Onde as mulheres devem investir em cada fase de vida
Pesquisa global do Credit Suisse indica aplicações conforme idade e também situações específicas
Marília Almeida
Publicado em 19 de novembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 19 de novembro de 2020 às 08h30.
As taxas de juros nunca foram tão baixas no país. Isso significa que quem prefere apenas guardar o dinheiro na poupança corre o risco de obter um rendimento menor do que a inflação e observar o poder de compra diminuir ao longo do tempo. Além disso, a maior expectativa de vida e a renda cada vez mais limitada da aposentadoria pública tornam essencial para as mulheres começar a investir mais cedo. Mas como?
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Mulheres têm necessidades distintas em cada fase de vida, que devem ser analisadas separadamente. Em uma pesquisa global, chamada Women to Women, o Credit Suisse dá insights de aplicações recomendadas para cada fase da vida das mulheres. Veja abaixo um resumo das dicas:
Começando (20 aos 30 anos)
Mulheres que estão terminando a faculdade geralmente não têm uma renda estável ou alta. Por conta disso, o que define esse ciclo é pouco dinheiro poupado e uma atividade mínima em investimentos. Mas isso não significa que é cedo para a mulher começar a planejar seu futuro financeiro.
É uma fase na qual as mulheres devem investir em si mesma, tanto para suas finanças pessoais, saúde mental, saúde física e educação, além de buscar experiências que vão assegurar benefícios ao longo da vida. Abaixo, as principais dicas para começar a aplicar o dinheiro nessa fase:
Comece pela previdência empresarial
Como as mulheres começam a entrar no mercado de trabalho, podem ter a oportunidade de contribuir voluntariamente para planos de previdência oferecidos pelo empregador. Esse geralmente é o primeiro passo para começar a investir
Tenha apetite ao risco
Uma mulher nessa fase, com um horizonte longo de investimentos, deve ter uma tolerância mais alta ao risco. Nesta fase da vida seu portfólio não precisa gerar renda constante. Então, uma estratégia com ativos variados, que inclua ações, é uma solução para esse ciclo de vida.
Prefira fundos
Nessa fase da vida faz sentido que a carteira tenha uma maior fatia em fundos, de forma a controlar mais os custos, ainda mais considerando que as aplicações feitas são mais baixas. Fundos com foco em ESG, que incluem empresas socialmente responsáveis, podem ser atrativos para mulheres jovens
Invista gradualmente
É aconselhável investir de três a quatro vezes por ano de forma a evitar que o portfólio fique exposto a apenas um momento de entrada. Também é uma forma de evitar aplicar mais frequentemente e ter de retirar o dinheiro, caso precise.
Busque aplicações satélites
Se você tem um salário mais alto, considere investir em mercados com os quais tem maior afinidade. Por exemplo, ações de marcas de luxo, fundos de tecnologia ou fundos com foco em sustentabilidade. Essa ligação vai incentivá-la a se manter informada sobre as aplicações e entenda a proposição de valor do investimento. Não invista em áreas sobre as quais não entende e produtos com estrutura complexa.
Novas responsabilidades (30 a 45 anos)
Nesta fase da vida, a primeira da carreira, o salário aumenta, e é possível começar a ter uma taxa de poupança média. É quando de fato a atividade de investir começa, já que começa a ser plausível a possibilidade de investir mais do que para a aposentadoria, de forma compulsória ou voluntária.
Como ainda têm horizonte de longo prazo, as mulheres podem aceitar um maior risco neste ciclo da vida. É importante ter uma exposição suficiente em ações, mas podem haver necessidades diferentes para aplicações anuais, dependendo do salário.
Cenário 1 - Opta por dedicar um período à maternidade
Para mulheres que desejam ter uma família, a decisão de sair do mercado por um tempo após a gravidez pode ter impacto em suas economias. Por conta disso pode ser importante pensar em gerar renda a partir de investimentos de forma a compensar uma queda ou suspensão de salários neste período.
O foco, portanto, deve ser investimentos que pagam um rendimento anual previsível, ao mesmo tempo em que parte da carteira continua exposta a ações.
