Minhas Finanças

Como escolher uma boa aplicação de renda fixa

Presidente do banco Bracce explica o que deve ser avaliado pelo investidor antes de comprar um título do governo, de banco ou de empresa

Michael Esrubilsky, do banco Bracce: Tesouro Direto é o mais seguro (Divulgação)

Michael Esrubilsky, do banco Bracce: Tesouro Direto é o mais seguro (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2011 às 13h54.

São Paulo - O momento da economia brasileira e mundial favorece investimentos em renda fixa. Incertezas sobre o fim da crise na Europa, a confusão política no Oriente Médio e o novo ciclo de aumento de juros no Brasil levaram muitos investidores a tirar dinheiro da bolsa nas últimas semanas para colocá-lo em aplicações mais seguras. Não são poucos os gestores de recursos que acreditam que, nesse cenário, a rentabilidade média das ações só deve bater a renda fixa caso o investidor aguarde um movimento de correção na bolsa para ir às compras (clique aqui e veja entrevista com os principais executivos da Fundação Cesp, que possui 18 bilhões de reais sob gestão e adotou essa estratégia).

Para o pequeno investidor, há diversas formas de aplicar em renda fixa. A mais popular delas é a caderneta de poupança, oferecida por qualquer banco de varejo. A simplicidade, a inexistência de taxa de administração e a isenção da cobrança de Imposto de Renda são as grandes vantagens dessa aplicação. O problema da poupança é a baixa rentabilidade: 6% ao ano mais TR. Em 2010, isso foi equivalente a um retorno de 6,9% - algo insuficiente para evitar a corrosão do valor do dinheiro pela inflação porque o IGP-M do ano alcançou 11,3%.

Outra opção simples para aplicar o dinheiro são os fundos de renda fixa, que compram papéis de dívida do governo, de empresas e dos bancos brasileiros. Nesse caso, é necessário descontar o Imposto de Renda - que come entre 22,5% e 15% do total de ganhos, dependendo do prazo de aplicação. Os fundos também cobram taxa de administração, que incide sobre todo o valor aplicado. Para investidores de varejo, corresponde em média a 1,12% do investimento. Pode parecer pouco, mas há uma lógica perversa por trás dessa cobrança que pune o pequeno investidor. Para quem aplica até 1.000 reais em um fundo de renda fixa, a taxa de administração média é quase três vezes maior e alcança 3,19%. Num fundo como esse, é provável que o investidor tenha um retorno parecido com o da poupança.

Opção aos fundos de renda fixa, os fundos DI são ainda menos vantajosos. A rentabilidade bruta desses produtos, que investem em títulos que remuneram os investidores de acordo com os juros pagos pelo governo para financiar a dívida pública, tem sido menor que a dos fundos de renda fixa. O IR é o mesmo. Já as taxas de administração são um pouco maiores. Se o investidor não prestou atenção à taxa cobrada pelo fundo, é bem provável que o ganho que excedeu o retorno da poupança tenha ficado com a instituição financeira que o administra.

A conclusão é que o investidor deve se concentrar na busca de uma taxa de administração menor na hora de escolher o melhor investimento em renda fixa. Ou então comprar um título diretamente de seu emissor, sem a intermediação de um fundo de investimentos. Para avaliar as melhores opções, EXAME.com conversou com Michael Esrubilsky, diretor-presidente do banco Bracce, uma instituição financeira especializada em emissão de papéis de renda fixa de médias empresas com faturamento de ao menos 30 milhões de reais. Leia abaixo seus conselhos:

1 – Títulos públicos

É o investimento em renda fixa mais seguro do país. A possibilidade de um calote do governo é muito baixa. Os papéis são emitidos em reais, e é o próprio governo o responsável por emitir essa moeda. Mesmo que um dia não tenha caixa para arcar com suas obrigações, o governo ainda teria a opção de imprimir dinheiro por um período curto de tempo.

A melhor forma de investir em títulos públicos é por meio do Tesouro Direto (clique aqui e veja um passo a passo). Qualquer pessoa física que tenha uma conta em uma corretora pode comprar e vender títulos no site do Tesouro Nacional. Como não há intermediários, não é necessário pagar comissão a ninguém. Mesmo a taxa de custódia não é cobrada por algumas corretoras (veja aqui as taxas praticadas no mercado )


Liquidez também não é um problema para quem investe no Tesouro Direto. Todas as quartas-feiras, o governo realiza leilões de recompra de papéis. Essa é a oportunidade para que o investidor que precisa de dinheiro pegue de volta o que foi emprestado ao governo.

