Mercado Pago oferecerá crédito a clientes e vendedores sem pré-aprovação
Até então, 3 milhões de pessoas podiam recorrer aos empréstimos, mas agora os 52 milhões de usuários do Mercado Livre podem solicitar crédito pessoal
Natália Flach
Publicado em 10 de agosto de 2020 às 14h57.
A fintech Mercado Pago, que pertence ao Mercado Livre , quer ir além do seu nome e entrar de vez na briga com bancos e financeiras pela oferta de crédito. Até então, somente 3 milhões de clientes com limite pré-aprovado podiam recorrer aos empréstimos da companhia, mas agora os 52 milhões de usuários ativos do Mercado Livre na América Latina – segundo dados dos últimos 12 meses – podem solicitar crédito pessoal ou parcelamento de compras. O próximo passo será habilitar a opção de capital de giro para os 11 milhões de vendedores da plataforma de comércio eletrônico.
"Tivemos um período de reajuste para revisitar os modelos e demos mais prazos para os clientes. A carteira está super saudável, e estamos acelerando a concessão de crédito", afirma Túlio Oliveira, vice-presidente e responsável pela operação do Mercado Pago no Brasil, que teve receita de 297 milhões de dólares no segundo trimestre, apesar do encolhimento da carteira de crédito.
No segundo trimestre, o portfólio recuou 5%, ao passar de 179 milhões de dólares para 170 milhões de dólares. De acordo com a demonstração de resultados divulgada nesta segunda-feira, 10, a companhia diminuiu o ritmo de originação em um primeiro momento "para administrar nossa exposição ao risco de crédito ao consumidor e ao comerciante", mas em maio e em junho voltou a abrir a torneira. Com isso, o número de concessões subiu 19% para 2,5 milhões.
Ao mesmo tempo, a empresa adotou medidas preventivas e melhorou processos de cobrança para mitigar a taxa de inadimplência que, no primeiro trimestre, chegou a 21% do portfólio. Já segundo, as dívidas em atraso somaram 14% do total. "A dívida inadimplente mais baixa somada a taxas de juros mais altas resultaram em melhor lucratividade", diz o relatório.
Carteira de crédito
Período | Valor (em US$ milhões) |
Segundo trimestre/2019 | 207 |
Terceiro trimestre/2019 | 221 |
Quarto trimestre/2019 | 209 |
Primeiro trimestre/2020 | 179 |
Segundo trimestre/2020 | 170 |
Período | Concessões de crédito (em milhões) |
Segundo trimestre/2019 | 1,2 |
Terceiro trimestre/2019 | 1,4 |
Quarto trimestre/2019 | 1,8 |
Primeiro trimestre/2020 | 2,1 |
Segundo trimestre/2020 | 2,5 |
Período | % do portfólio em atraso |
Primeiro trimestre/2020 | 21% |
Segundo trimestre/2020 | 14% |
Segundo Oliveira, as concessões a compradores e vendedores vão de 50 a centenas de milhares de reais. Para isso, o Mercado Pago conta com 660 milhões de reais disponíveis, sendo que deste total 245 milhões de reais são de fundos de investimento de direitos creditórios (Fidc) do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da gestora Captalys. Além disso, há muito dinheiro em caixa da captação de 1 bilhão de dólares.
"O nosso objetivo é chegar a mais pessoas e oferecer mais volume", diz Oliveira. Por isso, a ideia é pedir mais informações aos usuários de modo a entender melhor o perfil de cada cliente – e do potencial tomador de crédito.
Resultados
O volume de pagamentos transacionados por meio do Mercado Pago atingiu 11,2 bilhões dólares no segundo trimestre, um aumento de 72,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Deste total, mais da metade foi realizada fora da plataforma do Mercado Livre. Já o número de transações avançou 122,9% para 404,8 milhões.
"Estamos crescendo em todas as frentes, inclusive, no mundo das maquininhas. Vendemos mais MPOS do que antes", afirma Oliveira. Parte do motivo são os descontos agressivos oferecidos aos empreendedores. Já nos pagamentos online o volume cresceu 170% em moeda constante no segundo trimestre.
"Não sei se a nossa velocidade de crescimento nos próximos trimestres vai ser maior ou menor, mas sei que estamos conseguindo entregar crescimento com qualidade de vendas e de atendimento. Estamos bem posicionados para ter novos clientes."
Sobre a possibilidade de um teto para o cartão de crédito – que é um dos produtos do Mercado Pago –, Oliveira diz que medidas que restringem liberdade econômica são ruins. "Medidas restritivas geram distorções e, em algum lugar da cadeia, essa conta será paga." Sobre a possível criação de uma nova CPMF, o executivo diz que entende a situação fiscal do país, mas que a medida pode incentivar o uso do dinheiro em espécie que é exatamente o que se tem tentado evitar com as transações eletrônicas.