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Brasileiros invadem Miami em busca de imóveis com alta do real

A disparada nos preços do mercado no Brasil está levando brasileiros a procurarem barganhas no sul da Flórida, em imóveis para férias e investimentos imobiliários

Desde janeiro, os brasileiros compraram metade dos apartamentos vendidos a estrangeiros por mais de US$ 500.000 na área central de Miami (Ali Seifert/ Stock Exchange)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2011 às 21h41.

Nova York/São Paulo - Frederico Azevedo chegou à Flórida em busca de uma segunda moradia. Ele saiu com três, gastando US$ 300.000 e US$ 500.000 em apartamentos em duas torres em Miami, e US$ 1 milhão por uma unidade no resort Trump International, perto de Sunny Isles.

“Comprei um para usar como casa de férias e os outros dois como investimentos”, disse Azevedo, de 39 anos, presidente da Construtora Altana Ltda, uma incorporadora imobiliária, em entrevista por telefone de seu escritório em São Paulo. “Miami é na verdade muito barato em comparação com os preços aqui.”

A disparada nos preços do mercado imobiliário no Brasil e o ganho acumulado de 45 por cento do real em relação ao dólar desde 2008 estão levando brasileiros a procurarem barganhas no sul da Flórida, em imóveis para férias e investimentos imobiliários. Esse movimento estimula a expansão do mercado de apartamentos de Miami, com aumento de 92 por cento nas vendas dos primeiros quatro meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2010, segundo dados da Associação de Corretores da Flórida.

Na região de Miami, os brasileiros compraram 9 por cento das casas e apartamentos vendidos a estrangeiros nos 12 meses até março de 2010, perdendo apenas para canadenses e venezuelanos, segundo a Associação de Corretores de Miami. Desde então, “sinais preliminares apontam para um aumento significativo”, disse Lynda Fernandez, porta-voz da associação.

Desde janeiro, os brasileiros compraram metade dos apartamentos vendidos a estrangeiros por mais de US$ 500.000 na área central de Miami, e por mais de US$ 1 milhão em Miami Beach, disse Craig Studnicky, presidente da International Sales Group LLC, empresa de marketing imobiliário sediada em Aventura, na Flórida.

‘Força predominante’

“O ritmo crescimento é geométrico,” disse ele sobre a demanda brasileira. “No próximo ano, com certeza será a força predominante.”

A alta do real sobre o dólar desde o começo de 2009 é a maior entre as 25 moedas de países emergentes acompanhadas pela Bloomberg. A economia do País, a maior da América Latina, cresceu 4,2 por cento no primeiro trimestre deste ano. Em comparação, nos Estados Unidos a expansão foi de 2,3 por cento no mesmo período.

O maior crescimento em duas décadas e a aceleração da inflação levaram São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília a serem mais caras do que qualquer cidade dos EUA, segundo uma pesquisa da ECA International, empresa de recursos humanos sediada em Londres. Estima-se que os preços de moradias no País subiram 25 por cento nos 12 meses encerrados em maio, sendo que no Rio de Janeiro a alta foi de 44 por cento, disseram os analistas do JPMorgan Chase & Co., Adrian E. Huerta, de Nova York, Marcelo Motta e Marina Mansur, de São Paulo, em relatório de 15 de junho.


“A elevação dos preços vai se sustentar?”, escreveram os analistas. “Bom, nós ainda não vemos nenhuma desaceleração no aumento dos preços de moradias.”

EUA em baixa

Nos EUA, os preços de moradias caíram para os níveis de 2003, depois que a onda de execuções de hipotecas reduziu o valor de mercado dos imóveis e o desemprego passou a oscilar ao redor de 9 por cento. Imóveis na região de Miami estão 51 por cento mais baratos do que a máxima de dezembro de 2006, segundo o índice S&P/Case-Shiller. Só Las Vegas e Phoenix tiveram quedas maiores de preços.

No bairro do Leblon, no Rio, o preço médio dos apartamentos é de US$ 11.388 o metro quadrado, segundo o Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro. Em South Beach, o preço médio do foi de US$ 3.810 o metro quadrado no primeiro trimestre deste ano, de acordo com a Condo Vultures LLC, corretora e consultora imobiliária sediada em Bal Harbour, na Flórida.

