10 ameaças que pairam sobre o mundo em 2012
Crise na zona do euro, instabilidade no Oriente Médio e ameaças nucleares estão entre os fatores que prometem ter impacto mundial neste ano, segundo o Eurasia Group
Da Redação
Publicado em 23 de agosto de 2012 às 20h40.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h27.
São Paulo – Para quem acredita que o grande evento de 2012 será o fim do mundo, a consultoria Eurasia Group tem previsões pouco animadoras: “Simplesmente não vai acontecer. E, se acontecer, sentimos muito”, diz um relatório publicado hoje pela empresa. Piadas à parte, a consultoria produziu um relatório com os principais eventos que representam riscos ao globo em 2012. Crise na zona do euro , instabilidade no Oriente Médio e ameaças nucleares estão na lista de fatores que prometem ter impacto mundial no ano que começa. Confira, a seguir, a lista completa.
Com a morte de Osama bin Laden, a retirada das tropas americanas do Iraque e a definição de uma data para o fim da guerra no Afeganistão, o ano de 2011 marcou o fim da era 11 de setembro, segundo o Eurasia Group. De acordo com a consultoria, o fim da era do terror global representa o início de um período em que política e economia convergem quase que inteiramente. “A guerra ao terror está sendo substituída pelo temor pelo equilíbrio da economia global”, diz o relatório. “Os novos pesadelos são déficits crescentes, a crise da zona do euro e as relações econômicas com a China. Estes são os maiores riscos para a segurança nacional”. A política externa dos Estados Unidos já reflete essa tendência, segundo a consultoria. Dominada até então pelos impasses no Iraque e no Afeganistão, volta-se agora claramente para os países asiáticos – apesar da instabilidade no Oriente Médio –, onde está o motor do crescimento global.
A inabilidade ou falta de vontade das grandes potencias de assumir novos riscos e encargos – fenômeno batizado de “G-Zero” – ficará mais evidente em 2012, segundo a consultoria. O impacto disso pode ser potencialmente perigoso no Oriente Médio, em sua avaliação. “O Oriente Médio irá sediar outros potenciais conflitos em 2012. O G-Zero vai complicar os esforços para formar um novo governo na Líbia, salvar um estado falido no Iêmen e limitar conflitos no Bahrain. O Egito representa um risco à parte (detalhado à frente). O único caso recente em que os atores externos aceitaram sérios riscos e encargos para resolver um conflito na região foi a agressão da OTAN ao regime de Kadafi na Líbia. Isso só foi possível porque Kadafi havia alienado quase todo mundo na região. Em 2012, não há mais Kadafis no Oriente Médio. Paradoxalmente, isso é parte do problema”, escrevem os autores.
Com a impossibilidade de que os Estados Unidos entrem em cena para salvar a Europa da crise como fizeram em outras ocasiões – vide a crise do peso no México ou a crise do rublo na Rússia –, a economia global deve continuar instável ao longo deste ano, prevê a consultoria. Embora preveja que, no fim, o Banco Central Europeu salvará o dia, o relatório alerta que a falta de atitudes mais incisivas por partes dos líderes de cada país torna as soluções propostas para a Europa “mais difíceis, mais caras e menos eficientes”. “Ao longo de 2012, a zona euro vai continuar a lutar para alcançar sua solução autoprescrita e provavelmente irá evitar um evento que abale o sistema por completo. Mas os riscos de longo prazo não estão descartados. Mesmo que a Europa consiga chegar lá, os problemas econômicos subjacentes não serão eliminados. E toda essa incerteza aumenta o risco de curto prazo de recessão, que só pode piorar as coisas”, diz o relatório. Apesar disso, a consultoria não aposta no desmanche da zona do euro em 2012.
Apesar de também estarem sujeitos aos efeitos “paralisantes” do G-Zero, os Estados Unidos devem seguir no prumo até o final das eleições presidenciais, a consultoria prevê. No entanto, após a decisão nas urnas, os ânimos em Washington devem esquentar, já que o país terá que lidar com o problema da sua crescente dívida, tocando em pontos sensíveis, como cortes e impostos. “Empresas e investidores terão de enfrentar incertezas sobre os seus impostos e contratos governamentais, bem como o impacto dessas políticas sobre o crescimento econômico ao longo do ano. Com uma eleição que deve ser apertada até o fim, haverá sinais ao longo do caminho sobre como essas questões serão resolvidas, mas muito da discussão será apenas barulho. Empresas e investidores serão obrigados a esperar à margem da resolução ou expor-se a riscos significativos. Isso é problemático para a confiança dos investidores e pode amortecer o crescimento econômico”, apontam os autores.
