Consumidor ainda não sente os efeitos da inflação em queda
Em geral, consumidores não perceberam quaisquer sinais de melhora no seu poder de compra nos últimos meses
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de maio de 2017 às 11h21.
Última atualização em 10 de maio de 2017 às 11h21.
São Paulo - A pequena alta da inflação de 0,14% em abril - a menor para o mês desde o início do Plano Real, em 1994 - registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi influenciada sobretudo pela queda nos preços administrados, como combustíveis e energia elétrica.
O cenário, entretanto, ainda não significa um alívio para o bolso dos consumidores, que não perceberam quaisquer sinais de melhora no seu poder de compra nos últimos meses.
O jornal O Estado de S. Paulo foi às ruas para entender como as pessoas estão sentindo a queda nos preços medida pelo IPCA. De uma maneira geral, comerciantes, motoristas e aposentados ouvidos pela reportagem têm adotado a estratégia de cortar quaisquer gastos desnecessários ou pesquisar muito antes de comprar algum produto ou contratar um novo serviço.
O Cine Sala, em Pinheiros, por exemplo, gasta cerca de R$ 6 mil por mês com a conta de luz. O valor poderia ser bem maior, não fosse a diligência do gerente Guilherme Massoni, que controla cada lâmpada acesa do estabelecimento.
Durante a semana, quando o movimento é menor, Massoni orienta seus funcionários a deixar o ar condicionado desligado e a só acender as luzes internas e do letreiro quando a noite começa a cair.
Assim, diz, consegue manter o ritmo de quatro sessões diárias de filmes. "O coração do cinema, nosso projetor, não para. Mas a gente só liga o equipamento quando o filme está prestes a começar", afirma.
O sobe e desce dos preços da energia elétrica nos últimos meses também atingiu um dos negócios mais movimentados da região. A hamburgueria Na Garagem subiu seus preços na semana passada para conseguir arcar com o aumento das despesas com as contas, entre elas a de luz, além de outros custos com os fornecedores.
O local está quase sempre abarrotado de clientes, mas os poucos momentos de folga são "valiosos" para tentar economizar o que for possível, explicam os funcionários.
"Quando não tem ninguém por aqui, desligamos uma das chapas e apagamos as luzes do salão. Se não fizermos isso o gasto fica muito alto", conta Gessciane de Almeida, irmã do dono da hamburgueria.
A situação não é diferente para quem trabalha dirigindo. Na profissão de taxista há oito anos, Carlos Reis chegou a substituir o tipo de combustível do seu carro em busca de maior economia.
Os 130 quilômetros que ele consegue rodar com um tanque cheio de GNV ficou mais caro desde o começo do mês, quando Reis percebeu um aumento de mais de dez centavos por metro cúbico do combustível em diversos postos da capital paulista.
"Às vezes eu cruzo a cidade só pra abastecer em um posto mais barato. Meu poder de compra? Tá pior a cada dia", reclama.
Para além dos preços administrados, o preço dos alimentos, que representou um discreto alívio no mês de março, mas voltou a subir 0,58% em abril, ainda é um dos fatores que mais pesam no orçamento das famílias.
Tanto é que a estratégia de bater perna à procura das melhores ofertas, e a substituição de produtos de marcas famosas por mercadorias mais baratas, voltou a ser uma opção para um número cada vez maior de pessoas.
O escrevente João Ferreira de Morais não tem medo de esconder. Baixou seu padrão de consumo nas compras de supermercado, e já há algum tempo visita pelo menos três estabelecimentos diferentes para se assegurar de que está fazendo o melhor negócio.
"Rapaz, fazia tempo que o meu salário de escrevente não comprava tão pouco. Parece que diminui a cada dia", relata João, profissional de um Tabelião de Notas há mais de 35 anos.
"Parece que dão pra gente com uma mão e tiram com a outra. Se alguma conta vem mais baixa em algum mês, é quase certo que vamos ter outro gasto que consuma o que estamos poupando", desabafa.