“Cinco anos atrás, era o oposto”, disse Studnicky em entrevista por telefone. “Em Miami o preço variava entre US$ 5.000 e US$ 10.000 o metro quadrado. No Rio, entre US$ 3.000 e US$ 5.000. A situação se inverteu completamente.”

Novos empreendimentos

Os corretores de Miami estão aprendendo o “portunhol”, que os brasileiros conseguem entender, disse Peter Zalewski, diretor da Condo Vultures. Ele perdeu três de seus funcionários que falavam português para comcorrentes. “Outras corretoras os roubaram por que queriam entrar no mercado”, disse Zalewski.

Incorporadoras construíram prédios e converteram outros em edifícios residenciais, oferecendo 49.000 apartamentos na área leste da área metropolitana de Miami entre 2003 e 2008, na bolha imobiliária que estourou quando o crédito desapareceu.

O número de unidades à venda caiu para 27.700 em 13 de junho, contra 60.900 em novembro de 2008, segundo a Condo Vultures.

Agora, eles se preparam para construir novamente de olho nos compradores da América Latina. Em 9 de junho, a Condo anunciou parceria para vender novos apartamentos da Related Group of Florida, maior construtora de condomínios do estado com sede em Miami.

Seis projetos

A Related, fundada por Jorge M. Perez, que teve perdas contábeis de US$ 1 bilhão em 2008, planeja usar pagamentos de entrada dos compradores latino-americanos, que costumam dar um sinal de 50 por cento na compra e financiar o restante, como recursos para construir seis projetos com 1.500 unidades, disse Studnicky. A construção, com custo previsto entre US$ 600 milhões e US$ 800 milhões, começará até 2013, disse ele.

Mesmo que leve alguns anos para que bancos americanos voltem a financiar o setor de construção em Miami, os compradores brasileiros aproveitam as oportunidades atuais, disse Paulo Tavares de Melo, diretor imobiliário da Integra Solutions LLC, fundo para brasileiros de alta renda que investem em propriedades na Flórida. A Integra pagou US$ 12 milhões em abril na incorporação de um terreno de 1,2 hectare na área central de Miami, com autorização para até 920 apartamentos e 9.300 metros quadrados de espaço comercial.


‘Muito Dinheiro’

“O fato é que há muito dinheiro no Brasil”, disse Melo, cuja família enriqueceu com negócios do setor de de cana-de- açúcar e etanol, em entrevista por telefone de Miami, onde ele mora desde 2001. “Há mais interesse em Miami do que em Nova York por causa dos preços, e pela percepção de que os preços já caíram bastante.”

A Coelho da Fonseca Empreendimentos Imobiliários Ltda., corretora sediada em São Paulo, criou uma divisão internacional em maio, para ajudar brasileiros a comprarem propriedades nos EUA, principalmente em Miami.

“A oportunidade que chama os brasileiros é a chance de comprar um apartamento em um dia e alugar no outro”, disse Gabriela Duva, diretora da nova divisão da Coelho da Fonseca, em entrevista por telefone de Nova York. “Mesmo os que compram para férias, também acabam alugando quando não estão usando.”

O entusiasmo dos brasileiros pode ter fim se a moeda ou o valor das propriedades seguirem em direções opostas, disse José Augusto Pereira Nunes, dono na Algebra Realty, com sede em Miami.

Maré e ventos

“Hoje a maré e os ventos estão a favor dos brasileiros, a maré sendo o câmbio e os ventos os preços em Miami”, disse Nunes, que mudou para Flórida há 25 anos, em entrevista por telefone. “Se faltar um desses, a demanda cai.”

No Brasil, o governo vem adotando medidas desde o fim do ano passado para conter a valorização do real.

Robert Shiller, professor d economia da Yale University e co-criador dos índices S&P/Case-Shiller, disse que os preços dos imóveis nos EUA podem cair ainda mais. Isso indica que este pode não ser o melhor momento para comprar.

