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Investir por conta própria tem sido melhor que previdência

Pesquisa mostra que entre 2005 e 2011 os fundos de previdência tiveram menor retorno do que os fundos de renda fixa comuns e conservadores


	Gráfico em queda: Taxas de administração altas e conservadorismo são responsáveis pelo menor rendimento da previdência
 (Divulgação/247wallst.com)

Gráfico em queda: Taxas de administração altas e conservadorismo são responsáveis pelo menor rendimento da previdência (Divulgação/247wallst.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2014 às 19h56.

São Paulo – Mesmo depois de passar por todo o sufoco para entender se a melhor opção para você é o PGBL ou o VGBL, a tabela regressiva ou progressiva do imposto de renda, qual é o modelo de resgate e os custos envolvidos, o seu plano de previdência ainda pode trazer um retorno menor do que um fundo de renda fixa conservador e bem menos complexo, daqueles fartamente oferecidos a investidores pessoa física.

Essa é a conclusão da dissertação “Análise de Performance de Fundos de Investimento em Previdência”, elaborada por Tânia Amaral para o curso de mestrado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

O estudo mostrou que, no período de 2005 a 2011, os fundos de previdência tiveram um retorno médio mensal de 0,85%, inferior ao retorno dos fundos de renda fixa, de 0,93%.

Segundo a autora, as maiores taxas de administração dos fundos de previdência em relação aos fundos de renda fixa e a escolha de ativos mais conservadores, como títulos atrelados à taxa Selic, explicam o menor retorno da categoria.

Veja a seguir a tabela apresentada na dissertação de Tânia Amaral que resume o retorno médio mensal dos fundos entre 2005 e 2011:

  Fundos de renda fixa Fundos de previdência Selic
Média 0,93 0,85 1,01
Mediana 0,87 0,80 0,95
Desvio-padrão 0,42 0,36 0,25
Observações 8.736 4.368 --
% da Selic 92% 84% --

*Retorno médio mensal já descontada a taxa de administração e sem o desconto do imposto de renda.

**Mediana é uma medida de tendência central que indica exatamente o valor central de uma amostra de dados e atenua os efeitos de valores muito discrepantes.

Fonte: Dissertação de mestrado “Análise de Performance de Fundos de Investimento em Previdência”, elaborada por Tânia Amaral.

E veja nesta segunda tabela os retornos médios detalhados ano a ano:

Ano Tipo de fundo Tx. de adm. média Tx. de adm. mediana Retorno médio* Retorno mediano*
2005 Previdência 1,61% 1,50% 1,30% 1,32%
Renda fixa 1,74% 0,65% 1,33% 1,40%
2006 Previdência 1,57% 1,50% 1,05% 1,01%
Renda fixa. 1,37% 0,50% 1,14% 1,09%
2007 Previdência 1,47% 1,50% 0,83% 0,79%
Renda fixa 0,98% 0,50% 0,86% 0,87%
2008 Previdência 1,42% 1,50% 0,85% 0,83%
Renda fixa. 0,91% 0,50% 0,90% 0,91%
2009 Previdência 1,40% 1,50% 0,72% 0,68%
Renda fixa 0,83% 0,45% 0,79% 0,75%
2010 Previdência 1,34% 1,20% 0,76% 0,72%
Renda fixa 0,80% 0,45% 0,80% 0,78%
2011 Previdência 1,29% 1,00% 0,86% 0,83%
Renda fixa 0,82% 0,45% 0,87% 0,89%

*Retorno médio mensal já descontada a taxa de administração e sem o desconto do imposto de renda.

Fonte: Dissertação de mestrado “Análise de Performance de Fundos de Investimento em Previdência”, elaborada por Tânia Amaral.

Os resultados foram obtidos a partir da comparação entre os retornos dos fundos de previdência renda fixa - que representam cerca de 90% dos fundos de previdência do mercado, segundo a autora - e os fundos de renda fixa puros, que não admitem alavancagem e são os mais tradicionais da categoria renda fixa.

Foram analisados todos os fundos de previdência renda fixa e de renda fixa puros que estavam ativos no período de 2005 a 2011, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

De acordo com o estudo, os retornos dos fundos de previdência no período ficaram abaixo da taxa livre de risco, equivalente a 96% da taxa Selic.

O grande vilão do baixo retorno dos fundos de previdência, segundo Tânia, é a taxa de administração: de 2005 a 2011 a taxa dos fundos de renda fixa caiu para menos da metade e a dos fundos de previdência foi reduzida em apenas 20%.

Os tipos de ativos que compõem as carteiras dos fundos de previdência seriam a segunda explicação para o seu pior rendimento. O estudo concluiu que, durante o período analisado, os fundos de previdência investiram mais em ativos atrelados à Selic do que os fundos de renda fixa.