A transição de poder na Coréia do Norte pode parecer estar transcorrendo bem, mas a consultoria alerta que a distância com que os analistas acompanham a situação representa um risco. Sem grande experiência no governo, o jovem Kim Jong-un terá que consolidar seu poder e não será surpresa se o país adotar atitudes externas “provocativas” nos próximos meses para demonstrar que o governo está firme no poder. Conflitos internos também podem emergir neste período, complicando o cenário, alerta a consultoria. “É como dizem sobre empresas familiares: a primeira geração constrói, a segunda mantém, a terceiro destrói”, diz o relatório. No pior cenário, se o governo degringolar rapidamente, Estados Unidos e Coréia seguiriam para o Norte para garantir a segurança das instalações nucleares da Coréia do Norte, enquanto a China mandaria forças pelo rio Yalu para bloquear fluxos de refugiados e restabelecer a segurança básica, criando potencial para conflitos inesperados, já que Estados Unidos e Chinas não têm planos conjuntos de contingência. Afinal de contas, China e Estados Unidos estão de lados opostos na política de segurança que divide a Ásia, um problema que só vai crescer em 2012”, complementam os autores.
O ano de 2012 pode ser o mais instável para o Paquistão nos últimos 40 anos, desde que Bangladesh se separou do país, na avaliação da consultoria. Turbulência políticas internas, crise econômica e a saída dos Estados Unidos do Afeganistão podem complicar o cenário. “A instabilidade interna está crescendo, com as tensões entre civis e militares se agravando. Os extremistas continuam a expandir sua presença em regiões centrais do país e uma grave crise econômica deixa o governo incapaz de fornecer serviços públicos essenciais [...]. O Paquistão não caminha para a falência do estado, mas o risco de instabilidade política grave e ainda mais interferência militar no governo é crescente”, diz o estudo.
A China continua sendo o principal motor para o crescimento na Ásia, mas as tensões persistentes entre o país e os Estados Unidos podem atrapalhar a situação em toda a região, alerta a consultoria. As crescentes provações do governo chinês, na forma de políticas externas controversas, podem forçar países vizinhos a tomar posição e complicar toda a economia asiática, diz o relatório. “Há um alto risco de que Pequim irá produzir surpresas desagradáveis na política externa este ano, dado o crescente nacionalismo no país, a transição política em curso e a falta de vontade, e talvez, capacidade das lideranças resolverem debates internos sobre o papel da China no mundo. Pequim estará, portanto, mais propensa a responder provocação com provocação nos próximos meses, usando tanto seu poder naval quanto econômico. Uma dura resposta chinesa a um incidente no mar envolvendo um aliado americano seria um teste significativo para a administração Obama, que teria que ceder a pressões eleitorais para dar uma resposta igualmente dura, somando-se às tensões já significativas em outras questões”, diz o documento.
As crescentes tensões entre o conselho militar que governa o país e manifestantes islâmicos e secularistas podem resultar em “desintegração política” em 2012, alerta o Eurasia Group, colocando em risco a transição de poder. O agravamento da dissidência entre a elite militar e os representantes populares pode colocar em risco o apoio externo e abalar o setor de turismo, fundamental para o país. “O conselho militar governante está se tornando mais rígido e mais agressivo. Eles veem os ativistas como ameaça e procuram ignorar suas demandas para limitar as mudanças. Mas, apesar de sua parceria informal com a poderosa Irmandade Muçulmana, os militares parecem incapazes de neutralizar a aliança rejuvenescida entre manifestantes islâmicos e secularistas sem recorrer à violência. Isso vai minar a popularidade dos militares e endurecer o movimento de protesto – polarizando a política em um momento crítico”.
Uma eleição no final do ano vai ampliar a dissonância política no país, justamente em um momento em que o país tenta provar sua ascendência econômica. Ter que apelar ao sentimento popular para manter o poder poderá colocar os planos de crescimento do governo em risco. “A conferência política do ANC [partido governante] vai aumentar as pressões populistas ainda mais, com resoluções buscando reafirmar uma mudança política para a esquerda. Estas irão incluir pelo menos algum apoio para a nacionalização das minas, que vai gerar muitas manchetes, mesmo que seja pouco provável a adoção da medida. Não é um desastre total; há limites para a tendência populista. Mas 2012 provavelmente infligirá danos permanentes na formulação de políticas e instituições, e é quase certamente um ano perdido”.