Dia das Crianças: dicas ajudam os pais a poupar e orientar filhos
Além dos presentes, data também pode ser um momento para pensar em começar uma reserva financeira pensando no futuro dos filhos
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2017 às 14h10.
Comemorar o Dia das Crianças dando algum tipo de presente aos filhos é prática comum no Brasil, entre as famílias que têm condições de fazer isso, mesmo com algum esforço.
Mas muitos começam a pensar na data também como momento para iniciar uma reserva financeira que, mais tarde, poderá ajudar as crianças a realizarem outros sonhos ou necessidades, como pagar os estudos, um curso ou uma viagem ou mesmo iniciar um empreendimento que lhes garanta o futuro.
Uma pesquisa do aplicativo de finanças GuiaBolso mostra que, com os primeiros sinais de recuperação da economia, quase 82% dos pais entrevistados darão algum presente neste Dia das Crianças, contra 72% no ano passado, quando o desemprego reduziu a renda de milhões de famílias e a perspectiva para a economia era mais pessimista. A sondagem foi realizada com 779 adultos entre os dias 29 de setembro e 1 de outubro.
Maioria pretende gastar de R$ 50 a R$ 100
Mesmo no grupo de quem não tem filhos, 46% dos consultados pelo GuiaBolso pretendem dar presentes para sobrinhos, afilhados e outras crianças. A maioria (59%) quer gastar até R$ 50; 35% pretendem dar algo entre R$ 50 e R$ 100; e 6% vão optar por itens acima de R$ 100.
Dados levantados pela SerasaConsumidor, da Serasa Experian, numa base maior de entrevistados, indicam que mais da metade das pessoas (56%) vão presentear alguma criança no dia 12 de outubro. A sondagem foi realizada no serviço de atendimento da Serasa e ouviu 3.670 pessoas em todo o país, entre 27 de setembro e 3 de outubro.
Quase metade dará brinquedos de presente
Dos que vão presentear, segundo a Serasa, 45%, ou quase a metade, pretendem comprar brinquedos. Outros 23% optarão por roupas, calçados e acessórios, 12% farão algum passeio, 8% pretendem comprar jogos eletrônicos e 8% aparelhos eletrônicos. Apenas 2% irão gastar com outras coisas, como perfumes, doces, livros, e outros 2% não souberam dizer qual o seu planejamento para a data. A maioria (62%) pretende gastar até R$ 100. Outros 18% entre R$101 e R$200, 14% entre R$ 201 e R$ 900 e 3% acima de R$ 1 mil.
Data pode ser lembrete para poupar
O especialista em investimentos da Ourinvest Mauro Calil acredita que eventos como Dia das Crianças, Natal e aniversários têm de ser comemorados com muito companheirismo e alegria, mas não necessariamente com consumo, podendo servir como lembretes para que os pais iniciem e realimentem, nessas datas, um reserva financeira para os filhos.
O consultor conta que em suas palestras sobre planejamento financeiro ministradas para mulheres e seus filhos, costuma perguntar quais mães trocariam, diante de toda experiência acumulada na vida adulta, 30% dos brinquedos que ganharam por investimentos. E a maioria delas levanta a mão e diz que trocaria. Mas não é isso que acontece na prática.
“Muitos costumam gastar seguidamente, durante muitos anos, recursos que pelo menos em parte poderiam ser bem melhor aplicados”, afirma Calil.
Tesouro direto: boa porta de entrada
Segundo consultores de finanças, com poucos recursos, até menores do que a média de R$ 50 a R$ 100 reais que as famílias se dispõem a gastar presenteando, é possível iniciar aplicações de rentabilidade atraente para formar uma reserva para os pequenos.
Para Carlos Soares, analista de investimentos da Magliano Corretora, uma boa opção para quem decide iniciar uma reserva para os filhos são os títulos do Tesouro Direto.
Nele, é possível comprar um título do governo corrigido pela inflação que vai vencer daqui 10, 20 anos, garantindo uma poupança que renderá juros sobre juros e multiplicará o valor. Se necessário, o dinheiro pode ser resgatado antes. O devedor é o governo, que se compromete a devolver o dinheiro corrigido.
