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Para Bradesco, é boa a hora para investir em bolsa

Instituição acredita que o Ibovespa e as bolsas americanas podem se valorizar entre 10% e 15% até o final do ano e lança fundo para aplicar em ações estrangeiras

Joaquim Levy, do Bradesco: um fundo para quem quer investir em Apple ou Bank of America (VEJA RIO)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de março de 2012 às 18h58.

São Paulo - As bolsas mundiais tiveram uma rápida valorização neste início de ano, mas, para a Bradesco Asset Management (BRAM), ainda é boa a hora para investir em ações . Joaquim Levy, diretor-superintendente de BRAM e ex-secretário do Tesouro Nacional, acredita que tanto o Ibovespa quanto as bolsas americanas podem subir entre 10% e 15% até o final de dezembro.

A gestora de recursos, que administra 228 bilhões de reais distribuídos em mais de 500 fundos com 3,1 milhões de quotistas, acaba de lançar uma opção para quem deseja aplicar em ações. Direcionado a brasileiros que buscam maior diversificação na bolsa, o fundo é o primeiro destinado a médios investidores a aplicar apenas em papéis de empresas estrangeiras. As principais empresas da carteira são Bank of America, Walt Disney, Oracle e Apple. Na entrevista abaixo, Levy fala mais sobre a visão da BRAM para a bolsa e sobre o novo fundo:

EXAME.com – Qual é a expectativa da Bradesco Asset para as bolsas neste ano?

Levy – A gente acha que o Ibovespa ainda pode proporcionar um ganho de 10% a 15% até o final do ano. Também estamos otimistas com os Estados Unidos. O índice Standard & Poor’s [atualmente a principal referência dos investidores sobre as bolsas americanas] pode ter uma alta semelhante ao do Ibovespa em dólar. É por isso que estamos lançando um fundo que investe em ações estrangeiras. O produto é voltado para clientes de renda média e alta e para fundos de pensão, que hoje têm dificuldade em investir lá fora devido às barreiras cambiais.

EXAME.com – Quais são as principais diferenças entre investir em ações no Brasil e nos Estados Unidos?

Levy – O mercado acionário deve ser visto como um investimento de longo prazo em qualquer lugar do mundo. A diferença é que o Ibovespa está muito concentrado em empresas de commodities. O investimento em companhias americanas permite uma diversificação interessante para os investidores porque isso reduz o risco. Quando as economias americana ou europeia vão mal, as commodities tendem a ter um comportamento bem mais volátil do que uma carteira que inclui diversas multinacionais americanas que possuem uma presença global.

Outro aspecto que deve ser considerado pelo investidor é que quando as bolsas caem, o dólar tende a subir. Quem investiu num fundo de ações dos EUA, portanto, pode ter eventuais perdas amortecidas pela valorização da moeda americana.

EXAME.com – Mas o câmbio também pode gerar perdas para o investidor do fundo caso o real se valorize ante o dólar, não?

Levy – Com certeza. O risco cambial deve ser entendido por todo mundo que investir no fundo. Mas a Bradesco Asset acha que o dólar deve ficar praticamente estável neste ano, em cerca de 1,70 real. O diretor do Departamento de Economia do banco Bradesco, Octavio de Barros, acredita que pode haver uma leve queda do dólar para 1,65 real.

De qualquer forma, olhando um horizonte de longo prazo, vivemos um momento de real forte. A moeda brasileira até deu uma escorregada no ano passado, mas já se recuperou. Então é um bom momento para comprar ativos lá fora. Há uma série de indicadores positivos em relação à economia americana. A liquidez global é elevada e esse dinheiro deve voltar para a bolsa se o cenário continuar a melhorar. Já se houver uma crise no Brasil, é interessante para o investidor ter uma parte do patrimônio aplicada no exterior.


EXAME.com – Quais são as empresas americanas preferidas do fundo?

Levy – Fazemos os investimentos sem que o dinheiro tenha necessariamente de sair do Brasil. Nós compramos somente BDR [Brazilian Depositary Receipts], que são negociados na BM&FBovespa. Tratam-se de recibos de ações negociadas em bolsas estrangeiras que comprovam a propriedade dos papéis e podem ser comprados na bolsa brasileira já há cerca de um ano e meio.

EXAME.com – A Bovespa permite a negociação de BDR de cerca de 70 empresas diferentes, mas nenhum deles possui muita liquidez. Isso não é um risco adicional para o investidor brasileiro?

