Governo quer poupança digital como meio de pagamento do Bolsa Família
A medida também reforçará um ativo da Caixa que o banco pretende usar a seu favor em futura abertura de capital de suas operações digitais
Reuters
Publicado em 18 de novembro de 2020 às 17h57.
Última atualização em 18 de novembro de 2020 às 21h34.
O governo prepara a migração do cartão cidadão, atual meio de pagamento do Bolsa Família , para a poupança digital da Caixa , que foi utilizada neste ano para a concessão do auxílio emergencial, num movimento que deve fortalecer o movimento de bancarização no país e consolidar as operações digitais do banco estatal.
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A medida também reforçará um ativo da Caixa que o banco pretende usar a seu favor em futura abertura de capital de suas operações digitais.
Em condição de anonimato, duas fontes com conhecimento direto do assunto confirmaram a investida à Reuters. Segundo documento interno do Ministério da Cidadania, a transição envolverá a prorrogação até abril do ano que vem de um contrato firmado no passado entre as partes, ao custo de 210,9 milhões de reais—redução de mais de 10% frente ao que seria pago sem a nova modalidade.
Isso porque a Caixa Econômica Federal propôs a cobrança de 1,89 real por crédito em poupança social digital, ante valor de 2,1569 reais que é atualmente cobrado para pagamento no cartão cidadão.
O valor, contudo, é superior ao patamar de 1,25 real cobrado pelo banco para créditos em outros tipos de conta.
Segundo a Reuters apurou, o estabelecimento do novo valor considerou características específicas do Bolsa Família e do seu público, que deve continuar a buscar canais físicos para realizar saques, o que implica mais custos para o banco em termos de transporte de dinheiro e remuneração paga a lotéricas.
Na prática, a poupança digital irá oferecer aos beneficiários funcionalidades que já valiam para o cartão cidadão da Caixa, como saques no próprio banco, em agências lotéricas ou caixas eletrônicos.
A diferença é que, na partida, os clientes vão contar com os recursos do banco digital da Caixa, podendo realizar transações e pagamentos de contas pelo aplicativo Caixa Tem, numa conta que terá tarifa zero.
"Muitos recebiam o Bolsa Família, mas não tinham conta em nenhum banco. Agora têm uma opção a mais. De graça. E quem usar o banco digital, será uma despesa menor para a Caixa e para o governo", afirmou uma das fontes.
Na visão da mesma fonte, esta será a consolidação da bancarização de 35 milhões de brasileiros que passaram a contar com serviços bancários pela primeira vez neste ano, após terem requerido o recebimento do auxílio emergencial durante a pandemia.
IPO
Em outubro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou que o governo planeja listar na bolsa o braço digital criado para distribuir o auxílio emergencial. A oferta inicial de ações (IPO) envolverá o Caixa Tem, aplicativo da Caixa para movimentação de benefícios.
O auxílio emergencial, principal investida do governo para enfrentar a pandemia de covid-19, tem sido pago exclusivamente pela Caixa desde abril. Com duração até dezembro, ele terá um custo total para a União de 321,8 bilhões de reais.
A ideia é que a migração do cartão cidadão para a poupança digital comece em dezembro e seja escalonada até março.
Para colocá-la em prática, o Ministério da Cidadania, após acertos com a Caixa, encaminhou pedido de aval ao Ministério da Economia para ampliação de vigência do contrato de pagamento do Bolsa Família por mais cinco meses, de 1º de dezembro a 30 de abril do ano que vem.
Uma segunda fonte disse à Reuters que essa janela de tempo foi definida respeitando o limite legal de 60 meses para o contrato.
Procurados, Ministério da Cidadania e Caixa não se manifestaram imediatamente.