Caminho para aplicação
“O ideal como porta de entrada para a pessoa leiga, que conhece pouco o mercado, seriam títulos do Tesouro indexados à inflação, com boa oportunidade de rendimento no atual cenário de queda dos juros”, explica Soares, lembrando que muita gente não busca alternativas à tradicional caderneta de poupança, e acaba perdendo a oportunidade de ganhos melhores.
Não é possível comprar um título do Tesouro no banco ou por conta própria – o investidor terá de procurar uma corretora e se cadastrar. No caso da Magliano, não há custo de cadastro, e pode-se aplicar a partir de R$ 37,96 (valores de 4 de outubro), que equivale a uma parcela do título do Tesouro. A aplicação pode ser feita em nome do pai ou da mãe ou, se eles preferirem, da própria criança, mas ela precisará ter um CPF e conta bancária em seu nome.
Consumo vira poupança para o futuro
Soares faz as contas, num exemplo em que a família, em vez de gastar R$ 1 mil com presentes, decidisse aplicar metade do valor (R$ 500) e, em lugar de ficar na caderneta de poupança, optasse por um título do Tesouro indexado ao IPCA.
O exemplo leva em conta uma aplicação única, para resgate a longo prazo. O papel seria uma NTN-B Principal, que só paga os juros no vencimento, em 2035, por exemplo.
O investidor que compra esse título tem a segurança de proteger seu dinheiro dos efeitos corrosivos da inflação; o risco é o das oscilações das taxas de juros no Brasil, mas que nada significam para quem levar o papel até o vencimento. As flutuações só afetam quem vende o papel antes e pode pegar uma fase ruim de mercado.
Aplicação tem liquidez
Caso a pessoa precise de liquidez antes, diz o consultor, poderá vender o papel a qualquer momento (o Tesouro recompra títulos diariamente), podendo ganhar ou perder na operação.
O risco de crédito, ou seja, a possibilidade de não receber o dinheiro aplicado de volta, é baixíssimo, pois o devedor é o próprio governo brasileiro. Por isso, os títulos públicos são os únicos considerados livres de risco e não precisam da proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Rendimento mais atrativo que a poupança
Alguém que fizesse essa aplicação em NTN-B, ou Tesouro IPCA, por exemplo, em 4 de outubro, para vencimento em 15 de maio de 2035, teria um rendimento garantido de 5,06% ao ano, mais a variação da inflação. Estimando IPCA de 4% ao ano para o período, menos 0,3% ao ano da taxa de custódia e 0,3% cobrados pela corretora, o resgate no prazo combinado seria de R$ 1.959,11, já descontado o Imposto de Renda.
A aplicação dos mesmos R$ 500 na caderneta de poupança — que quando a Selic (taxa básica de juros) está abaixo de 8,5% ao ano paga 70% da Selic, mais a variação da Taxa Referencial de juros, fixada pelo BC — seria de R$ 1.360,93 no prazo de resgate, ou seja, 30,5% a menos.
Soares explica que para essa simulação foi considerado retorno da caderneta de poupança constante em 0,469% ao mês. Mas lembra que, com o cenário de queda das taxas de juros, o rendimento tende a ser menor ao longo dos próximos meses, portanto, foi admitido um cenário otimista de caderneta de poupança. Já os juros da NTN-B, uma vez comprado o papel, não mudam até o vencimento, variando apenas a inflação do período.
Correndo um pouco mais de riscos
Na visão do consultor Mauro Calil, do Ourinvest, quando se investe com foco nas crianças, é possível que os pais sejam um pouco mais arrojados ao escolher aplicações. “Vejo riscos menores, porque se estará pensando em investir para o futuro, no longo prazo, com mais espaço para errar e acertar.” Acrescenta que “os pais também não precisam se preocupar em investir muito, mas com assiduidade e maior frequência.”
Fundos imobiliários podem ser boa opção
Nesse cenário, ele vê como interessantes aplicações em renda variável, como fundos imobiliários. “A pessoa pode investir valores pequenos, a partir de R$ 90, R$ 100 reais. O mercado imobiliário é cíclico e estamos num momento positivo, de trajetória ascendente para os próximos anos”, avalia Calil.
