Minhas Finanças

Médicos escorregam quando o assunto é planejamento financeiro

Apesar dos altos salários, profissionais se queixam de falta de tempo e conhecimento para gerenciar as finanças

O neurocirurgião Julio César de Aguiar Junior, 37 anos ia financiar dois imóveis para alugar, mas desistiu da ideia. (Arquivo pessoal/Divulgação)

O neurocirurgião Julio César de Aguiar Junior, 37 anos ia financiar dois imóveis para alugar, mas desistiu da ideia. (Arquivo pessoal/Divulgação)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 17 de agosto de 2017 às 05h00.

Última atualização em 29 de agosto de 2017 às 10h30.

São Paulo - Uma corretora resolveu lançar, no ano passado, uma divisão de negócios de planejamento financeiro. E encontrou um público relevante: o de médicos. “No boca a boca, o serviço fez sucesso entre eles”, diz Felipe Chad, diretor da Guide Life.

Para conhecer melhor este nicho, a corretora apoiou um grupo de estudantes da Universidade de Brasília em um projeto da disciplina, no qual foi analisado e traçado o perfil financeiro de médicos do Distrito Federal. O trabalho mostrou como, em geral, esta classe se endivida, como investem e como gastam.

Foram aplicados questionário de respostas objetivas a 106 médicos residentes da cidade. O objetivo inicial foi responder questões chaves que levam médicos a procurarem uma consultoria financeira.

A maior parte dos médicos entrevistados nasceram ou residem em regiões consideradas nobres na cidade, tinham entre 31 e 51 anos, eram casados com, em média, dois filhos, apesar que a quantidade daqueles que não têm filhos também era elevada. A maioria ganhava entre 10 mil reais e 20 mil reais, mas cerca de 20%, recebia, em média, salários acima de 30 mil reais.

Quando foram observados os números referentes ao planejamento financeiro pessoal dos profissionais, foi verificado que 17,92% dos participantes não possuia nenhum tipo de plano de previdência e 26,41% tinhan apenas o plano de previdência público.

Ainda no campo do planejamento financeiro, quase 50% da amostra utilizava como principal forma de pagamento o cartão de crédito e tem no mínimo dois cartões ou mais. A maioria dos entrevistados tinha elevados gastos com moradia, alimentação e transporte.

Sobre endividamento, 31% dos entrevistados não tinham dívidas, 17% estavam endividados devido ao comprometimento da renda com parcelamento de imóveis e 14% estavam endividados devido à falta de um controle orçamentário pessoal.

Falta de conhecimento e tempo são vilões

A maioria dos profissionais disse que os motivos para não aplicar sua renda em investimentos alternativos eram: falta de informação e tempo.

É o caso do neurocirurgião Julio César de Aguiar Junior, 37 anos. “Busquei o serviço de planejamento financeiro por indicação de um colega, pois estava prestes a entrar em financiamentos”.

Julio estava pensando em investir em dois imóveis para alugar, mas foi desestimulado por seu planejador financeiro. “Ao invés disso, investi em um fundo que tinha imóveis na carteira. Além de ter maior rentabilidade e liquidez, evitei uma dor de cabeça de me preocupar com aluguéis. Não teria tempo para gerenciar isso". O médico ainda teria de encarar  um mercado desaquecido, com quase metade da sua renda comprometida com financiamentos.

Outro conselho que Julio resolver seguir foi a contratação de seguros. “A gente tem mania de achar que não vai ficar doente. Mas se eu fico e não recebo salário, como faço? Aprendi a me proteger e inclusive me programar para criar uma reserva financeira e ter qualidade de vida no futuro”.

O neurocirurgião diz que aprendeu que, planejando, pode comprar um carro ou uma casa melhor sem “se matar de trabalhar”. “Estamos acostumados a cuidar dos outros e não da gente. Sinto que passei por um tratamento. Me arrependo, por exemplo, de ter comprado um carro caro, com custo de manutenção altíssimo. Agora penso na viagem que posso fazer e especialização que poderei pagar. Também programo melhor a troca do carro e da casa”.

