Manifestante joga uma bomba de gás lacrimogêneo contra a polícia em Caracas. (15/2/2014) (REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)
Guilherme Dearo
Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h59.
São Paulo – A Venezuela está vivenciando protestos violentos nas ruas da capital Caracas desde o começo de fevereiro.
Milhares bradam contra o governo e uma situação delicada: inflação, violência, escassez de produtos básicos.
No dia 12 de fevereiro, depois da morte de três manifestantes, a situação piorou.
Em sua maioria, são jovens estudantes antichavistas e querem a renúncia do presidente Nicolás Maduro, “filho” de Chávez – eleito democraticamente em 2013, mas com críticas sobre a isenção da campanha e da eleição em si.
O governo responde com a polícia nas ruas e a garantia de que tudo é uma tentativa de golpe.
Veja a seguir seis perguntas e respostas sobre os protestos:
1. Por que os venezuelanos estão protestando?
O fator comum entre todos os manifestantes é a insatisfação com o governo e a situação preocupante do país.
Uma ala está extravasando a sua indignação contida há tempos – maximizada com a morte de Hugo Chávez e o consequente “continuísmo piorado” de Maduro.
O desejo de mudar de presidente ou não foi consequência do andar dos protestos.
Já outra ala foi mobilizada pela oposição, desde o início, com objetivo claro de tirar Maduro do poder.
Eles querem que o presidente renuncie o quanto antes – seu mandato só acaba em 2019.
2. Quem são os manifestantes?
A maioria dos manifestantes são jovens estudantes.
Entre os líderes do grupo, está o oposicionista Leopoldo López, presidente do partido de direita Voluntad Popular.
Ele acusou o governo de promover a violência propositalmente nos protestos, com intuito de deslegitimar a luta.
López tem postado vídeos sobre os protestos.
Também lideram o movimento o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, também da oposição, e a deputada Maria Corina Machado.
Já Henrique Capriles, principal nome da oposição, criticou os rumos violentos dos protestos, mas não deixou de criticar Maduro pelas mortes.
3. Há pessoas a favor do governo?
Em resposta aos protestos, outros tantos venezuelanos estão saindo às ruas em apoio ao governo, gerando mais tensão.
No dia 12, enquanto milhares de venezuelanos contra Maduro se reuniam no centro de Caracas, outras tantos, vestidos de vermelho (a cor do governo), marchavam em prol da Venezuela.
Além da polícia venezuelana, há milícias pró-governo nas ruas, aumentando o risco de violência e caos.
4. Qual é a real situação do país?
O país vive um caos econômico.
A inflação já chega a 56% e desde o ano passado há escassez de produtos básicos como leite e papel higiênico.
Os preços dos alimentos, por exemplo, são os mais altos em 18 anos.
Maduro também aprovou leis impopulares. Uma, limita o lucro dos empresários a 30%.
Ele chama esse decreto-lei de “lei dos lucros justos”. Na prática, está acabando com a produtividade do comércio e da indústria.
Outra medida lhe concedeu, na prática, poderes absolutos. É a Lei Habilitante, aprovada em novembro de 2013.
Com ela, pode governar por decreto, criando leis e medidas sem necessitar da aprovação dos legisladores.
Segundo o governo, a medida serve para “estabelecer mecanismos estratégicos de luta contra as potências estrangeiras que queriam destruir a pátria no campo econômico, político e midiático”.
5. Como o presidente reagiu às manifestações?
Maduro tem reagido com truculência, colocando a polícia nas ruas. A morte de três pessoas mostra o tipo de embate entre civis e forças de segurança.
Segundo ele, os protestos são uma tentativa de “golpe de estado” e estão sendo levados por “fascistas”.
Ele decretou a prisão do opositor Leopoldo López. Como ele teria incitado as manifestações, o acusa de homicídio e terrorismo.
6. Como a comunidade internacional está reagindo?
O Mercosul já declarou apoio ao governo de Maduro, deixando claro que considera que grupos extremistas estão por trás da violência.
Em nota, o Mercosul disse rechaçar “as ações criminosas dos grupos violentos que querem disseminar a intolerância e o ódio na Venezuela como instrumento de luta política”.
Evo Morales, presidente da Bolívia e velho aliado da Venezuela, disse que o “imperialismo norte-americano” financia os jovens manifestantes.
Já a ONU pediu que o governo venezuelano investigasse as mortes de manifestantes e afirmou que estar "profundamente preocupada com a violência na Venezuela".