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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Do alto das torres envidraçadas das grandes corretoras ou das salas de home broker dos pequenos investidores, acionistas do mundo todo nem imaginam que suas decisões de investimento podem estar sob a influência de um elemento bem mais irracional do que supõem, seus próprios hormônios. A descoberta vem de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e põe mais lenha na fogueira da discussão quanto à influência das emoções no comportamento de quem atua no mercado financeiro.
Há poucas semanas, o tema - estudado há anos por psicólgos, médicos e economistas - voltou a ficar em evidência a partir de um artigo do ex-presidente do Banco Central americano (Federal Reserve), Alan Greenspan, segundo o qual nunca haverá um modelo perfeito de risco econômico, já que é impossível prever o ânimo dos investidores. Desta vez, a percepção ganha contornos científicos, a partir da publicação de uma pesquisa que relaciona a disposição de um investidor a correr riscos com o volume diário em seu organismo de testosterona, o hormônio masculino associado a agressividade e interesse sexual, e de cortisol, substância associada aos efeitos do estresse.
Publicado nesta terça-feira, no periódico científico inglês Proceedings of the National Academy of Sciences (Métodos da Academia Nacional de Ciências, em tradução livre), o levantamento baseou-se em amostras de saliva colhidas diariamente, pela manhã e no fim da tarde, entre operadores de bancos e financeiras de Londres. A coleta mostrou que os investidores que começavam o dia com maior nível de testosterona eram os que também tendiam a correr mais riscos e, conseqüentemente, a ganhar mais dinheiro no curto prazo. Já o cortisol aparecia nas situações contrárias, em que os investidores rejeitavam riscos mais significativos e, portanto, mantinham mais baixas suas possibilidades de ganhos.
O estudo também alerta que o efeito dos hormônios tende a ser cumulativo, o que em médio e longo prazo, provoca o efeito inverso em termos de ganhos. Assim como nos animais, as situações em que um homem se considera vitorioso tendem a levar a um aumento de testosterona, que por sua vez eleva a auto-confiança, a disposição ao risco e portanto, aumenta as chances de novas vitórias. Num dado momento, porém, a espiral conhecida como "efeito do vencedor" pode distorcer a percepção de risco a tal ponto que passa a provocar exposição irracional ao perigo.
Já o cortisol promove uma outra espiral, a da frieza e da preservação. Presente com maior intensidade nas situações em que o mercado aparecia mais volátil, a substância pode levar à tendência de encontrar risco onde ele não existe, como descreve o coordenador da pesquisa, John Coates.
Bolhas e recessões
Ex-funcionário de uma mesa de operações do Deutsche Bank em Wall Street, durante a década de 90, em plena bolha da internet, Coates afirma ter começado a se interessar pela influência dos hormônios no comportamento dos investidores ao observar alguns colegas do mercado financeiro. Muitos demonstravam um "comportamento maníaco" e um "sentimento de infalibilidade", como se estivessem sob efeito de drogas, mas essas reações apareciam muito mais claramente nos homens do que nas mulheres, segundo o pesquisador, o que provavelmente se explica por serem provocadas pela variação no hormônio masculino.
Para Coates, a neurociência e a endocrinologia também podem ser úteis para explicar o comportamento dos operadores nas fases extremas do mercado.
"A testosterona tende a aumentar em momentos de euforia, aumentando os riscos e exagerando a elevação dos papéis. Por outro lado, a exposição ao cortisol deve aumentar em momentos de crise, tornando os investidores dramaticamente, e talvez irracionalmente, avessos à risco, o que os leva a exagerar a vendas de posições", analisa.
Outro desdobramento possível do estudo é o de estimular as empresas do setor financeiro a passarem a considerar não apenas o conhecimento técnico e a experiência de seus funcionários, mas também as características condicionantes do funcionamento hormonal.
"Será que uma presença maior de mulheres e de homens mais velhos no mercado ajudaria a estabilizar o aparecimento das bolhas? Se as decisões quanto a risco são parcialmente determinadas pelos hormônios, então uma boa estratégia de redução de risco para os bancos pode incluir a diversificação dos perfis endocrinológicos em seus espaços de operações", afirma Coates, em artigo de sua autoria publicado nesta terça-feira, no jornal inglês Financial Times.
A pesquisa pode ainda reforçar um estudo divulgado há menos de duas semanas por pesquisadores de universidades americanas, segundo os quais os homens estimulados por fotos eróticas de mulheres atraentes tendem a arriscar quantias maiores em operações financeiras do que aqueles expostos a fotos neutras ou assustadoras, como as de animais peçonhentos. A explicação, para os cientistas, pode estar no fato de as mulheres e a possibilidade de ganhar dinheiro estimularem a mesma área do cérebro masculino.