Levy – Não. O BDR pode ser criado ou destruído. Se um investidor exige um deságio muito grande para comprar um papel em poder do fundo, a gente pode ‘destruir’ o BDR. Vendemos a ação que dá lastro ao BDR em uma bolsa estrangeira e trazemos o dinheiro de volta para o fundo. Da mesma forma, se a gente quiser comprar um papel que está com um ágio representativo em relação à cotação nos Estados Unidos, podemos ‘criar’ um BDR por meio do procedimento inverso. É por isso que o investidor de nosso fundo que decide resgatar o dinheiro precisa esperar cinco dias para que os recursos entrem em sua conta corrente [na Bovespa, esse prazo é de três dias]. Esse é o tempo da operação cambial.

EXAME.com – Entre os BDR negociados na Bovespa, quais são os preferidos do fundo?

Levy – Nossa maior posição está em papéis do Bank of America. Achamos que os bancos americanos andaram apanhando muito e que o Bank of America ainda está barato. Ainda no setor financeiro, compramos American Express que está em uma excelente fase. Também temos Walt Disney, que é uma eterna preferida dos brasileiros [risos].

Um setor que achamos bem interessante é o de tecnologia de informação. Praticamente não há esse tipo de empresa na Bovespa, o que garante uma boa diversificação para o portfólio de nossos clientes com um potencial de valorização atraente. Oracle, Apple e Cisco estão entre as dez principais posições do fundo em TI.

Em commodities, temos a mineradora Freeport-Mcmoran e uma empresa que presta serviços para petrolíferas, a Schlumberger. Para completar as dez principais posições, ainda temos McDonald’s e Caterpillar. No total, queremos sempre ter umas 20 ações em carteira.

EXAME.com – Como vocês escolhem as ações? Há uma equipe de analistas responsável por olhar a bolsa americana?

Levy – Sim, já temos os analistas. E também planejamos contratar alguns ‘advisors’ que acompanhem a bolsa americana de perto e tenham conhecimento técnico suficiente para nos ajudar na escolha dos papéis. Seria uma forma de nos mantermos sempre atualizados sobre o movimento dos mercados nos EUA.

EXAME.com – O fundo de ações americanas está aberto a todos os clientes do Bradesco?

Levy – Não. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) só permitia que investidores superqualificados, com mais de 1 milhão de reais, comprassem BDR. Conversamos com eles e houve a autorização para que as quotas do fundo fossem vendidas para investidores qualificados [aqueles que possuem ao menos 300.000 reais em aplicações financeiras]. Achamos que faz sentido para esse cara ter uma diversificação internacional.

Já em relação ao varejo em geral, achamos que ainda não é a hora de oferecer o fundo. Buscamos um investidor que tem conhecimento suficiente para entender o risco do mercado de ações, o risco cambial e o risco americano. Ainda não era a hora de oferecer para todo mundo.


EXAME.com – Por que só agora, quase um ano e meio após o lançamento dos BDR, surgiu o primeiro fundo brasileiro aberto a médios investidores para aplicar nesses papéis?

Levy – Acho que o cenário internacional estava muito ruim e os BDR não tinham força para deslanchar. Nós achávamos que iria melhorar e começamos a desenvolver o produto. Conversamos com a BM&FBovespa, com a CVM e com a Previc [que regula os fundos de pensão]. Os reguladores gostaram muito da ideia porque é uma forma de os fundos de pensão diversificarem os investimentos com segurança. Desenvolver o produto, entretanto, leva tempo.

EXAME.com – O fundo tem outros riscos, como derivativos?

Levy – Não. Os fundos praticamente só investem em ações. Só o caixa que fica aplicado em renda fixa enquanto esperamos uma oportunidade na bolsa. Mas não temos alavancagem nem derivativos.

EXAME.com – Qual é a aplicação mínima?

Levy – O dinheiro está dividido em dois fundos. O Bradesco FIA BDR Nível I é direcionado aos clientes do private banking (de alta renda), exige aplicação inicial de 20.000 reais e cobra taxa de administração de 1,5% ao ano. Já o Bradesco FIC BDR Nível I é para clientes de média renda. A aplicação mínima é de 10.000 reais, com taxa de 2,5% ao ano.

EXAME.com – Há outras taxas?

Levy – Não. Cobramos só taxa de administração, que é baixa quando comparada às de outros fundos de ações. Não tem taxa de performance nem de saída. Também não tem prazo de carência para resgate. É para os clientes pegarem gosto pela coisa.

EXAME.com – Não dá para avaliar o sucesso de um fundo com menos de um mês de funcionamento, mas como estão os resultados?