“Uma queda adicional de 10 a 25 por cento nos preços de moradias nos próximos, talvez, cinco anos não me surpreenderia de jeito nenhum”, disse Shiller em uma conferência em Nova York em 9 de junho.

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Nova York/São Paulo - Frederico Azevedo chegou à Flórida em busca de uma segunda moradia. Ele saiu com três, gastando US$ 300.000 e US$ 500.000 em apartamentos em duas torres em Miami, e US$ 1 milhão por uma unidade no resort Trump International, perto de Sunny Isles.

“Comprei um para usar como casa de férias e os outros dois como investimentos”, disse Azevedo, de 39 anos, presidente da Construtora Altana Ltda, uma incorporadora imobiliária, em entrevista por telefone de seu escritório em São Paulo. “Miami é na verdade muito barato em comparação com os preços aqui.”

A disparada nos preços do mercado imobiliário no Brasil e o ganho acumulado de 45 por cento do real em relação ao dólar desde 2008 estão levando brasileiros a procurarem barganhas no sul da Flórida, em imóveis para férias e investimentos imobiliários. Esse movimento estimula a expansão do mercado de apartamentos de Miami, com aumento de 92 por cento nas vendas dos primeiros quatro meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2010, segundo dados da Associação de Corretores da Flórida.

Na região de Miami, os brasileiros compraram 9 por cento das casas e apartamentos vendidos a estrangeiros nos 12 meses até março de 2010, perdendo apenas para canadenses e venezuelanos, segundo a Associação de Corretores de Miami. Desde então, “sinais preliminares apontam para um aumento significativo”, disse Lynda Fernandez, porta-voz da associação.

Desde janeiro, os brasileiros compraram metade dos apartamentos vendidos a estrangeiros por mais de US$ 500.000 na área central de Miami, e por mais de US$ 1 milhão em Miami Beach, disse Craig Studnicky, presidente da International Sales Group LLC, empresa de marketing imobiliário sediada em Aventura, na Flórida.

‘Força predominante’

“O ritmo crescimento é geométrico,” disse ele sobre a demanda brasileira. “No próximo ano, com certeza será a força predominante.”

A alta do real sobre o dólar desde o começo de 2009 é a maior entre as 25 moedas de países emergentes acompanhadas pela Bloomberg. A economia do País, a maior da América Latina, cresceu 4,2 por cento no primeiro trimestre deste ano. Em comparação, nos Estados Unidos a expansão foi de 2,3 por cento no mesmo período.

O maior crescimento em duas décadas e a aceleração da inflação levaram São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília a serem mais caras do que qualquer cidade dos EUA, segundo uma pesquisa da ECA International, empresa de recursos humanos sediada em Londres. Estima-se que os preços de moradias no País subiram 25 por cento nos 12 meses encerrados em maio, sendo que no Rio de Janeiro a alta foi de 44 por cento, disseram os analistas do JPMorgan Chase & Co., Adrian E. Huerta, de Nova York, Marcelo Motta e Marina Mansur, de São Paulo, em relatório de 15 de junho.


“A elevação dos preços vai se sustentar?”, escreveram os analistas. “Bom, nós ainda não vemos nenhuma desaceleração no aumento dos preços de moradias.”

EUA em baixa

Nos EUA, os preços de moradias caíram para os níveis de 2003, depois que a onda de execuções de hipotecas reduziu o valor de mercado dos imóveis e o desemprego passou a oscilar ao redor de 9 por cento. Imóveis na região de Miami estão 51 por cento mais baratos do que a máxima de dezembro de 2006, segundo o índice S&P/Case-Shiller. Só Las Vegas e Phoenix tiveram quedas maiores de preços.

No bairro do Leblon, no Rio, o preço médio dos apartamentos é de US$ 11.388 o metro quadrado, segundo o Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro. Em South Beach, o preço médio do foi de US$ 3.810 o metro quadrado no primeiro trimestre deste ano, de acordo com a Condo Vultures LLC, corretora e consultora imobiliária sediada em Bal Harbour, na Flórida.

