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5 ideias para reinventar cidades e pessoas

Pensadores e inovadores compartilham ideias de soluções sustentáveis e ações colaborativas para mudar o futuro das cidades durante o TEDx City 2.0

Visão de um globo em uma praça (Getty Images)

Visão de um globo em uma praça (Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h54.

São Paulo – “Essa cidade não tem jeito”. Se você mora em São Paulo ou em outro lugar com problemas comuns aos grandes centros urbanos já deve ter ouvido a frase em destaque, sempre proferida em tom de reprovação ou derrotista. Não precisar ser assim.

Pensadores e inovadores reunidos no TEDx City 2.0, nesta sexta, em SP, compartilharam ideias de soluções sustentáveis e ações colaborativas para mudar o futuro das cidades.

Como você enxerga sua cidade?

Como é possível mudar uma cidade, se seus habitantes só enxergam o que há de pior no lugar? Resgatar a autoestima das pessoas é o primeiro passo. E um caminho que cura. Âncora do programa CBN São Paulo, onde divulga iniciativas de melhorias para a cidade, a jornalista Fabíola Cidral aprendeu o valor desse pensamento quando fazia trabalho voluntário no Japão, em meio à destruição causada pelo terremoto e o tsunami de março de 2011.

Em Tóquio conheceu a senhora Tomoko, de 67 anos, dona de um semblante risonho. Curiosa, perguntou o segredo da disposição. “As pessoas não podem ficar tristes com a destruição, elas precisam mostrar na face a alegria de se reerguer”, respondeu a idosa. "É disso que cidades como São Paulo precisam", diz Fabíola, “da alegria das pessoas. É a força de transformar das pessoas que pode gerar mudanças".

Uma obra de arte coletiva em aberto

Como vamos ocupar o espaço público? Como vamos mantê-lo e como vamos usá-lo? Como “vamos” construir? As perguntas de Alexandre Delijaicov são sempre na primeira pessoa do plural. O professor da FAL-USP afirma que as “cidades são como obras de artes coletivas”. Mas uma obra que vive saques sucessivos ao seus espaços públicos.

“Os rios viraram canais de esgoto a céu aberto, emparedados por rodovias urbanas intransponíveis, pior que o muro de Berlim. Estamos abduzidos numa cidade de consumo inclemente, todo mundo hipnotizado”, diz. Sempre é tempo de recomeçar e fazer melhor.

Ele defende a criação do que chama de esquinas culturais, áreas de encontro, convivência e confiança. Não são guetos, mas áreas onde as diferenças convivem. “Nós precisamos transformar a condição humana para reverter o urbanismo “rodoviarista”, diz.

O que minha cidade tem de singular ?

Conexão, inovação e cultura. Eis um tripé capaz de gerar transformação. É a fórmula básica das chamadas cidades criativas, que têm a arte e a cultura como propulsoras de transformação urbana e social. “A cidade não é criativa, quem é criativo são os cidadãos”, afirma a economista e doutora em urbanismo Ana Carla Fonseca, mais conhecida como Cainha.


Diretora da Garimpo De Soluções, empresa pioneira em economia criativa e cidades criativas, ela destaca como a criatividade tem transformado problemas em soluções, começando pela inovação, que é a “capacidade de se reinventar”. Como uma antiga cadeia na Holanda que vira um hotel de luxo, ou como uma igreja abandonada no México que vira um teatro de marionete. Outro elemento é a cultura, “como a que vem sendo fortemente resgatada no Peru, com a valorização da gastronomia local e sua vocação”.

A conexão é outro dos pés. “Temos que resgatar bairros perdidos das cidades e religá-los”, sublinha, destacando que uma das coisas mais comuns de Londres é o passeio turístico London Walks (que conta a história da cidade, além de detalhes macabros, como os crimes cometidos por Jack, o Estripador). “Na Igreja de Santa Efigênia, em São Paulo tem marca de bala da Revolução de 1924. E não se conta essa história. As cidades precisam contar suas histórias”.

O carro do futuro será compartilhado

A cena se repete no trânsito de São Paulo, Recife, Paraná, onde quer que seja: o que se vê no carro, que anda-e-para-anda-e-para, é uma pessoa dirigindo e o vazio dos bancos restantes – ao menos, na maior parte do tempo. Este é um dos sinais da síndrome do “carrocentrismo”, como define o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP Ricardo Abramovay.

Adepto da bicicleta, ele diz que o carro influencia a forma como cidades são construídas. “Cerca de 25% de área privativa dos apartamentos é tomada pela garagem”, destaca. Hoje, segundo o professor, o carro é um bem cujo uso é contrário àquilo ao qual ele se destina, já que não oferece mais mobilidade.

“Nós tivemos uma evolução técnica impressionante, mas pra quê?”, questiona. Abramovay é entusiasta de uma tendência que, pouco a pouco, vem crescendo no mundo, o compartilhamento de carros. “Precisamos estimular o uso compartilhado do veículo”.

Acupuntura urbana

Você se sente plenamente adaptado à cidade onde vive? Se a reposta for sim, algo pode estar errado com você. Agora se insônias e ansiedade fazem parte do seu dia a dia, é sinal de que algo saudável quer se manifestar. Soa estranho esse pensamento? Não para o psicólogo e acupunturista Maurício Piragino.

“Nossas cidades são loucas. E podem ser muito desumanas”, afirma. “Se você viver 65 anos, você vai ter passado quase 7 anos parado no trânsito de São Paulo. É mais tempo do que tiramos de férias durante a vida toda de trabalhador”.

O remédio para resolver isso, diz Piragino é a participação, através, por exemplo dos conselhos participativos das subprefeituras. “Quando eu espeto uma agulha em alguém, eu crio um equilíbrio. Na vida em sociedade, a participação em comum tem o poder de transformar”, compara.

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