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Especialistas apontam as melhores e as piores ações quando a bolsa se recuperar

Vale, Petrobras e siderúrgicas são consideradas pechinchas enquanto papéis de construção, teles e bancos são mais arriscados

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 10h08.

Mesmo sem conseguir vislumbrar qual será o futuro do mercado financeiro, os especialistas garantem que há boas oportunidades de investimento na Bolsa no longo prazo. O agravamento da crise nos Estados Unidos deve provocar uma queda na demanda por commodities, já que haverá menos recursos para financiar a produção das empresas. Mesmo assim, as ações de Vale do Rio Doce, Petrobras e siderúrgicas continuam sendo as principais indicações dos analistas. "Essas ações caíram muito nas últimas semanas e hoje estão baratas em relação ao lucro que devem gerar. São empresas sólidas, que têm boas previsões de fluxo de caixa", explica o analista da corretora Alpes, Fausto Gouveia.

O baixo preço, entretanto, não significa que os papéis não possam perder ainda mais valor. Desde maio, quando o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) atingiu sua máxima histórica impulsionado pela concessão do grau de investimento ao Brasil, as ações da Vale despencaram mais de 40%. As da Petrobras, mesmo diante de novas descobertas de campos de petróleo no pré-sal, acumularam desvalorização de 38%. E as siderúrgicas, que neste ano chegaram a liderar o ranking de melhor rentabilidade na Bolsa, caíram até 60%.

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Como esses papéis também são os preferidos dos investidores estrangeiros, acabam sofrendo mais em momentos de turbulência no mercado internacional. Para fazer caixa e cobrir as perdas em outros mercados, os estrangeiros retiraram 10 bilhões de reais da BM&FBovespa em julho e agosto. Embora nenhum analista arrisque dizer quando esse dinheiro voltará ao Brasil, muito menos quando essas ações voltarão a gerar retorno para os investidores, todos destacam alguns pontos que fazem dos papéis boas oportunidades no longo prazo.

"A Vale é uma das gigantes globais. Ainda que a demanda por minério de ferro caia, a procura deve continuar forte, impulsionada acima de tudo pela Ásia", diz Alexandre Macedo, analista da corretora Elite. Neste ano, a mineradora reajustou seus preços em até 71% e negocia com clientes chineses mais um aumento de cerca de 12%. Para 2009, as projeções do Santander apontam um reajuste de 20% nos preços do minério de ferro. "Esperamos que o bom desempenho da economia chinesa previsto para o final do ano leve as ações da Vale a se recuperarem", diz a instituição em relatório.

Enquanto a Vale negocia com as siderúrgicas chinesas, no Brasil as empresas começam a fazer as contas para futuros repasses aos clientes. O mercado teme que as siderúrgicas não consigam reajustar seus preços na mesma proporção dos aumentos no minério de ferro. Nesse cenário, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) se destaca. As mineradoras Casa de Pedra e Nacional Minérios (Namisa), controladas pela CSN, tornam a companhia auto-suficiente em minério de ferro e ainda permitem a comercialização do excedente. As duas mineradoras trazem também outra vantagem para as ações da siderúrgica: a expectativa de lucro com a venda de participação. Estava prevista para esse ano a abertura de capital da Casa de Pedra, mas com a deterioração do cenário internacional, a companhia não colocou seus planos em prática. Entretanto, manteve o interesse em vender parte ou toda a Namisa, num negócio avaliado em até 10 bilhões de dólares. Dentre os interessados estariam a ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo, e a indiana Tata Steel, além de um consórcio que uniria as maiores siderúrgicas japonesas.

Outra empresa do setor indicada pelos analistas é a Gerdau. "A companhia, além de ser considerada bastante competitiva no segmento de aços longos - utilizados na construção civil -, paga bons dividendos", diz Macedo. A distribuição periódica de lucros também faz das ações de energia uma boa opção de investimento. O setor é tradicionalmente conhecido como bom pagador de dividendos, proporcionando aos acionistas um retorno mesmo com a desvalorização dos papéis na Bolsa. "Além disso, como as tarifas são reajustadas pela inflação, e a inflação está subindo, a tendência é de melhora nos lucros", lembra Macedo.

