A história de 3 mulheres que se dedicaram às Farc
Na penitenciária de Chiquinquirá, no departamento de Boyacá, muitas ex-combatentes presas lembram que foram recrutadas quando ainda eram menores de idade
Da Redação
Publicado em 6 de julho de 2015 às 07h20.
Chiquinquirá - Com um nó na garganta e os olhos atentos, três antigas guerrilheiras das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ( Farc ), privadas de liberdade, contaram à Agência Efe a história de suas vidas com a intenção de deixar para trás um obscuro passado que lhes tirou a juventude e boa parte daquilo que mais queriam manter: a família.
Na penitenciária de Chiquinquirá, no departamento de Boyacá, muitas ex-combatentes presas lembram que foram recrutadas quando ainda eram menores de idade e se transformaram em vítimas de um conflito que já dura mais de 50 anos.
Laura (nome fictício), de 34 anos, por exemplo, contou que tinha 11 anos quando entrou para a guerrilha. Por vontade própria, ela decidiu se juntar às Farc depois que grupos paramilitares deram 24 horas para sua família deixar a casa onde morava. Apesar de ainda ser uma menina, com um ano de treinamento já sabia montar e desmontar um fuzil.
Ela esteve nas Farc por 18 anos, participou das tomadas de Mitú, na fronteira com o estado do Amazonas , e Miraflores, ambas em 1998, e foi evoluindo até fazer parte da equipe de segurança de "Mono Jojoy", chefe militar da guerrilha, morto em uma operação do governo em setembro de 2010. Seu fervor ideológico começou a diminuir quando seu próprio bando matou seu irmão, comandante de uma frente das Farc.
"Isso me desestabilizou porque é meu sangue, é minha família, é a pessoa que eu tinha para dividir, que sempre me escutava", conta.
Laura tinha outro irmão. Este "o exército matou", segundo ela.
A ex-guerrilheira ainda teve que enfrentar as Farc por ser contra uma das regras de ouro do movimento, que determina que as combatentes não podem ter filhos. Mas Laura não conseguiu abortar.
Outras companheiras não tiveram a mesma sorte e abortaram mais de uma vez em operações arriscadas realizadas por guerrilheiras enfermeiras que hoje não querem voltar a exercer a profissão.
"Se um homem (das Farc) engravida uma mulher civil, ela podia ter a criança, mas se uma mulher (guerrilheira) ficava grávida, faziam com que ela abortasse", afirmou Dilma (nome fictício), de 32 anos, que no próximo dia 11 completará 13 anos presa.
Criada no município de Solita, no departamento de Caquetá, Dilma foi tomada por um lugar sem lei.
"Só havia a guerrilha e o narcotráfico, e lá a lei é a guerrilha", explicou.
Um grupo paramilitar torturou e assassinou um de seus irmãos. Amedrontada, ela se alistou aos 16 anos nas Farc. Após ter a juventude marcada pela guerra, Dilma não quer mais ouvir falar em guerrilha.
"Lá é uma prisão pior do que aqui, onde pelo menos para fazer as suas necessidades fisiológicas você não precisa pedir permissão", justificou-se.
Uma história diferente é a de Sandra (nome fictício), de 35 anos, miliciana das Farc que tinha uma vida dupla em Neiva, capital do departamento do Huila.
"Trabalhava de segunda a sexta-feira em um escritório, estudava enfermagem à noite e, nos fins de semana, as Farc me convocava", lembrou.
Sandra trabalhava para um advogado cujos filhos ocuparam importantes cargos políticos, e sua missão era passar à guerrilha todas as informações possíveis.
As três guerrilheiras desmobilizadas acabaram de concluir um programa de integração à vida civil do Ministério da Justiça colombiano, que ofereceu apoio psicossocial e formação empresarial. Apesar de ainda precisarem cumprir alguns anos na cadeia, elas não perdem a esperança de terem uma vida nova.
Sandra sonha em montar uma loja de bichinhos de pelúcia. Dilma quer vender bolsas com seus irmãos, e Laura planeja ter um pequeno comércio de roupas. Mas o que as três mais desejam é reencontrar a família.