“Cinco anos atrás, era o oposto”, disse Studnicky em entrevista por telefone. “Em Miami o preço variava entre US$ 5.000 e US$ 10.000 o metro quadrado. No Rio, entre US$ 3.000 e US$ 5.000. A situação se inverteu completamente.”

Novos empreendimentos

Os corretores de Miami estão aprendendo o “portunhol”, que os brasileiros conseguem entender, disse Peter Zalewski, diretor da Condo Vultures. Ele perdeu três de seus funcionários que falavam português para comcorrentes. “Outras corretoras os roubaram por que queriam entrar no mercado”, disse Zalewski.

Incorporadoras construíram prédios e converteram outros em edifícios residenciais, oferecendo 49.000 apartamentos na área leste da área metropolitana de Miami entre 2003 e 2008, na bolha imobiliária que estourou quando o crédito desapareceu.

O número de unidades à venda caiu para 27.700 em 13 de junho, contra 60.900 em novembro de 2008, segundo a Condo Vultures.

Agora, eles se preparam para construir novamente de olho nos compradores da América Latina. Em 9 de junho, a Condo anunciou parceria para vender novos apartamentos da Related Group of Florida, maior construtora de condomínios do estado com sede em Miami.

Seis projetos

A Related, fundada por Jorge M. Perez, que teve perdas contábeis de US$ 1 bilhão em 2008, planeja usar pagamentos de entrada dos compradores latino-americanos, que costumam dar um sinal de 50 por cento na compra e financiar o restante, como recursos para construir seis projetos com 1.500 unidades, disse Studnicky. A construção, com custo previsto entre US$ 600 milhões e US$ 800 milhões, começará até 2013, disse ele.

Mesmo que leve alguns anos para que bancos americanos voltem a financiar o setor de construção em Miami, os compradores brasileiros aproveitam as oportunidades atuais, disse Paulo Tavares de Melo, diretor imobiliário da Integra Solutions LLC, fundo para brasileiros de alta renda que investem em propriedades na Flórida. A Integra pagou US$ 12 milhões em abril na incorporação de um terreno de 1,2 hectare na área central de Miami, com autorização para até 920 apartamentos e 9.300 metros quadrados de espaço comercial.


‘Muito Dinheiro’

“O fato é que há muito dinheiro no Brasil”, disse Melo, cuja família enriqueceu com negócios do setor de de cana-de- açúcar e etanol, em entrevista por telefone de Miami, onde ele mora desde 2001. “Há mais interesse em Miami do que em Nova York por causa dos preços, e pela percepção de que os preços já caíram bastante.”

A Coelho da Fonseca Empreendimentos Imobiliários Ltda., corretora sediada em São Paulo, criou uma divisão internacional em maio, para ajudar brasileiros a comprarem propriedades nos EUA, principalmente em Miami.

“A oportunidade que chama os brasileiros é a chance de comprar um apartamento em um dia e alugar no outro”, disse Gabriela Duva, diretora da nova divisão da Coelho da Fonseca, em entrevista por telefone de Nova York. “Mesmo os que compram para férias, também acabam alugando quando não estão usando.”

O entusiasmo dos brasileiros pode ter fim se a moeda ou o valor das propriedades seguirem em direções opostas, disse José Augusto Pereira Nunes, dono na Algebra Realty, com sede em Miami.

Maré e ventos

“Hoje a maré e os ventos estão a favor dos brasileiros, a maré sendo o câmbio e os ventos os preços em Miami”, disse Nunes, que mudou para Flórida há 25 anos, em entrevista por telefone. “Se faltar um desses, a demanda cai.”

No Brasil, o governo vem adotando medidas desde o fim do ano passado para conter a valorização do real.

Robert Shiller, professor d economia da Yale University e co-criador dos índices S&P/Case-Shiller, disse que os preços dos imóveis nos EUA podem cair ainda mais. Isso indica que este pode não ser o melhor momento para comprar.

“Uma queda adicional de 10 a 25 por cento nos preços de moradias nos próximos, talvez, cinco anos não me surpreenderia de jeito nenhum”, disse Shiller em uma conferência em Nova York em 9 de junho.

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