatch Institute destaca o cultivo de árvores lenhosas e perenes em terra como forma de sequestrar carbono, ao mesmo tempo em que ajuda a restaurar os solos, reduzir a contaminação da água e fornecer benefícios para o habitat dos animais selvagens.

Algumas práticas podem até mesmo resultar em aumento de renda para os agricultores, através de programas "cap-and-trade", onde ao criar e conservar áreas plantadas, os agricultores poderiam comercializar licenças de emissões.

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