Para isso, no passado, títulos de renda fixa eram a opção mais buscada. Mas em um cenário de juros baixos pode haver a necessidade de buscar títulos com alto rendimento (levando-os a vencimento), inclusive na forma de fundos, de forma a minimizar riscos; fundos imobiliários e ações que pagam dividendos, além de produtos estruturados para geração de renda.
Para quem não tem tempo de monitorar aplicações, pode ser importante buscar um gestor de portfólio.
Cenário 2 - Mantém o trabalho em tempo integral
Para mulheres que não desejam ter filhos, não querem parar de trabalhar em tempo integral ou tenham outras fontes de renda além do salário não há necessidade de ter foco em investimentos que geram renda nessa idade. A principal estratégia deve ser crescer o capital a um custo baixo
A maneira mais fácil de fazer isso é optar por fundos com bastante exposição a ações ou ETFs, considerado um dos meios mais eficazes de diversificar com baixo custo e risco controlado. Fundos com gestão ativa e foco temático podem proporcionar oportunidades de crescimento do capital.
Mudanças de prioridades (45 a 60 anos)
Conforme a carreira avança e seus filhos crescem, a mulher costuma ter um salário alto, um grande volume de capital acumulado, financiamento e capacidade maior de poupança. É nesta fase da vida que as mulheres se tornam investidoras mais sofisticadas e podem dedicar mais tempo a acompanhar o portfolio.
Isso permite que possam encarar produtos com alavancagem. Produtos estruturados podem ser atrativos neste momento, inclusive para servir como proteção a investimentos em ações. Aplicações mais frequentes e investimentos alternativos, como fundos hedge e private equity, podem ser considerados. Caso não tenham conhecimento e habilidades necessários, é aconselhável buscar ajuda de um profissional.
Eventuais divórcios podem ter impacto sobre o orçamento por um tempo. Para compensar essa eventual volatilidade de renda, pode ser necessário voltar o foco do portfólio para aplicações que geram renda recorrente.
Planejando a aposentadoria (mais de 60 anos)
Diante de uma maior expectativa de vida e uma tendência de se aposentar mais cedo, as mulheres têm uma necessidade específica de que seus investimentos durem mais. É necessário verificar se a geração de renda a partir de investimentos pode compensar a diminuição ou suspensão de um salário regular.
Nesta fase a tolerância ao risco cai e o foco são investimentos de baixo risco. A solução é ter a maior parte da carteira aplicada em títulos de renda fixa ou aplicações que gerem renda recorrente e tenham baixa volatilidade. Pode ser interessante vender um imóvel grande para comprar outro menor e utilizar o dinheiro para reforçar a aposentadoria.
Caso receba uma herança, tem de ajustar portfolio. A preocupação é proteger o capital acumulado e pensar no que os filhos irão herdar. Aplicações com foco em ESG , sigla para definir investimentos em empresas que tenham responsabilidade social,podem ser atrativas.
Situações específicas
Existem dois cenários que exigem focos diferentes:
Mudança para o exterior
Mulheres que têm a chance de viver e trabalhar no exterior podem ter exposição a outras moedas no portfólio. Isso é importante para lidar com eventuais risco de desvalorização do patrimônio na moeda do país natal ou no de residência. Afinal, títulos e ações de país nos quais uma moeda está se desvalorizando tendem a oferecer maiores retornos do que aqueles nos quais a moeda está em um movimento de valorização.
A importância dessa diversificação vai ser maior quanto menor for o objetivo do portfólio. No longo prazo, não tende a ser tão necessária. Mas é necessário ponderar que moedas podem ter um longo período de depreciação. Ainda mais quando o objetivo é adquirir um bem na moeda local, é aconselhável que o dinheiro poupado para ele seja aplicado na moeda local.
Empreendedorismo
Mulheres que decidem começar o próprio negócio podem ter de tomar empréstimos ou oferecer garantias para viabilizá-lo. Pode ser importante aprender a gerenciar ativos e passivos. Ou seja, garantir a estabilidade financeira de forma que seja possível cumprir as obrigações ao mesmo tempo em que seja utilizado o capital necessário de forma prudente. O foco é investir de modo a cobrir necessidades, além de ajustar o risco que pode ser tomado para aumentar o capital.