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"Não comprem presentes de Natal", diz economista

Professor da Universidade de Pensilvânia ensina como não gastar dinheiro com presentes inúteis e poupar dinheiro no final do ano

Capa do livro Scroogenomics
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

No livro "A Christmas Carol" (Um Cântico de Natal), o escritor inglês Charles Dickens conta a história de Ebenezer Scrooge, um homem avarento que é contrário às comemorações natalinas. Baseado nesse personagem, o economista norte-americano Joel Waldfogel publicou no mês passado um livro com um título bem sugestivo: “Scroogenomics: Why you Shouldn’t Buy Presents for the Holidays” (Princenton University Press). É difícil traduzir com precisão para o português, porque o termo “Scroogenomics” é um neologismo de “pão-duro” com “economia”. Mas, em tradução livre, a publicação é algo como “Economia avarenta: Por que você não deve comprar presentes para as festas de fim de ano".
Professor de finanças da Universidade de Pensilvânia, Waldfogel estima que o mundo inteiro gaste nesta época do ano 145 bilhões de dólares em presentes que, geralmente, não gostariam de dar. "Desse valor, cerca de 20% vão para a lata de lixo", diz ele. "Se esse dinheiro fosse investido, muitos bancos não teriam quebrado com a crise financeira mundial", completa.

EXAME - O que acontecerá com a economia se as pessoas seguirem o seu conselho de não comprar presentes em dezembro?
Waldfogel - A economia consiste em compradores e vendedores. Em uma operação normal, os vendedores obtêm algum lucro de uma transação - porque o preço excede as suas despesas - e os compradores obtêm superávit - pois o valor que atribuem ao item excede ao preço de compra. Esse gasto é bom para a economia. Com presente de Natal, os vendedores ainda mantêm preços superiores a seus custos, de modo que eles estão felizes. Mas os consumidores - aqueles que recebem os presentes - não necessariamente se sentem felizes com o valor pago por quem comprou o presente. Bem, isso é bom para os vendedores, mas não tão bom para os consumidores finais. (Continua)

 <hr>                                  <p class="pagina"><strong>EXAME - Você estima que as pessoas no mundo inteiro gastem 145 bilhões de dólares em compras de fim de ano. Como você chegou a esse número? </strong><br>Waldfogel - As vendas no varejo variam um pouco de mês para mês. Em dezembro, elas saltam demais. Em janeiro, as vendas caem drasticamente. É muito claro que o pico é causado pelas compras de fim de ano. Eu calculo os gastos com presentes nessa época como a diferença entre as vendas do varejo em dezembro e a média de vendas de novembro e janeiro. Para nós, nos Estados Unidos, isso significa algo em torno de 65 bilhões de dólares.<br><br><strong>EXAME - Então, como é possível economizar nessa data?</strong><br>Waldfogel - A melhor maneira de poupar dinheiro no Natal é não desperdiçar dinheiro. Não tenho nada contra os gastos. Eu apenas gostaria de ver as pessoas cuidarem melhor de suas finanças.<br><br><strong>EXAME - E o que fazer com as festas de “amigo secreto” da empresa?</strong><br>Waldfogel - Eu tenho dois pontos de vistas sobre esse assunto. É ineficiente no sentido de que provavelmente eu não sei o que a pessoa quer e, aí, posso comprar algo que ela não irá usar. Uma sugestão é dar algo que você não esteja mais usando (camisa, livro, máquina fotográfica...) e que tenha condições de ser usado por outra pessoa. Assim, se o presente não for usado, ninguém perdeu com essa operação.</p> 

EXAME - Neste ano, você usará esse método com os seus amigos e familiares?
Waldfogel - Com amigos, sim. E para a minha família eu darei presentes baratos, com a certeza de que eles serão úteis para a minha mulher e para os meus filhos. Eu acredito que é economicamente seguro comprar presentes para pessoas cujas preferências eu conheço bem. Conheço minha mulher bem, então eu posso comprar presente para ela sem destruir as minhas finanças. (Continua)