No caso da Petrobras, embora o petróleo tenha mais de 30% desde a máxima histórica de 147,27 dólares o barril, registrada em 11 de julho, seu preço está 20% acima do verificado há um ano. As incertezas em relação aos campos descobertos no pré-sal não ofuscam as perspectivas de futuro brilhante para a companhia. "A Petrobras é uma petrolífera com grande expertise principalmente na exploração de águas profundas, o que é uma vantagem competitiva", diz Macedo. Ainda que os novos campos não fiquem com a empresa, ela deverá ter o direito de exploração dos blocos já licitados. Só isso já seria suficiente para triplicar as reservas, que atualmente são avaliadas em 14 bilhões de barris.

Negócio de alto risco

Mesmo baratas, nem todas as ações são indicadas para compra. Na opinião dos analistas, o momento não é propício para investimentos em small caps (empresas com valor de mercado inferior a 5 bilhões de reais), já que, além de serem mais arriscados, esses papéis costumam demorar mais que as blue chips (ações de grandes empresas) para se recuperar.

"Não há porto seguro numa situação como a atual, mas as empresas com mercado já consolidado estão mais protegidas. A aposta é na liquidez", lembra Ricardo Martins, gerente de pesquisa da Planner Corretora e campeão da categoria melhor analista de ações, no Guia EXAME de Investimentos Pessoais 2008.

Os papéis do setor de construção também estão fora da lista de recomendações. A venda, às pressas, da construtora Tenda para a Gafisa no começo de setembro mostra como a maré não está favorável para o setor. O negócio foi fechado após as ações da Tenda despencarem mais de 65% em agosto e terem sua classificação rebaixada pelos bancos de investimento Goldman Sachs e Credit Suisse. A Tenda, na avaliação dos dois bancos, teria dificuldades para levantar recursos para financiar seus projetos - uma clara demonstração dos efeitos da crise nos Estados Unidos, que reduziu drasticamente o volume de crédito disponível no mercado. "É um setor que vem sendo penalizado pelo aumento de juros e já reflete essa dificuldade de algumas empresas em entregar os resultados esperados, como mostram as aquisições das últimas semanas", explica Patricia Branco, sócia-gestora da Global Equity.

Das dez ações mais arriscadas do Ibovespa, segundo levantamento da consultoria Cyrnel International, três são de construção: Rossi Residencial, Cyrela e Gafisa. Esses papéis, entretanto, são menos arriscados que as ações da BM&FBovespa (BVMF3). "Com a forte desvalorização nas últimas semanas, as ações da Bolsa saltaram para a liderança do ranking dos papéis mais arriscados", explica Carlos Werneck, gerente de operações da Cyrnel.

Embora apareçam apenas abaixo da vigésima posição no ranking, os papéis do setor de telecomunicações também não são indicados. "Com a venda da Brasil Telecom para a Oi, surgiram muitas dúvida sobre a normatização do setor. Além disso, fica difícil prever o fluxo de caixa futuro das empresas nesse momento de evolução tecnológica", diz Fausto Gouveia, analista da corretora Alpes. Outro ponto destacado pelos analistas é o aumento da concorrência no setor de telefonia móvel sem que haja, no entanto, forte crescimento de mercado. "As empresas vão começar a brigar pelos mesmos clientes. Ou seja, o crescimento de uma significará a queda de outra", afirma Macedo.

Já os bancos brasileiros, apesar de nunca terem trabalhado com hipotecas de alto risco ( subprime ) e de terem se beneficiado, nos últimos trimestres, do aumento da demanda por crédito no Brasil, estão pagando pelos erros das instituições americanas. Neste ano, as ações já caíram até 30%, acima dos 24% do Ibovespa, mesmo com a perspectiva de 30% de crescimento no crédito neste ano. "Existe uma barreira psicológica. Não interessa se o banco é lucrativo ou se o cenário doméstico é positivo. Os investidores simplesmente não aplicam", afirma Fábio Susteras, economista do Banco Real.

Sócio da seguradora AIG, o Unibanco deve sentir ainda mais o impacto da crise. Para não quebrar, a maior seguradora dos Estados Unidos buscou ajuda junto ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), obtendo um empréstimo de 85 bilhões de dólares. Na tentativa de levantar mais algum recurso para financiar suas operações, a AIG pode colocar à venda seus ativos na América Latina, principalmente no Brasil. E o Unibanco seria o comprador natural da parte da AIG na seguradora que os dois têm em sociedade. O banco inclusive possui direito de preferência no negócio.

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