Quer virar um agente autônomo? Saiba quais as habilidades necessárias
Marcelo Flora, head do BTG Pactual digital, e Edgar Abreu, especialista em certificação, explicam como funciona uma das carreiras em expansão no mercado
Da Redação
Publicado em 27 de novembro de 2020 às 16h50.
Última atualização em 27 de novembro de 2020 às 16h58.
O acelerado desenvolvimento do mercado de investimentos do país trouxe consigo novas oportunidades para quem trabalha na área. Uma das carreira que mais crescem é a de agentes autônomos de investimentos (AAI), profissionais que fazem a intermediação entre corretoras e investidores. A carreira foi tema do painel nesta sexta-feira, 27, na Money Week, um dos mais aguardados eventos do mercado financeiro, promovido pelo EQI, um dos maiores escritórios de agentes autônomos do país.
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"É uma carreira em alta e que deve continuar assim no ambiente de taxas de juros mais baixas, que leva ao fenômeno conhecido como financial deepening. Cada vez mais há gerentes e executivos de bancos que buscam a certificação complementar, da Ancord, para atuar como agente autônomos", disse Marcelo Flora, sócio e head do BTG Pactual digital, o braço para o investidor de varejo do banco de investimentos.
A Ancord é aAssociação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias.
Flora lembra que, há pouco mais de cinco anos, havia cerca de 3.000 agentes autônomos no país. Esse número foi multiplicado por três, para os atuais 9.000 agentes, aproximadamente. É a profissão que mais cresce entre os intermediários financeiros.
Além dos juros baixos, o avanço da tecnologia possibilitou e popularizou o uso de plataformas abertas de investimento, aplicativos, notificações por push e registro de ordens, melhorando as condições de trabalho do agente autônomo.
O empurrão mais recente veio com a pandemia e a disseminação do home office, que levaram milhares de brasileiros e gerenciar remotamente seus investimentos, deixando de lado as reuniões presenciais em bancos.
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"Não é mais tão necessário para o trabalho do agente autônomo o requisito de conhecer tantas pessoas como antigamente, de ter uma ótima rede de relacionamentos, algo muito necessário quando não havia a tecnologia", afirmou Edgar Abreu, especialista em certificações financeiras. "A captação de cliente de maneira online permite que o agente esteja em Balneário Camboriú, na Faria Lima, em São Paulo, ou em Manaus", exemplificou.
Abreu e Flora, no entanto, concordaram que a tecnologia não deve ser encarada como um solucionador de todos os desafios. "O desafio continua a ser transformar a visita, o primeiro contato do cliente, em uma relação de longo prazo construída em cima da confiança", afirmou o executivo do BTG (do mesmo grupo que controla a EXAME ).
O especialista em certificações disse que o desenvolvimento do trabalho do agente autônomo no país passou por três ondas: na primeira, na década de 2000, houve um incentivo forte ao investimento em bolsa associado a cursos de educação financeira, mas em um momento em que isso significava assumir um risco elevado, dado que a taxa básica de juros ainda estava muito acima de 10% ao ano; essa onda acabou com alguns escritórios e corretoras quebrando com a crise de 2008, pois estavam expostos demais à renda variável.
Na segunda onda, algumas corretoras passaram a buscar de forma mais sistemática profissionais de bancos para trabalhar como agente autônomo, em um momento em que a taxa básica de juros começou a cair.
E, na terceira onda, "qualquer pessoa com conhecimentos de investimentos e que saiba explicar os produtos" tem potencial para se tornar um agente autônomo competente. Segundo Abreu, isso se tornou possível porque hoje a demanda do potencial cliente se dá pelo canal digital.
Habilidades necessárias
Abreu explicou que o agente autônomo, na prática, é um empreendedor. Trabalha como pessoa jurídica, diferentemente do gerente do banco, que é contratado CLT e ganha um salário fixo todo mês. Passa a cuidar da gestão não só dos investimentos dos clientes, em horário estendido -- e não só comercial --, mas também do próprio negócio. E isso exige uma disposição e a atitude de dono que nem todo profissional de banco tem.
Os dois especialistas disseram que, além das chamadas hard skills -- habilidades ligadas ao conhecimento específico, como as certificações financeiras --, um agente autônomo que deseje ser bem-sucedido precisa dispor ou buscar desenvolver as soft skills. São as habilidades socio-comportamentais.
"O soft skill é o que vai permitir ao agente construir um relacionamento de longo prazo e de confiança com o cliente. E esse é o grande valor que ele pode gerar no seu trabalho", resumiu Flora.
"O diferencial do agente autônomo é justamente conseguir estabelecer um relacionamento de confiança com o cliente a tal ponto que ele conseguirá tomar as melhores decisões de investimento mesmo à distância ou em momentos adversos", afirmou. Ele citou como exemplo o momento de grande incerteza em março, quando muitos investidores agiram de forma precipitada sem a orientação e a confiança em alguém que pudesse fazer a assessoria adequada.
Eles também comentaram no painel sobre a remuneração do agente autônomo, explicando que a chamada remuneração base é pequena e que potencialmente a maior parte dos rendimentos vem da comissão sobre produtos vendidos.