7 pensadores que todo investidor deve conhecer
Especialistas em finanças indicam nomes inspiradores até para os investidores não profissionais
Da Redação
Publicado em 4 de dezembro de 2011 às 07h19.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h28.
O trader matemático Nassim Nicholas Taleb é, sobretudo, um cético. Autor de dois livros importantes sobre gestão de riscos – “Iludido pelo acaso” e “A lógica do Cisne Negro” – o probabilista libanês ensina importantes lições sobre a ação do acaso sobre os mercados. Sua mensagem funciona como verdadeiro “chá de realidade”, principalmente para quem pensa que pode ser possível prever para onde vai o mercado. Em seu primeiro livro “Iludido pelo acaso”, Taleb expõe sua preferência por lucrar a partir de eventos altamente improváveis, os quais ele chama de “cisnes negros”. A base da lógica do cisne negro é a visão falsificacionista do não tão acessível Karl Popper, que propõe que não é possível ter certeza de que uma teoria é verdadeira, apenas comprovar que ela é falsa. Ou seja, toda teoria válida simplesmente não foi provada falsa ainda. Embora trabalhe com derivativos, Taleb ensina uma importante e universal lição: é preciso aceitar que a sorte tem mais influência nos mercados e na vida do que as pessoas imaginam. Perdas sempre vão ocorrer, mas o mais importante é tentar se proteger de eventos desastrosos, ainda que improváveis. Pois o fato de um evento ser raro ou nunca ter acontecido não significa que não vai acontecer.
Para entender a lógica do mercado, um bom primeiro passo é entender o risco e a atuação humana sobre ele. Nesse sentido, a obra do historiador econômico Peter L. Bernstein é essencial. Seu livro mais célebre, “Desafio aos deuses”, não é propriamente sobre a bolsa de valores, mas seu texto romanceado e agradável consegue acessar mesmo os leigos, sem perder a relevância para os profissionais da área de finanças. Nele, Bernstein discorre sobre a história do estudo do risco partindo da antiguidade clássica, quando o homem acreditava cegamente que os deuses comandavam completamente o seu destino. Ou seja, por mais que alguém se esforçasse, só aconteceria o que fosse da vontade de deuses, guiados por desejos um tanto mundanas. Contudo, a partir do momento em que o homem passou a tentar controlar o risco, desafiou o conceito de destino. O estudo da estatística fez o ser humano enxergar que existe uma dose de livre-arbítrio que torna o acaso menos incerto, ajudando o homem a medir e até controlar um pouco os riscos.
O bilionário George Soros não é apenas o megainvestidor filantropo que ficou conhecido como “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra” ao apostar contra a libra esterlina em 1992. A todos esses predicados se junta também uma veia filosófica que o levou a ser admirado até pelos que não admiram ninguém, como Nassim Taleb. Assim como ele, Soros também foi fortemente influenciado por Karl Popper e sua teoria da Sociedade Aberta - uma sociedade onde nenhuma verdade é permanente, o que permitiria o surgimento de contra-ideias. Para Soros, as sociedades abertas são as democracias onde as diferentes opiniões coexistem e o questionamento é permanente. Em seus escritos, Soros suporta a ideia das finanças modernas de que os mercados não são totalmente eficientes e racionais, propondo a teoria da reflexividade. Para ele, a atuação pouco racional dos investidores nos mercados, bem como suas percepções imperfeitas, são capazes de mudar os fundamentos da economia. Essas ideias são bem descritas no livro “O novo modelo dos mercados financeiros”, que explica os motivos que levam às crises econômicas. A obra traz ainda uma descrição detalhada de como o Soros Fund acompanhou e reagiu à crise dos subprime.