Já o neurologista Marcus Vinícius Magno Gonçalves, 38 anos, buscou o serviço para verificar se suas decisões eram acertadas. "Tive muitas surpresas. Percebi que muitos investimentos que eu tinha não faziam sentido, e até trabalhos".

O neurocirurgião revisou todas as suas aplicações financeiras, nas quais verificou que eram cobradas taxas altas, e se permitiu períodos de folga, pois viu que não compensava trabalhar horas a mais. "O tempo é o bem mais precioso que temos. Colocando tudo no papel, vi que estes trabalhos não traziam a remuneração que eu pensavam que traziam".

Marcus também resolveu sair de um serviço público, pois viu que o plano de previdência vinculado a ele não compensava: era melhor aumentar o investimento em um plano de previdência privado. "Nós médicos confiamos muito em benefícios públicos, mas vi que é uma crença equivocada", diz.

Ao reduzir em 25% sua carga horária, Marcus consegue agora acompanhar sua carteira de investimentos de perto, bem como gerenciar melhor o seu orçamento e, naturalmente, passar mais tempo com a sua família. "Queria mudar de imóvel, mas vi que não havia necessidade agora. Nós médicos entramos em muitos financiamentos sem pensar muito sobre isso. Mas aprendi que pode ser melhor esperar e juntar o dinheiro para evitar pagar juros".

Como funciona o serviço

Além da necessidade que esses profissionais têm de orientação financeira, os médicos são um público relevante do planejamento financeiro da Guide Life também por outro motivo: podem pagar pelo serviço.

A corretora cobra 3 mil reais por ano para colher informações e traçar um plano de vida para seus clientes, se posicionando como um “family office” da classe média.

Felipe Chad, diretor da divisão de negócios Life, afirma que, atualmente, o planejamento financeiro que é vendido no país em modelos semelhantes é voltado para quem tem um patrimônio de, pelo menos, 1 milhão de reais. "Mas sabemos que há uma demanda reprimida brutal pelo serviço para quem tem menos recursos. Pedimos apenas que nossos clientes tenham, pelo menos, 5 mil reais guardados”, diz.

O plano financeiro vendido pela corretora pode passar pela aquisição de seguros para proteger o patrimônio, escolha de investimentos para a aposentadoria e necessidade de poupar para adquirir bens, como imóveis, ou investir em itens como educação, por exemplo.

Os objetivos são elencados por ordem de prioridade. “Se o cliente quer comprar um Porsche ou guardar dinheiro para a escola do filho, tanto faz. O importante é que ele consiga atingir estes objetivos com tranquilidade, sem se descontrolar”, diz Chad.

A corretora recomenda que este planejamento seja acompanhado de tempos em tempos. “É como uma dieta. Ainda que a esposa tenha sido demitida e o salário aumentou, os objetivos são os mesmos. O plano, portanto, tem de ser adaptado”, conta Chad. É possível, ao final de 12 meses, renovar o plano, com taxa de 80% do valor.

A ideia do serviço não é apontar caminhos para gastar menos, mas, sim, quanto será necessário poupar para conquistar os objetivos almejados pelo cliente e sua família. “Se a família ganha 70 mil reais por ano e gasta 75 mil reais neste mesmo período, tem de estar disposta a mudar o seu padrão de vida”, diz o executivo.

A divisão de planejamento da Guide não indica produtos de investimento de forma direta, apenas seguros e planos de previdência. As reuniões com os clientes, que duram até duas horas, são feitas por profissionais certificados, que podem ou não ter trabalhado no mercado financeiro anteriormente.

Acompanhe tudo sobre:CorretorasDinheiroeducacao-financeiraMédicosplanejamento-financeiro-pessoal

Mais de Minhas Finanças

Por unanimidade, STF derruba cobrança de ITCMD sobre previdência privada

Após dólar bater R$ 6,07, Banco Central vende US$ 845 mi em leilão à vista

IPVA 2025 de SP: pagamento começa a partir de 13 de janeiro; veja calendário

Mega da Virada 2024: por que valor mínimo de apostas online é R$ 30? Como concorrer aos 600 milhões