Na dissertação, a autora explica que essa concentração de títulos indexados à Selic contraria a lógica esperada para os fundos de previdência, já que esse tipo de ativo é mais conservador e indicado para o curto e médio prazo por causa da alta liquidez. 

“Se o fundo é voltado para a aposentadoria, ele não precisa ser atrelado ao curto prazo porque, teoricamente, não precisaria de liquidez. Sendo assim, o gestor poderia ter uma carteira mais longa, com títulos de prazos mais longos, que podem ter rentabilidade maior”, argumenta Tânia.

Ela ressalta, no entanto, que uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), posterior à realização da dissertação (nº 4.176/13), obriga os fundos de previdência a investir em ativos com prazos mais longos, aumentando a chamada duration da carteira.

Por esse motivo, se o estudo compreendesse os anos de 2012 e 2013 a composição das carteiras poderia ser diferente.

Mas, ainda que recentemente os fundos de previdência venham investindo mais em títulos de prazos mais longos, seu retorno médio pode continuar perdendo dos fundos de renda fixa, porque com esses títulos a carteira dos fundos fica mais sujeita a oscilações no curto prazo, já que ativos com prazos maiores são mais voláteis.

“Com a resolução do CMN os fundos tendem a ter volatilidade maior, portanto vão precisar de uma gestão melhor. Se antes o administrador aplicava em títulos atrelados à Selic e pronto, agora ele terá mais trabalho para mostrar uma boa gestão”, diz Tânia.

Ela acrescenta que, com a inclusão de títulos mais voláteis, inclusive, alguns fundos registraram variações negativas nos últimos dois anos, porque parte dos investidores, acostumada ao conservadorismo do fundo, resgatou os recursos ao verificar a maior oscilação nos rendimentos.

Diante desse novo cenário, outra mudança percebida de 2011 até o momento, segundo Tânia, diz respeito às taxas de administração. Segundo a autora, para não perder mais recursos, alguns fundos reduziram suas taxas de administração. 

Vale a pena?

A principal lição do estudo para o investidor, na visão da autora, é que além de os fundos de previdência apresentarem um retorno menor do que os fundos de renda fixa, investidores podem encontrar mais complexidades para entender os planos de previdência.

“Ao escolher um fundo renda fixa, o investidor estuda os custos e verifica qual fundo tem a melhor performance. Já na previdência existem muitas outras questões envolvidas que o investidor não sabe. Por exemplo, se deve escolher entre VGBL ou PGBL, qual o melhor regime de tributação, os custos e o risco da seguradora”, comenta.

Conforme Tânia destaca, outra desvantagem dos fundos de previdência é justamente o maior risco de crédito, que é o risco da seguradora ou do banco administrador quebrar.

Como os fundos de investimento têm CNPJ próprio, se a gestora do fundo quebrar, outra instituição pode assumir sua gestão, sem prejuízos para os participantes. Já os fundos de previdência são exclusivos e a seguradora é a única cotista. Portanto, se a instituição quebrar o prejuízo é repassado aos investidores.

Ainda que o estudo traga informações importantes sobre o mercado de previdência, segundo Tânia, ele não tem a pretensão de responder de maneira definitiva se vale a pena ou não investir nos fundos de previdência. O objetivo principal é mostrar que outras opções no mercado podem ser mais vantajosas e que antes de investir em um produto desses é preciso fazer uma análise de investimento bastante apurada.

Para Tânia, a primeira análise a ser feita é sobre o objetivo do investimento, se o foco é a aposentadoria ou o resgate do dinheiro no curto ou no médio prazo.

Se o objetivo for a aposentadoria, o investidor deve então fazer uma comparação entre os fundos de previdência e outros ativos, o que já requer um conhecimento maior sobre o mercado, ou então, a consulta a um planejador financeiro.

“Não é uma análise fácil porque ao investir para a aposentadoria não necessariamente deve-se aplicar em um fundo de previdência, é possível investir no Tesouro Direto, em imóveis. Dependendo do perfil do investidor há uma série de variáveis que influencia a escolha”, diz.

Por causa dos altos custos e dos retornos insatisfatórios dos planos de previdência, muitos especialistas têm recomendado o investimento em títulos do Tesouro Direto para quem visa a aposentadoria.

Eles defendem que os próprios planos de previdência investem nesses títulos, portanto, ao comprá-los sem o intermédio das seguradoras, o investidor pode ter o mesmo retorno, mas com custos muito inferiores, obtendo maiores ganhos. 

Para quem já investe em planos de previdência, no entanto, a decisão de resgatar o investimento deve ser feita com muito cuidado porque o desconto do imposto de renda no resgate antecipado pode não compensar a busca por maiores retornos em outras aplicações (veja quando vale a pena fazer o resgate). 

Confira no vídeo a seguir qual é o título do Tesouro Direto mais indicado para a aposentadoria:

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