Selic: o corte de hoje foi a sétima redução consecutiva na taxa (Marcio Anderson Getty Images/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 6 de maio de 2020 às 18h28.
Última atualização em 6 de maio de 2020 às 19h27.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, nesta quarta-feira, 6, cortar a taxa básica de juro da economia de 3,75% para 3,00% ao ano — o menor patamar histórico. Trata-se da sétima redução consecutiva no atual ciclo de baixa iniciado em julho do ano passado.
Com a economia fragilizada devido à pandemia de coronavírus (covid-19), a redução de 75 pontos-base foi maior do que o esperado pelo mercado. Após a divulgação, gestores e investidores aguardam ansiosamente pela divulgação da ata da reunião em busca do direcionamento do Banco Central nos próximos meses.
Com a Selic em 3% ao ano, investimentos de renda fixa, como poupança, CDBs com taxas pós-fixadas, fundos DI e títulos do Tesouro Selic pagam menos, já que seu rendimento é atrelado à taxa Selic ou à taxa DI, muito próxima da taxa básica de juro.
Mas antes de optar pelo investimento, é fundamental que o investidor tenha em mente qual é o objetivo do investimento. Nem sempre a melhor rentabilidade é a mais adequada devido ao prazo.
Segundo Odilon Costa, analista de crédito da EXAME Research, quem está planejando, por exemplo, montar uma reserva de emergência, deve investir no Tesouro Selic devido à liquidez. “Além disso, a pessoa não perde poder de compra considerando a inflação. Isso já não acontece na poupança, que está perdendo para a inflação.”
Quem já tem reserva de emergência e busca acumular renda, a indicação do analista é buscar investimentos com títulos atrelados à inflação, como Tesouro IPCA+ 2026. Este título paga uma parcela de juro prefixado acrescido da inflação do período, que é medida pelo IPCA, o indicador oficial de preços do país.
A orientação é que o investidor permaneça com o título até o prazo final de vencimento. Se o investidor sair antes, na hora do resgate, ele pode sair com um valor menor devido à marcação de mercado.
Outra opção indicado por Costa é investir em Certificado de Depósito Bancário (CDB). Este tipo de investimento tem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) de até 250.000 reais por CPF. Os pequenos e médios bancos têm retornos mais atrativos, entretanto é fundamental que o investidor faça uma busca mais detalhada para entender o risco e retorno do banco. “Vale destacar que o FGC traz um conforto adicional ao investidor. Caso precise, o pagamento ao investidor pode demorar, em média, três ou quatro meses. Neste período, o investidor não tem rentabilidade.”
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O passo seguinte, segundo o analista, seria o investimento em crédito privado, que tem remunerações muito atrativas principalmente entre empresas com risco de crédito, chamadas de high grade. “A remuneração de entrada mais atrativa de títulos levados até o vencimento e a estabilização gradual do mercado de crédito criaram uma janela oportuna para a alocação em fundos high grade.”
A seguir, veja uma simulação de quanto 5.000 reais rendem na poupança, em um CDB, em um fundo DI ou no Tesouro Selic, em diferentes prazos. Os cálculos foram feitos por Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper.
Na simulação, a taxa básica de juro se mantém em 3% ao ano por todo o período do investimento. Os valores da simulação já descontam o imposto de renda, cobrado em todas as aplicações, exceto na poupança, que é isenta.
Período | Poupança* | CDB 90% do CDI | CDB 110% do CDI | Fundo de DI com taxa de 1% ao ano ** | Tesouro Selic *** |
---|---|---|---|---|---|
6 meses | R$5.052,23 | R$ 5.050.14 | R$ 5.061,22 | R$ 5.036,49 | R$ 5.046,29 |
12 meses | R$5.105,00 | R$ 5.104,04 | R$ 5.127,16 | R$ 5.075,60 | R$ 5.096,00 |
18 meses | R$5.158,32, | R$ 5.161,80 | R$ 5.197,98 | R$ 5.117,40 | R$ 5.149,23 |
24 meses | R$5.212,21 | R$ 5.223,53 | R$ 5.273,87 | R$ 5.161,94 | R$ 5.206,08 |
30 meses | R$5.266,65 | R$ 5.280,96 | R$ 5.344,64 | R$ 5.203,24 | R$ 5.258,91 |
* A TR considerada foi zero. Não há desconto de imposto de renda nesta aplicação.
** Taxa DI considerada foi de 2,89% ao ano.
*** Houve desconto de uma taxa de 0,25% (CBLC + corretagem)
A simulação feita acima mostra que a rentabilidade do CDB e do Tesouro Selic ainda é um pouco maior do que a da poupança nos prazos mais longos. E vale lembrar que a poupança é livre de imposto de renda. Já os Fundos DI, com taxa de administração de 1% ao ano, têm rentabilidade inferior à da poupança.
É fundamental que nesse momento o investidor fica atento à taxa de administração cobrada. O valor pode ser consultado na "lâmina" do fundo, que é o documento disponível no site do banco ou da corretora.
As alíquotas do imposto de renda diminuem conforme o prazo do investimento: 22,5% para resgates em até 180 dias; 20% para resgates de 181 a 360 dias; 17,5% para resgates de 361 a 720 dias; e 15% para resgates acima de 721 dias.
A simulação considera taxas de administração e de remuneração normalmente praticadas no mercado. Com a mudança nas regras de classificação dos fundos promovida pela associação de entidades de mercado, os fundos DI deixaram de ter uma denominação própria. Com isso, eles foram incorporados à classe de fundos de renda fixa.
As próprias gestoras puderam determinar para qual subcategoria os fundos DI iriam — a maioria foi para Fundos de Renda Fixa Duração Baixa Soberano ou Fundo de Renda Fixa Duração Baixa Grau de Investimento.
De todo modo, como os fundos que acompanham os juros continuam sendo chamados de fundos DI no mercado, o levantamento também manteve a nomenclatura. O investidor precisa consultar a estratégia de cada produto para checar se, de fato, o fundo acompanha a flutuação do CDI.
Quanto ao Tesouro Selic, é preciso considerar que, ao comprar qualquer título público, o investidor paga uma taxa de custódia de 0,3% ao ano para a B3, não importando a corretora escolhida.