"A primeira coisa que quero fazer é abraçar minha filha e almoçar com todos os meus parentes em uma mesa redonda", concluiu Dilma.
Chiquinquirá - Com um nó na garganta e os olhos atentos, três antigas guerrilheiras das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ( Farc ), privadas de liberdade, contaram à Agência Efe a história de suas vidas com a intenção de deixar para trás um obscuro passado que lhes tirou a juventude e boa parte daquilo que mais queriam manter: a família.
Na penitenciária de Chiquinquirá, no departamento de Boyacá, muitas ex-combatentes presas lembram que foram recrutadas quando ainda eram menores de idade e se transformaram em vítimas de um conflito que já dura mais de 50 anos.
Laura (nome fictício), de 34 anos, por exemplo, contou que tinha 11 anos quando entrou para a guerrilha. Por vontade própria, ela decidiu se juntar às Farc depois que grupos paramilitares deram 24 horas para sua família deixar a casa onde morava. Apesar de ainda ser uma menina, com um ano de treinamento já sabia montar e desmontar um fuzil.
Ela esteve nas Farc por 18 anos, participou das tomadas de Mitú, na fronteira com o estado do Amazonas , e Miraflores, ambas em 1998, e foi evoluindo até fazer parte da equipe de segurança de "Mono Jojoy", chefe militar da guerrilha, morto em uma operação do governo em setembro de 2010. Seu fervor ideológico começou a diminuir quando seu próprio bando matou seu irmão, comandante de uma frente das Farc.
"Isso me desestabilizou porque é meu sangue, é minha família, é a pessoa que eu tinha para dividir, que sempre me escutava", conta.
Laura tinha outro irmão. Este "o exército matou", segundo ela.
A ex-guerrilheira ainda teve que enfrentar as Farc por ser contra uma das regras de ouro do movimento, que determina que as combatentes não podem ter filhos. Mas Laura não conseguiu abortar.
Outras companheiras não tiveram a mesma sorte e abortaram mais de uma vez em operações arriscadas realizadas por guerrilheiras enfermeiras que hoje não querem voltar a exercer a profissão.
"Se um homem (das Farc) engravida uma mulher civil, ela podia ter a criança, mas se uma mulher (guerrilheira) ficava grávida, faziam com que ela abortasse", afirmou Dilma (nome fictício), de 32 anos, que no próximo dia 11 completará 13 anos presa.
Criada no município de Solita, no departamento de Caquetá, Dilma foi tomada por um lugar sem lei.
"Só havia a guerrilha e o narcotráfico, e lá a lei é a guerrilha", explicou.
Um grupo paramilitar torturou e assassinou um de seus irmãos. Amedrontada, ela se alistou aos 16 anos nas Farc. Após ter a juventude marcada pela guerra, Dilma não quer mais ouvir falar em guerrilha.
"Lá é uma prisão pior do que aqui, onde pelo menos para fazer as suas necessidades fisiológicas você não precisa pedir permissão", justificou-se.
Uma história diferente é a de Sandra (nome fictício), de 35 anos, miliciana das Farc que tinha uma vida dupla em Neiva, capital do departamento do Huila.
"Trabalhava de segunda a sexta-feira em um escritório, estudava enfermagem à noite e, nos fins de semana, as Farc me convocava", lembrou.
Sandra trabalhava para um advogado cujos filhos ocuparam importantes cargos políticos, e sua missão era passar à guerrilha todas as informações possíveis.
As três guerrilheiras desmobilizadas acabaram de concluir um programa de integração à vida civil do Ministério da Justiça colombiano, que ofereceu apoio psicossocial e formação empresarial. Apesar de ainda precisarem cumprir alguns anos na cadeia, elas não perdem a esperança de terem uma vida nova.
Sandra sonha em montar uma loja de bichinhos de pelúcia. Dilma quer vender bolsas com seus irmãos, e Laura planeja ter um pequeno comércio de roupas. Mas o que as três mais desejam é reencontrar a família.
"A primeira coisa que quero fazer é abraçar minha filha e almoçar com todos os meus parentes em uma mesa redonda", concluiu Dilma.