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No livro "A Christmas Carol" (Um Cântico de Natal), o escritor inglês Charles Dickens conta a história de Ebenezer Scrooge, um homem avarento que é contrário às comemorações natalinas. Baseado nesse personagem, o economista norte-americano Joel Waldfogel publicou no mês passado um livro com um título bem sugestivo: “Scroogenomics: Why you Shouldn’t Buy Presents for the Holidays” (Princenton University Press). É difícil traduzir com precisão para o português, porque o termo “Scroogenomics” é um neologismo de “pão-duro” com “economia”. Mas, em tradução livre, a publicação é algo como “Economia avarenta: Por que você não deve comprar presentes para as festas de fim de ano".
Professor de finanças da Universidade de Pensilvânia, Waldfogel estima que o mundo inteiro gaste nesta época do ano 145 bilhões de dólares em presentes que, geralmente, não gostariam de dar. "Desse valor, cerca de 20% vão para a lata de lixo", diz ele. "Se esse dinheiro fosse investido, muitos bancos não teriam quebrado com a crise financeira mundial", completa.
 <hr>                                  <p class="pagina"><strong>EXAME - Você estima que as pessoas no mundo inteiro gastem 145 bilhões de dólares em compras de fim de ano. Como você chegou a esse número? </strong><br>Waldfogel - As vendas no varejo variam um pouco de mês para mês. Em dezembro, elas saltam demais. Em janeiro, as vendas caem drasticamente. É muito claro que o pico é causado pelas compras de fim de ano. Eu calculo os gastos com presentes nessa época como a diferença entre as vendas do varejo em dezembro e a média de vendas de novembro e janeiro. Para nós, nos Estados Unidos, isso significa algo em torno de 65 bilhões de dólares.<br><br><strong>EXAME - Então, como é possível economizar nessa data?</strong><br>Waldfogel - A melhor maneira de poupar dinheiro no Natal é não desperdiçar dinheiro. Não tenho nada contra os gastos. Eu apenas gostaria de ver as pessoas cuidarem melhor de suas finanças.<br><br><strong>EXAME - E o que fazer com as festas de “amigo secreto” da empresa?</strong><br>Waldfogel - Eu tenho dois pontos de vistas sobre esse assunto. É ineficiente no sentido de que provavelmente eu não sei o que a pessoa quer e, aí, posso comprar algo que ela não irá usar. Uma sugestão é dar algo que você não esteja mais usando (camisa, livro, máquina fotográfica...) e que tenha condições de ser usado por outra pessoa. Assim, se o presente não for usado, ninguém perdeu com essa operação.</p> 

EXAME - Neste ano, você usará esse método com os seus amigos e familiares?
Waldfogel - Com amigos, sim. E para a minha família eu darei presentes baratos, com a certeza de que eles serão úteis para a minha mulher e para os meus filhos. Eu acredito que é economicamente seguro comprar presentes para pessoas cujas preferências eu conheço bem. Conheço minha mulher bem, então eu posso comprar presente para ela sem destruir as minhas finanças. (Continua)

 <hr>                                                             <p class="pagina"><strong>EXAME - E como os seus filhos e a sua mulher reagem a essa postura? </strong><br>Waldfogel - Minha mulher é um pouco relutante em comprar presentes para mim, porque ela sabe que eu falo para todo mundo: “Não comprem presentes de Natal”.<br><br><strong>EXAME - Quais são as suas três melhores dicas para gastar menos na época do Natal? </strong><br>Waldfogel - Primeiro, continuar a comprar presentes para pessoas que você conhece bem, especialmente crianças. Você sabe o que elas querem, assim você não vai perder dinheiro. Em segundo lugar, para pessoas que você não conhece tão bem, se você deve dar um presente, tentar dar algo que permita alguns benefícios. Eu acredito que dinheiro, a princípio, é  uma solução eficiente. Mas em muitas culturas - incluindo a América - esse tipo de presente é socialmente estranho. Na China é muito comum os pais darem dinheiro para os seus filhos ao invés de brinquedos. Isso suscita na criança o senso de responsabilidade com finanças pessoais. Nos Estados Unidos, o “vale-compras” é algo interessante, muito parecido com dinheiro, só que sem o embaraço social. Em terceiro lugar, defendo a ideia de dar presentes à caridade no nome de uma pessoa. É uma atividade de luxo, que só pessoas endinheiradas podem fazer. Ao fazermos isso, podemos proporcionar benefícios tanto para os nossos destinatários, que vão desfrutar da posição de doador e caridoso, como para quem irá receber o dinheiro para suprir suas necessidades. Se eu fizer uma doação em seu nome, então, eu permito você agir como uma pessoa rica que faz doações à caridade. Desse jeito, não há dinheiro perdido, e nós todos começamos a nos sentir bem com o andamento das nossas finanças. <br><br><strong>EXAME - Em partes, o senhor se identifica com o personagem de Charles Dickens no qual se baseou para dar o título do seu último livro?</strong><br>Waldfogel - Sim. Sou do tipo de pessoa que posso segurar bem forte uma aspirina com as mãos e atravessar a nado uma piscina olímpica. Ainda assim, a aspirina continuará intacta na palma das minhas mãos. Quem me conhece sabe que sou o tipo “mão fechada”. E não me envergonho disso. Mas, no fundo, no fundo, não sou avarento. Acredite: eu gosto de Natal.</p> 
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