O guru de Warren Buffett é leitura obrigatória não só para os profissionais do mercado financeiro, mas para qualquer pessoa que queira tornar-se um investidor de renda variável minimamente consciente. Morto em 1976, Graham é considerado o pai da profissão de analista de investimentos e do investimento de valor, que se trata de investir apenas em empresas negociadas abaixo de seu valor real. O economista foi o primeiro a defender o estilo de comprar ações de empresas sólidas, com ótimas perspectivas de geração de caixa em momentos de estresse do mercado para mantê-las no portfólio por longos períodos de tempo. Com 60 anos de experiência no mercado financeiro, o economista deixou dois clássicos da análise fundamentalista: “Security Analysis”, escrito em 1934 em parceria com David Dodd e sem tradução para o português, e “O investidor inteligente”, escrito em 1949 e considerado por Warren Buffett seu livro de cabeceira. O problema dessas obras é que elas foram escritas para a realidade americana, sendo necessário recorrer a uma obra nacional para entender os fundamentos da contabilidade brasileira, como o clássico “Análise de balanços”, de Sérgio de Iudícibus.
O investidor mais aclamado e citado de nosso tempo não é um autor, mas aquele sobre quem os autores escrevem. À frente de sua Berkshire Hathaway, o bilionário tornou-se uma lenda ao fazer fortuna baseando seu estilo de investir em princípios sólidos: comprar ações baratas de empresas sólidas, que ainda estarão em pleno vapor dali a alguns anos, em ramos maduros e cujos negócios compreende perfeitamente. Carismático e levemente excêntrico, Warren Buffett rechaça aplicações especulativas, pretende doar praticamente toda a sua fortuna para a caridade e defende impostos mais altos para os mais ricos. Já octogenário, o “oráculo de Omaha” pode ainda se orgulhar de ser fiel a seus valores, exaustivamente repetidos e reproduzidos pelos meios de comunicação. Uma boa leitura para conhecer seu pensamento é sua biografia “A bola de neve: Warren Buffett e o negócio da vida”, de Alice Schröeder.
Bob Haugen, como é mais conhecido, foi um dos pioneiros dos investimentos quantitativos e da teoria de que os mercados são inerentemente ineficientes – isto é, os preços das ações nem sempre refletem o risco e a lucratividade potencial de uma empresa. Em seus 30 anos de vida acadêmica, o economista publicou quinze livros dedicados às finanças modernas, corrente que defende que os investidores não baseiam suas decisões em critérios necessariamente racionais. Os fundamentos das finanças modernas estão compilados em basicamente dois de seus livros, ambos sem tradução para o português: “Modern Investment Theory” e “The New Finance”. Neste último, o economista interpreta uma série de estudos estatísticos e conclui que os investidores podem lucrar a partir dos padrões detectados de ineficiência dos mercados – basicamente expectativas acima ou abaixo do que aquilo que de fato ocorre com os resultados das companhias. Já em “Os segredos da bolsa” - livro mais técnico, porém traduzido para o português - Haugen ensina como prever os retornos das ações com seus modelos de fator de risco e de retorno esperado, a fim de montar uma carteira de baixo risco, com papéis de empresas financeiramente saudáveis e de boa liquidez.
Ainda no campo das finanças modernas surgiram as Finanças Comportamentais. Um de seus precursores é Richard Thaler, professor da Universidade de Chicago, autor de uma série de livros sobre o tema. O economista também organizou e editou a obra “Advances in Behavioral Finances”, que compila, em seus dois volumes, artigos de diversos especialistas no ramo, inclusive dele mesmo, como Robert Schiller e Shlomo Benartzi. As finanças comportamentais se apoiam no estudo da psicologia para dar suporte à tese de que os mercados não são totalmente eficientes e racionais. O ramo descreve uma série de comportamentos irracionais dos investidores, tais quais o “efeito manada” (tendência a seguir o comportamento da marioria) e o “fenômeno da saliência” (tendência a dar muito peso a um fato de pouca importância apenas porque ele é muito evidente). Além de ter sido um dos pais dessa escola de pensamento, Thaler também propõe o chamado “paternalismo liberal”, defendendo que o Estado deveria orientar em alguma medida as decisões econômicas dos cidadãos, a fim de prever crises, mas ainda assim preservando a liberdade de escolha. Há também psicólogos estudando as finanças comportamentais e expandindo as teses sobre a irracionalidade das decisões humanas para outros campos da vida. É o caso do israelense Dan Ariely, que tem dois livros traduzidos para o português: “Previsivelmente irracional” e “Positivamente irracional”. No Brasil já existem bons trabalhos publicados por Vera Rita de Mello Ferreira, Jurandir Macedo e Aquiles Mosca.
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