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A estratégia democrata para conquistar uma cidade decisiva: ficar no telefone

Convencer eleitores a irem votar é parte importante da estratégia do comitê do partido em Erie, na Pensilvânia

Paul Allen, voluntário da campanha democrata em Erie, Pensilvânia (Rafael Balago/Exame)
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 18 de agosto de 2024 às 06h01.

Erie, Pensilvânia - A esquina das ruas State e 13th tem uma das vitrines mais decoradas da pacata cidade de Eire, no oeste da Pensilvânia, nos Estados Unidos. No entanto, o lugar ficou vazio por várias semanas e demorou a atrair o público.

Naquela esquina, fica o comitê democrata da cidade. Ali, cartazes de Kamala Harris, Joe Biden e de candidatos locais dividem as paredes e vidros com fotos dos ex-presidentes Barack Obama, Jonh Kennedy e até Franklin Roosevelt. O espaço é separado em duas partes. Na entrada, há uma recepção onde apoiadores democratas podem se inscrever como voluntários na campanha e pegar panfletos e placas para colocar no gramado do jardim, um item típico da política americana. Ao fundo, ficam caixas de materiais, uma TV enorme ligada na MSNBC e a mesa de Sam Talarico, chefe do partido na cidade.

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“Abrimos as portas em 3 de junho. Nas quatro ou cinco semanas seguintes, pouca coisa acontecia. As pessoas não apareciam muito para pegar materiais de campanha de Joe Biden”, conta Talarico, em conversa com a EXAME.

As coisas mudaram depois que Kamala Harris assumiu a candidatura, no fim de julho. "Adicionamos 80 voluntários nas últimas três semanas. As pessoas estão doando. Mais pessoas passaram a vir pegar materiais, umas 30 a 40 por dia", prossegue.

"A questão da idade era real. Biden fez um grande trabalho como presidente, mas ele não pode sair e fazer campanha duas ou três vezes por dia. A questão da idade era importante também para as pessoas, especialmente os jovens. Eles diziam: 'vou ficar em casa, porque esses dois caras velhos estão disputando. Mas agora Trump é o cara velho. A saída de Biden energizou os jovens, especialmente os que não estavam empolgados antes de Biden sair", diz.

Comitê Democrata em Eire

A EXAME visitou o local na terça, 13 de agosto, no começo da tarde. Em meia hora, cinco pessoas apareceram para retirar materiais, incluindo idosos que se moviam com dificuldade. Funcionários do escritório ajudavam a levar os materiais até o carro dos visitantes.

Uma questão, no entanto, incomodava: não havia placas com o nome da candidata Kamala Harris. O material ainda não havia sido entregue, e a opção era deixar nome e telefone em uma lista, para ser informado quando o item chegar.

Outra saída era levar placas de candidatos a cargos locais, como Ryan Bizzarro, que disputa o cargo de deputado estadual, e Jim Wertz, postulante ao Senado estadual da Pensilvânia.

Paul Allen, 65 anos, foi até ali se oferecer como voluntário. “Posso recolher assinaturas, registrar as pessoas para votar, e atender ao telefone. Mais perto da eleição, vou começar a ligar e pedir para as pessoas irem votar", planeja.

Homem negro e motorista de caminhão aposentado, ele mora em Eire desde 1993 e diz ver semelhanças entre as campanhas de Kamala e de Barack Obama. “Eu o apoiei em 2008, na campanha dele aqui, e a campanha é bem similar. Temos a chance de eleger a primeira mulher presidente deste país, e uma mulher negra. E é bom usar meu tempo livre para algo importante."

Tanto a equipe fixa da campanha quanto voluntários apostam na estratégia de "phone banking": telefonar para o máximo de eleitores, inclusive aos fins de semana, para tentar convencê-los a votar.

"É tudo em torno do contato com os eleitores. Para alguns eleitores, temos de ligar quatro ou cinco vezes, porque eles estão indecisos", diz Talarico.

Há ainda outras organizações na cidade que se dedicam a cadastrar eleitores. Nos Estados Unidos, o voto é opcional, e as pessoas precisam fazer o cadastro de forma voluntária. Ao se cadastrarem, precisam indicar um partido de preferência, embora não precisem votar nele depois.

"Os democratas em Eire têm uma vantagem no número de eleitores registrados, mas isso está encolhendo. A maioria das pessoas jovens hoje se registra como independente. Os independentes tendem a votar com os democratas. Então, embora tecnicamente no papel estejamos perdendo eleitores, quando as eleições chegam, temos mais independentes vindo para o nosso lado do que para os republicanos", diz.

Talarico espera que a defesa do direito ao aborto siga atraindo votos.

"A questão das escolhas reprodutivas tem sido forte para os democratas em 2020, 2022 e 2023. Tem realmente trazido as pessoas para a rua. Esperamos que isso também aconteça agora", diz. "Outra grande questão tem sido Donald Trump. Temos alguns republicanos que vem aqui e dizem 'o que eu posso fazer para me livrar de Trump?"

As pesquisas eleitorais mostram Kamala à frente na Pensilvânia, com 46,3%, ante 44,7% de Trump, segundo o agregador de pesquisas 538.

Cenas de Erie, na Pensilvânia

Porque a Pensilvânia é decisiva

A Pensilvânia é um estado decisivo nesta eleição. Quem vencer ali aumenta muito suas chances de conquistar a Presidência. No modelo americano, o vencedor de cada estado leva todos os votos daquele estado no Colégio Eleitoral, mesmo que a diferença seja mínima para o segundo colocado.

As pesquisas mostram um cenário de empate técnico entre Kamala e Trump. Assim, as duas campanhas investem forte lá. E Erie, uma cidade de 90 mil habitantes quase na fronteira com Ohio, tem um cenário também incerto, o que atrai mais investimentos de campanha.

Em um efeito dominó, conquistar Erie ajuda a levar a Pensilvânia toda e assim, a Casa Branca.

Talarico conta que a estratégia do partido é aproveitar o impulso trazido pela candidatura de Kamala para eleger mais democratas nas eleições locais, para cargos como deputado e senador estadual.

A cidade hoje é dominada por democratas na prefeitura e no conselho do condado, que cuida de outras cidades da região e pode ser comparado a uma câmara de vereadores.

O chefe do partido na cidade assumiu o cargo há oito meses, depois que Jim Wertz deixou o cargo para concorrer a senador estadual.

"Eu trabalhei para um candidato a senador estadual em 2020 e fiquei mais envolvido com o partido desde então, com telefonemas, circular pelos bairros e buscar eleitores. "Estou ficando velho, e agora tenho um trabalho interno. É muito mais trabalho, mas tem sido ótimo", comenta.

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