Tesouro Direto tem mês de perdas e Tesouro Selic fica abaixo do CDI no ano
Dos 28 títulos disponíveis, só 4 tiveram desempenho positivo no mês. Especialistas dizem que recuo dos preços pode ser oportunidade para quem carregar as aplicações até o vencimento
Bianca Alvarenga
Publicado em 1 de abril de 2021 às 06h04.
Última atualização em 25 de julho de 2022 às 19h36.
2021 não tem sido um bom ano para os investidores do Tesouro Direto . Em março, dos 28 títulos negociados no mercado, apenas 4 tiveram desempenho positivo. Os únicos que conseguiram ficar "acima da linha d'água" foram os títulos do Tesouro Selic e os que são indexados ao IGP-M (mas que não são mais emitidos pelo Tesouro).
Todos os títulos IPCA+ e os prefixados ficaram no vermelho no mês, e alguns deles acumulam perdas de mais de 10% desde janeiro. A piora nas taxas de negociação dos títulos públicos se deve ao clima de instabilidade gerado pela pandemia do coronavírus.
"É como se mercado o mercado exigisse taxas maiores para emprestar dinheiro para o governo", explica Alan Ghani, especialista em renda fixa daEXAME Invest Pro.
O aumento das taxas afeta de maneira inversamente proporcional o valor de face dos títulos, o que causa a queda da rentabilidade.
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Ghani lembra que o avanço da segunda onda de covid-19 no país levou ao fechamento novamente do comércio, o que deve gerar um duplo problema fiscal para o governo de Jair Bolsonaro: primeiro, a queda de arrecadação de tributos; e, depois, a necessidade de pagamento de uma nova rodada do auxílio emergencial.
Para piorar, a equipe econômica não conseguiu acomodar essa combinação de queda de receitas e aumento de despesas no orçamento. E há as incertezas sobre os rumos da economia com mudanças no comando das estatais e o temor de uma guinada populista do governo.
"O governo precisa manter o teto de gastos, mas o Orçamento que saiu não cumpre essa tarefa e, por isso, não foi bem visto pelo mercado", observa Guilherme Artmann, head de renda fixa da corretora Easynvest.
Ele explica que o grau de incerteza quanto à solidez das contas federais aumentou substancialmente, o que afeta o preço dos ativos públicos. Veja abaixo o rendimento dos títulos do Tesouro Direto em março:
Título | Rendimento em março | Rendimento em 2021 |
Tesouro IGP-M+ com juros semestrais 2021 | 2,55% | 8,62% |
Tesouro Selic 2027 | 0,26% | - |
Tesouro Selic 2023 | 0,20% | 0,44% |
Tesouro Selic 2024 | 0,12% | - |
Tesouro Selic 2025 | 0,00% | 0,20% |
Tesouro IGP-M+ com juros semestrais 2031 | -0,38% | 7,12% |
Tesouro Prefixado 2022 | -0,50% | -0,74% |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2024 | -1,24% | -1,94% |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2023 | -1,29% | -2,72% |
Tesouro Prefixado 2023 | -1,34% | -2,94% |
Tesouro IPCA+ 2024 | -1,41% | -2,40% |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2026 | -1,54% | -3,10% |
Tesouro IPCA+ 2026 | -1,83% | -3,89% |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2035 | -2,37% | -5,28% |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2030 | -2,42% | -5,39% |
Tesouro Prefixado 2024 | -2,72% | - |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2025 | -2,81% | -7,02% |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2040 | -2,89% | -5,59% |
Tesouro IPCA+ 2035 | -2,90% | -6,54% |
Tesouro Prefixado 2025 | -3,11% | -7,51% |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2045 | -3,39% | -5,86% |
Tesouro Prefixado 2026 | -3,92% | -9,23% |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2050 | -4,10% | -7,43% |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2027 | -4,18% | -9,48% |
Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2055 | -4,28% | -8,93% |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2031 | -4,76% | -12,41% |
Tesouro Prefixado com juros semestrais 2029 | -4,88% | -11,49% |
Tesouro IPCA+ 2045 | -5,84% | -12,79% |
Janela de oportunidade
Quem comprou títulos do Tesouro no começo do ano está amargando quedas bastante expressivas. A expectativa dos analistas é que as taxas continuem voláteis nos próximos meses, até que o ritmo de vacinação engrene e a economia volte a dar sinais de recuperação.
No entanto, para quem tem condições de carregar o título até o vencimento, o momento atual pode ser de oportunidade.
"Os prêmios estão bons, e as taxas parecem mais coerentes com o cenário que temos hoje. Quem puder manter o título na carteira até o vencimento deve avaliar se agora é uma boa hora para entrar", observa Ghani, da Exame Invest Pro.
Tesouro Selic
Já o Tesouro Selic, título bastante utilizado para compor a reserva de emergência, continua rendendo menos do que o próprio CDI, indicador que serve como referência para o retorno da renda fixa. Historicamente, além da liquidez alta, esses títulos entregam ao investidor um retorno pelo menos equivalente ao da própria Selic.
Em 2021, no entanto, o CDI acumula alta de 0,46%, enquanto o Tesouro Selic 2023 registra valorização de 0,44%. No caso do Tesouro Selic 2025, cujo avanço no ano foi de 0,2%, até mesmo a poupança tem sido mais vantajosa -- a caderneta acumula alta de 0,24% no ano.
Mas é importante ter cautela na hora de avaliar um resgate desses recursos, especialmente se eles fizerem parte da reserva de emergência. Não vale a pena trocar por um fundo DI ou por qualquer outra aplicação de liquidez diária que seja afetada pela marcação a mercado, pois esses ativos também estão sofrendo influência negativa do aumento do risco.
"Se o investidor encontrar um CDB que pague 100% do CDI, com liquidez diária, e cujo retorno seja calculado simplesmente pelos juros acumulados até o momento de resgate, aí pode valer a pena", recomenda o especialista da EXAME Invest Pro.