Liderança no ranking em setembro
No mês de setembro, os fundos imobiliários lideraram o ranking de investimentos financeiros. O Ifix, que mede a variação dos fundos, fechou com rentabilidade nominal (sem descontar a inflação) de 6,57%.
Nessa modalidade, o investidor coloca o dinheiro em negócios imobiliários, como prédios comerciais, residenciais, shopping centers, hospitais, agências bancárias. A rentabilidade do capital investido se dá por meio da distribuição de resultados das operações do fundo, como o aluguel pago por um imóvel da carteira do fundo, arrendamento ou pela venda das suas cotas.
De olho nos riscos
Mas assim como podem render mais que outros investimentos, os fundos imobiliários têm riscos, como o envolvido nas variações do preço do imóvel em si ou ficar sem inquilino, ou seja, sem renda, com a possibilidade de a cota do fundo se desvalorizar na bolsa e, com isso, trazer perdas ao investidor.
Calil também destaca a opção em fundos de debêntures incentivadas, títulos de crédito privado com isenção de Imposto de Renda, emitidos por empresas abertas. que desejam financiar seus projetos de infraestrutura a um custo mais acessível. “São papéis que podem render até 120% do CDI”, estima. É possível investir valores baixos, por meio de banco, corretora ou Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, diz o consultor.
Vale lembrar, contudo, que debêntures não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), e que o principal risco é a empresa que emitiu o papel não honrar os pagamentos de juros ou dar calote no momento de devolver o valor investido. Calil lembra que o investimento por meio de um fundo dilui os riscos, pois o gestor consegue aplicar os recursos em papéis de qualidade, e de várias empresas ao mesmo tempo.
Dicas ajudam a orientar sobre dinheiro e valor das coisas
Fazer uma reserva financeira para os pequenos não é a única orientação de consultores para quem tem filhos, netos ou sobrinhos pequenos. Também é preciso, segundo eles, conversar e mostrar, desde cedo, como se pode lidar com o dinheiro e descobrir o valor das coisas.
Boa parte do aprendizado das crianças vem da observação do comportamento e interação com os adultos, explica Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do Itaú Unibanco.
Ela lembra que situações de dúvida no dia a dia das crianças acontecem o tempo inteiro, muitas delas envolvendo o uso do dinheiro. Pensando nisso, ela preparou sete dicas que podem ser muito úteis nessa orientação.
1) Falar de dinheiro ainda é tabu para boa parte dos brasileiros. Mas é algo que precisa mudar. Dinheiro deve ser tratado como parte importante da vida, que ajuda a realizar sonhos e que precisa ser usado de forma consciente. Portanto, fale naturalmente com as crianças sobre escolhas, cuidado, consciência e, especialmente, sobre o bom uso daquilo que dá bastante trabalho para ganhar;
2) A partir dos 6 anos, a criança já é capaz de começar a cuidar do próprio dinheiro. Se puder, dê uma pequena semanada e explique quais gastos devem sair dali (lanche da escola, por exemplo). Se o dinheiro acabar antes, não faça adiantamentos ou complementos. A função da semanada é ensinar a preparar e cumprir um orçamento. No caso da mesada, especialistas recomendam a prática a partir de 11 anos;
3) Envolva os pequenos na lista do supermercado, pedindo ajuda a eles na hora da compra. É uma boa forma para ensinar sobre planejamento e escolhas conscientes;
4) Planeje com as crianças os objetivos em comum da família, como uma viagem de fim de ano. Envolva-as para ajudarem a poupar na conta de telefone ou de luz e usar as economias para atingir esse objetivo;
5) Quando for sacar dinheiro no caixa eletrônico e a criança estiver junto, explique de onde ele vem. Muitas crianças imaginam que vem da máquina, então é uma hora boa para explicar que é o resultado do seu trabalho, por exemplo;
6) Quando fizer uma compra no cartão, explique também como funciona. Fale sobre como você vai pagar, se vale a pena comprar agora ou esperar mais um tempo etc;
7) Para as famílias endividadas, a orientação é a mesma que para qualquer outra dificuldade: os adultos precisam se acertar antes de conversar com as crianças e dar a eles a segurança que estão no controle.