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Quando o líder dificulta a inovação?

Danilo Nogueira explica por que o líder reforça a hierarquia e dificulta a inovação quando diz para não lhe trazerem problemas

Bons líderes deveriam ter ouvidos e olhos muito abertos para entender os problemas da organização (Klaus Vedfelt/Getty Images)

Publicado em 29 de maio de 2024 às 15h00.

Não é incomum ouvirmos CEOs e líderes das organizações dizerem em alto e bom som aos seus liderados para não lhes trazerem problemas: “Resolvam e só me tragam soluções”. A intenção é de empoderar e dar autonomia aos times, mas os efeitos colaterais desse comportamento podem ser muito mais danosos com impacto na hierarquia e na capacidade de inovação da empresa.

Problemas de negócios surgem todos os dias nas agendas da liderança. Eles são parte da rotina e, mais do que isso, parte importante do crescimento. Toda inovação começa resolvendo um problema relevante do cliente (externo ou interno). Não é à toa que temos ouvido start-ups falando que é preciso se apaixonar pelo problema e não pelo seu produto.

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Parece, então, contraditório que o líder peça para não lhe trazerem problema algum, e o é. Bons líderes deveriam ter ouvidos e olhos muito abertos para entender os problemas da organização a fundo. Cada um deles oferece uma oportunidade de melhoria e de fazer diferente. De ganhar eficiência operacional ou de se criar vantagem competitiva.

Se os problemas não atravessam a hierarquia e não chegam ao CEO ou ao C-Level das organizações teremos, então, uma liderança míope, que não entende o que realmente acontece no dia a dia da sua empresa. Sem entender a dificuldade de uma área ou de um cliente, fica ainda mais distante da capacidade de inovar e de oferecer soluções.

Outro efeito colateral é ainda pior. Ao dizer para os liderados só levarem soluções, a liderança incentiva que os problemas sejam escondidos ou minimizados. Reforça-se a hierarquia e a gestão do medo. A equipe tem receio de que a verdade, com todas as suas imperfeições, seja mostrada ao seu CEO, tem receio de ser vulnerável e, aí, trabalha não para solucionar o problema, mas para mascará-lo. Tem-se aí o quadro perfeito para que a diretoria seja a parte mais desinformada da empresa - e com o risco de entrar em problemas mais sérios de compliance. Em empresas altamente hierarquizadas e baseadas no medo, o CEO é o último a saber a verdade.

Trabalho há muito tempo na indústria alimentícia. E, ao longo de décadas, já vi muita equipe de vendas “preparar o ponto de venda” para a visita da diretoria. Chega o diretor na loja para ver as gôndolas do supermercado que estão perfeitas com abastecimento pleno do seu produto. Tudo arrumado e bem exposto. Pena que a foto perfeita da execução de vendas seja só ali.

No supermercado vizinho, e fora da rota da visita, tem-se toda a sorte de problemas: ruptura de produto, o preço errado, a exposição tímida ou errada na gôndola. Não por falta de capricho do time, mas porque a operação traz desafios ao longo da sua cadeia.

Costumo dizer à minha equipe que toda vez que eles “preparam a visita para a diretoria” perdemos duplamente. Perdem eles o tempo gasto de preparar tudo para que eu veja uma perfeição que não existe na realidade. Perco eu que ficarei míope e não poderei ajudá-los a solucionar as barreiras reais da operação.

Como sair dessa cilada? Comece construindo confiança com seus times. Ninguém quer compartilhar problemas e imperfeições com alguém em quem não confia. Sem ambiente de confiança não existe negócio. Mas isso não basta. É preciso que o líder abrace os problemas, não atire no mensageiro e investigue as causas junto com quem vive os dilemas na operação.

Abra canais de escuta em diferentes níveis na organização, transite pela empresa, ouça diretamente dos clientes e fale com seu time frequentemente (não só com seus diretos, mas sem desrespeitá-los, obviamente). E, finalmente, radar ligado para amplificar aquela reclamação sutil e disfarçada que chega com pouca intensidade aos ouvidos da liderança.

A liderança precisa, sim, desenvolver equipes e desenvolvê-los para que eles resolvam problemas. Não deve centralizar e puxar todas as resoluções dos dilemas para si, mas não pode se fechar e pedir para o time só lhe trazer soluções. Existe um formato aberto, transparente e capaz de desenvolver talentos quando você abraça os problemas, ouve e convida a equipe para pensar em soluções, com seu apoio. Ganha a organização, ganha o time, ganha o líder. Não tem como dar errado.

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