Levy – Captamos 12 milhões de reais e achamos que o fundo tem potencial para atrair muito mais dinheiro. Em fevereiro até o dia 22, o retorno líquido de taxa de administração foi de 3,7% em dólar - comparado à alta de 3,4% do S&P. A queda do dólar reduziu o retorno em reais para 2,1%, anda algo bem superior às aplicações de renda fixa.

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São Paulo - As bolsas mundiais tiveram uma rápida valorização neste início de ano, mas, para a Bradesco Asset Management (BRAM), ainda é boa a hora para investir em ações . Joaquim Levy, diretor-superintendente de BRAM e ex-secretário do Tesouro Nacional, acredita que tanto o Ibovespa quanto as bolsas americanas podem subir entre 10% e 15% até o final de dezembro.

A gestora de recursos, que administra 228 bilhões de reais distribuídos em mais de 500 fundos com 3,1 milhões de quotistas, acaba de lançar uma opção para quem deseja aplicar em ações. Direcionado a brasileiros que buscam maior diversificação na bolsa, o fundo é o primeiro destinado a médios investidores a aplicar apenas em papéis de empresas estrangeiras. As principais empresas da carteira são Bank of America, Walt Disney, Oracle e Apple. Na entrevista abaixo, Levy fala mais sobre a visão da BRAM para a bolsa e sobre o novo fundo:

EXAME.com – Qual é a expectativa da Bradesco Asset para as bolsas neste ano?

Levy – A gente acha que o Ibovespa ainda pode proporcionar um ganho de 10% a 15% até o final do ano. Também estamos otimistas com os Estados Unidos. O índice Standard & Poor’s [atualmente a principal referência dos investidores sobre as bolsas americanas] pode ter uma alta semelhante ao do Ibovespa em dólar. É por isso que estamos lançando um fundo que investe em ações estrangeiras. O produto é voltado para clientes de renda média e alta e para fundos de pensão, que hoje têm dificuldade em investir lá fora devido às barreiras cambiais.

EXAME.com – Quais são as principais diferenças entre investir em ações no Brasil e nos Estados Unidos?

Levy – O mercado acionário deve ser visto como um investimento de longo prazo em qualquer lugar do mundo. A diferença é que o Ibovespa está muito concentrado em empresas de commodities. O investimento em companhias americanas permite uma diversificação interessante para os investidores porque isso reduz o risco. Quando as economias americana ou europeia vão mal, as commodities tendem a ter um comportamento bem mais volátil do que uma carteira que inclui diversas multinacionais americanas que possuem uma presença global.

Outro aspecto que deve ser considerado pelo investidor é que quando as bolsas caem, o dólar tende a subir. Quem investiu num fundo de ações dos EUA, portanto, pode ter eventuais perdas amortecidas pela valorização da moeda americana.

EXAME.com – Mas o câmbio também pode gerar perdas para o investidor do fundo caso o real se valorize ante o dólar, não?

Levy – Com certeza. O risco cambial deve ser entendido por todo mundo que investir no fundo. Mas a Bradesco Asset acha que o dólar deve ficar praticamente estável neste ano, em cerca de 1,70 real. O diretor do Departamento de Economia do banco Bradesco, Octavio de Barros, acredita que pode haver uma leve queda do dólar para 1,65 real.

De qualquer forma, olhando um horizonte de longo prazo, vivemos um momento de real forte. A moeda brasileira até deu uma escorregada no ano passado, mas já se recuperou. Então é um bom momento para comprar ativos lá fora. Há uma série de indicadores positivos em relação à economia americana. A liquidez global é elevada e esse dinheiro deve voltar para a bolsa se o cenário continuar a melhorar. Já se houver uma crise no Brasil, é interessante para o investidor ter uma parte do patrimônio aplicada no exterior.


EXAME.com – Quais são as empresas americanas preferidas do fundo?

Levy – Fazemos os investimentos sem que o dinheiro tenha necessariamente de sair do Brasil. Nós compramos somente BDR [Brazilian Depositary Receipts], que são negociados na BM&FBovespa. Tratam-se de recibos de ações negociadas em bolsas estrangeiras que comprovam a propriedade dos papéis e podem ser comprados na bolsa brasileira já há cerca de um ano e meio.

EXAME.com – A Bovespa permite a negociação de BDR de cerca de 70 empresas diferentes, mas nenhum deles possui muita liquidez. Isso não é um risco adicional para o investidor brasileiro?

Levy – Não. O BDR pode ser criado ou destruído. Se um investidor exige um deságio muito grande para comprar um papel em poder do fundo, a gente pode ‘destruir’ o BDR. Vendemos a ação que dá lastro ao BDR em uma bolsa estrangeira e trazemos o dinheiro de volta para o fundo. Da mesma forma, se a gente quiser comprar um papel que está com um ágio representativo em relação à cotação nos Estados Unidos, podemos ‘criar’ um BDR por meio do procedimento inverso. É por isso que o investidor de nosso fundo que decide resgatar o dinheiro precisa esperar cinco dias para que os recursos entrem em sua conta corrente [na Bovespa, esse prazo é de três dias]. Esse é o tempo da operação cambial.

