“A cidade do futuro já está construída”: por que especialistas defendem o retrofit
Método de revitalização foi tema de painel do evento SOMA, do Instituto Mulheres do Imobiliário
Repórter de Invest
Publicado em 16 de agosto de 2024 às 14h42.
Mais que uma reforma, o termo “ retrofit ” é usado no mercado imobiliário como sinônimo para revitalização e modernização de um edifício já construído – muitas vezes para adequar a estrutura a padrões atuais de eficiência e segurança. O modelo é a saída ideal para que os especialistas chamam de “esgotamento construtivo”: cidades que já alcançaram todo seu potencial e não tem mais para onde crescer.
Muito utilizado nas milenares cidades europeias, o retrofit ainda não é tão proeminente nas metrópoles brasileiras – que são mais jovens e costumam ter espaço para desenvolvimento imobiliário. Ainda assim, especialistas apontam que o retrofit é um recurso indispensável para o futuro de qualquer cidade. O motivo? A busca pela sustentabilidade.
“A cidade do futuro já está construída. Cada vez mais as indústrias – inclusive construção civil e mercado imobiliário – passam a ter que trabalhar com o que já existe, com regeneração produtiva”, afirmou Pedro Ichimaru, sócio da Somauma, incorporadora focada em retrofit. A declaração foi dada em painel do evento SOMA, do Instituto Mulheres do Imobiliário, realizado nesta quinta-feira, 15. “Precisamos pensar, enquanto sociedade, o que vamos fazer com todos os recursos que já extraímos da natureza.”
Bruna Alcine, arquiteta do escritório Triptyque, também reforçou o ganho em sustentabilidade trazido pelos projetos de retrofit no momento da obra. “Para arquitetura é muito interessante, porque a produção de descarte de uma obra nova não é a mesma que de um retrofit. Manter a estrutura do prédio traz um impacto muito menor.”
No Brasil, os centros das grandes capitais são ideais para projetos de retrofit por serem adensados e com muitos edifícios ociosos após processo de desvalorização. A Somauma atua com retrofit no centro de São Paulo e tem no edifício Virgínia um de seus projetos mais emblemáticos. Inaugurado em 1951, o prédio foi encomendado pela família Matarazzo e acabou abandonado com a derrocada da região central da cidade a partir da década de 1970. A incorporadora adquiriu o edifício em 2020 e as unidades já estão 80% vendidas – a obra termina no próximo ano. “É um ganha-ganha: o edifício é revitalizado e o meio-ambiente sai beneficiado pela redução da pegada de carbono”, explicou o sócio da incorporadora.
Existem oportunidades também fora dos centros. Para Vasco Rodrigues, presidente da construtora Fator Realty, a maior delas está no Rio de Janeiro, uma cidade “espremida entre o morro e o mar”. A Zona Sul é a mais valorizada da capital fluminense e está praticamente toda ocupada. “Temos pouco espaço para desenvolvimento, então é preciso ter muita criatividade e cuidado.”
Rodrigues destaca o empreendimento First — Life Friendly, no bairro de Humaitá, como um dos maiores exemplos de retrofit da empresa na Zona Sul carioca. Com vista para o Corcovado, o prédio conta com área de lazer completa e plantas modernas de apartamentos sob a estrutura do prédio inaugurado nos anos 1970. “O retrofit é um caminho sem volta. As cidades estão cada vez mais maduras e sem oportunidades de desenvolvimento.”
O incorporador reforça, no entanto, que existem alguns casos à parte. Um deles é a própria cidade de São Paulo. Embora abrigue projetos de retrofit no centro, a capital paulista segue se expandindo horizontalmente: a topografia da cidade permite expansão de terrenos e não há sinais de queda na oferta. “Nem todas as cidades são assim. Então precisamos nos acostumar com o retrofit. Ele chegou para ficar e vai crescer cada vez mais.”