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Renda fixa com prazo acima de 5 anos? Para analistas, risco não compensa

Escalada da inflação e dos juros não tem previsão para acabar, e cenário de eleições presidenciais em 2022 deve tornar o cenário para a renda fixa mais volátil

Embora retornos dos títulos pareçam atrativos, existe o risco de piora de cenário econômico (Phil Ashley/Thinkstock)
BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 5 de outubro de 2021 às 06h03.

Última atualização em 5 de outubro de 2021 às 12h24.

Os juros baixos mantiveram os rendimentos da renda fixa amarrados próximos dos 2% ao ano até março passado, quando a taxa Selic começou a subir. Para o investidor que até pouco tempo atrás conviveu com um CDI "mirrado", atrelado ao nível dos juros básicos, o retorno de dois dígitos agora ofertado por títulos de renda fixa é uma verdadeira tentação.

Desde março, a Selic saltou de 2% para 6,25% ao ano. A trajetória de escalada não deve ficar por aí: a curva longa de juros mostra que a taxa básica deve terminar o ano acima dos 8% e pode ultrapassar os dois dígitos em 2022.

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Os juros futuros são base de cálculo para o rendimento de aplicações de renda fixa e até do Tesouro Direto. Por isso, já é possível encontrar aplicações com vencimento antes de 2025 e com retorno acima de 10%.

Os prêmios do Tesouro Direto são uma boa base para isso: nos prefixados, todos o títulos com vencimento a partir de 2024 já são negociados com rendimento anual acima dos dois dígitos. Os ativos de crédito privado também vão pelo mesmo caminho. É possível encontrar diversas opções de CDB, LCI, LCA e debêntures com retorno anual de até 12% e vencimento em 4 ou 5 anos.

À primeira vista, rendimentos que representam quase o dobro da taxa atual de juros podem parecer uma oportunidade única, mas antes de ir com muita sede ao pote é importante ouvir o que dizem os especialistas.

"Para calcular o rendimento dos títulos médios e longos, aqueles que vencem depois de 2024, o mercado leva em conta as expectativas para a Selic e inflação. É importante que o investidor lembre disso", explica Odilon Costa, analista de renda fixa e crédito privado do banco BTG Pactual digital.

Ou seja: não há "benevolência" em oferecer prêmios maiores. O que acontece é que os emissores dos títulos já estão enxergando uma piora no cenário de juros e inflação do país, e já repassaram esse risco para o rendimento das aplicações.

Sai o prefixado, entra o CDI e a inflação

Embora o mercado tenha fórmulas para calcular para onde vai a Selic e a inflação, o grau de incerteza cresce de acordo com o prazo de vencimento da aplicação. Ou seja: as instituições financeiras calculam cenários possíveis, mas tudo pode mudar, de acordo com uma série de variáveis.

Sendo assim, contratar um título prefixado, que tem o retorno fixo, representa um risco maior -- ainda mais considerando que o Brasil e o mundo devem passar por eventos importantes e imprevisíveis em um futuro breve.

"O investidor 'se trava' a um rendimento de 10% achando que está arrebentando, porque viu há pouco tempo juros a 2%, mas ele não tem que olhar de onde ele veio, e sim para onde pode ir. Vale lembrar que num passado recente, em 2014, tivemos CDB pagando 20%, porque os juros chegaram a 14%", recorda Marilia Fontes, especialista em renda fixa da casa de análise Nord Research.

Ela cita riscos que podem esticar a curva longa de juros, como o anseio do governo de ampliar os gastos para custear uma repaginação do Bolsa Família, além da própria corrida eleitoral de 2022.

"Quanto mais perto da eleição presidencial, mais vejo o debate se afastando da disciplina fiscal e das reformas estruturantes, então parece claro que o risco aumentará", alerta Fontes.

O especialista do BTG diz que tem dado duas recomendação aos clientes: a primeira é de títulos pós-fixados de curta e média duração atrelados ao CDI, e a segunda é de títulos de média duração, de 3 a 5 anos, com retorno calculado pela inflação.

"Se o investidor compra títulos de inflação mais curtos do que isso ele corre o risco de pegar um juro real negativo (quando a inflação é maior do que a Selic). Por outro lado, os títulos muito longos, com vencimento depois de 2040, não estão pagando muito mais do que os títulos que vencem em 10 anos, então não compensa tomar tanto risco para ter pouco ganho", explica Costa, do BTG.

A recomendação da especialista em renda fixa da Nord é similar. Ela lembra que no Tesouro Direto, por exemplo, só o Tesouro Selic tem dado bons rendimentos ao investidor -- os prefixados e as NTN-B (Tesouro IPCA+) estão apanhando da volatilidade na curva de juros.

Ela diz que ainda é possível encontrar títulos de crédito privado, como CDBs, com vencimento de até 2 anos e com retornos perto dos 120% do CDI, o que pode garantir um rendimento de dois dígitos já no curto prazo. A vantagem, nesse caso, é que a Selic escalar além dos 8% o investidor estará parcialmente protegido da piora no cenário.

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