EXAME.com – Entre os BDR negociados na Bovespa, quais são os preferidos do fundo?

Levy – Nossa maior posição está em papéis do Bank of America. Achamos que os bancos americanos andaram apanhando muito e que o Bank of America ainda está barato. Ainda no setor financeiro, compramos American Express que está em uma excelente fase. Também temos Walt Disney, que é uma eterna preferida dos brasileiros [risos].

Um setor que achamos bem interessante é o de tecnologia de informação. Praticamente não há esse tipo de empresa na Bovespa, o que garante uma boa diversificação para o portfólio de nossos clientes com um potencial de valorização atraente. Oracle, Apple e Cisco estão entre as dez principais posições do fundo em TI.

Em commodities, temos a mineradora Freeport-Mcmoran e uma empresa que presta serviços para petrolíferas, a Schlumberger. Para completar as dez principais posições, ainda temos McDonald’s e Caterpillar. No total, queremos sempre ter umas 20 ações em carteira.

EXAME.com – Como vocês escolhem as ações? Há uma equipe de analistas responsável por olhar a bolsa americana?

Levy – Sim, já temos os analistas. E também planejamos contratar alguns ‘advisors’ que acompanhem a bolsa americana de perto e tenham conhecimento técnico suficiente para nos ajudar na escolha dos papéis. Seria uma forma de nos mantermos sempre atualizados sobre o movimento dos mercados nos EUA.

EXAME.com – O fundo de ações americanas está aberto a todos os clientes do Bradesco?

Levy – Não. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) só permitia que investidores superqualificados, com mais de 1 milhão de reais, comprassem BDR. Conversamos com eles e houve a autorização para que as quotas do fundo fossem vendidas para investidores qualificados [aqueles que possuem ao menos 300.000 reais em aplicações financeiras]. Achamos que faz sentido para esse cara ter uma diversificação internacional.

Já em relação ao varejo em geral, achamos que ainda não é a hora de oferecer o fundo. Buscamos um investidor que tem conhecimento suficiente para entender o risco do mercado de ações, o risco cambial e o risco americano. Ainda não era a hora de oferecer para todo mundo.


EXAME.com – Por que só agora, quase um ano e meio após o lançamento dos BDR, surgiu o primeiro fundo brasileiro aberto a médios investidores para aplicar nesses papéis?

Levy – Acho que o cenário internacional estava muito ruim e os BDR não tinham força para deslanchar. Nós achávamos que iria melhorar e começamos a desenvolver o produto. Conversamos com a BM&FBovespa, com a CVM e com a Previc [que regula os fundos de pensão]. Os reguladores gostaram muito da ideia porque é uma forma de os fundos de pensão diversificarem os investimentos com segurança. Desenvolver o produto, entretanto, leva tempo.

EXAME.com – O fundo tem outros riscos, como derivativos?

Levy – Não. Os fundos praticamente só investem em ações. Só o caixa que fica aplicado em renda fixa enquanto esperamos uma oportunidade na bolsa. Mas não temos alavancagem nem derivativos.

EXAME.com – Qual é a aplicação mínima?

Levy – O dinheiro está dividido em dois fundos. O Bradesco FIA BDR Nível I é direcionado aos clientes do private banking (de alta renda), exige aplicação inicial de 20.000 reais e cobra taxa de administração de 1,5% ao ano. Já o Bradesco FIC BDR Nível I é para clientes de média renda. A aplicação mínima é de 10.000 reais, com taxa de 2,5% ao ano.

EXAME.com – Há outras taxas?

Levy – Não. Cobramos só taxa de administração, que é baixa quando comparada às de outros fundos de ações. Não tem taxa de performance nem de saída. Também não tem prazo de carência para resgate. É para os clientes pegarem gosto pela coisa.

EXAME.com – Não dá para avaliar o sucesso de um fundo com menos de um mês de funcionamento, mas como estão os resultados?

Levy – Captamos 12 milhões de reais e achamos que o fundo tem potencial para atrair muito mais dinheiro. Em fevereiro até o dia 22, o retorno líquido de taxa de administração foi de 3,7% em dólar - comparado à alta de 3,4% do S&P. A queda do dólar reduziu o retorno em reais para 2,1%, anda algo bem superior às aplicações de renda fixa.

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