Há diversas opções de títulos públicos à venda no Tesouro Direto. Os prazos de investimento também variam bastante. O título mais comum é a LFT, que paga juros ao investidor de acordo com a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. Como o Banco Central pode alterar a Selic a cada 45 dias, esses títulos são chamados de pós-fixados.

Outro papel bastante procurado é a LTN, que atualmente paga uma remuneração prefixada de 12% a 13% ao ano ao investidor. Já as NTN-B são papéis com retorno equivalente à inflação medida pelo IPCA mais uma taxa de juros hoje próxima a 6% ao ano. Esses papéis são especialmente interessantes em momentos de inflação alta como o atual. Em 2010, algumas NTN-B chegaram a pagar quase 18% de juros ao investidor.

Para a pessoa física, o mais recomendável é a LFT. O investidor que compra esse papel está protegido da inflação porque a Selic costuma subir quando os preços aceleram. Além disso, a rentabilidade dos papéis é boa quando a inflação cai porque o governo brasileiro ainda paga juros muito altos em relação ao resto do mundo apesar da tendência de queda das taxas observada na última década.

2 - CDB

Só vale a pena investir em um CDB quando a remuneração paga ao investidor for superior à do Tesouro Direto. O CDB é um certificado que comprova o depósito de recursos em uma instituição financeira. Em troca, o banco paga ao poupador uma taxa de remuneração. Não vejo vantagem em aplicar em CDB se for para receber menos de 100% do CDI (hoje 11,6% ao ano). Como a maioria dos grandes bancos não vai oferecer essa remuneração a pequenos aplicadores, acho que é melhor comprar uma LFT. Acho inclusive que o banco só oferece menos de 100% do CDI aos clientes porque aposta que o poupador não será sagaz o suficiente para abrir uma conta numa corretora e comprar títulos públicos vai Tesouro Direto.

Já os bancos pequenos e médios podem oferecer uma taxa superior a 100% do CDI (clique aqui e saiba como os problemas com o banco Panamericano tornaram essa aplicação mais atrativa). O problema é avaliar em qual banco adquirir CDBs. Uma dica interessante é ler os relatórios de corretoras sobre os bancos médios que possuem ações listadas em bolsa. Nesses textos escritos por analistas especializados em instituições financeiras, é possível saber quais bancos trabalham com a maior alavancagem ou correm mais risco. Eu daria preferência aos que estiverem em situação mais confortável.

Outra opção inteligente é respeitar o limite de até 70.000 reais ao investir em um CDB de banco médio. Como o Fundo Garantidor de Crédito garante depósitos à vista ou a prazo até esse valor em caso de quebra de um banco, o aplicador acaba correndo pouco risco – ainda que isso seja diferente de nenhum risco. O FGC tem cerca de 25 bilhões de reais em patrimônio. Sempre existe a remota chance de que o próprio fundo não tenha dinheiro para arcar com todos os depósitos de correntistas em um banco falido.


3 – Debêntures

Para atrair investidores, as debêntures emitidas por empresas brasileiras costumam pagar mais do que 100% do CDI. Comprar os títulos de dívida das maiores companhias do Brasil pode ser muito seguro. A chance de uma "blue chip" quebrar e deixar os detentores dos títulos a ver navios é muito pequena. O risco maior para o aplicador, a meu ver, é o de liquidez. Não há no Brasil mercado secundário para debêntures, apesar de muitos desses papéis vencerem daqui a mais de dez anos. Logo, o investidor que precisar se desfazer dos papéis de uma hora para outra poderá ter de aceitar um deságio para atrair um comprador.

Outro problema é a falta de diversificação. É muito difícil para a pessoa física montar uma carteira de 200.000 reais em debêntures de 10 empresas diferentes. Muitas companhias oferecem ao mercado debêntures com valor unitário de 1 milhão de reais, por exemplo. As ofertas que chegam com tíquete de entrada de 1.000 ou 10.000 reais bem menos numerosas. Para ter uma carteira diversificada, uma boa alternativa às debêntures são os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios). Esses fundos possuem um gestor que vai colocar recebíveis de vários devedores ali dentro. Se uma empresa que deve dinheiro ao fundo não honrar o pagamento, a perda do investidor será bem menor do que no caso da debênture.

4 - Outros papéis de renda fixa

O banco Bracce, que presido, é especializado em emissões de papéis como cédulas de crédito imobiliário (CCI), cédulas de crédito bancário (CCB) e debêntures de médias empresas. É um banco que financia companhias que faturam mais de 30 milhões de reais via mercado de capitais, algo ainda pouco usual no Brasil.

As ofertas são restritas a pequenos grupos de investidores institucionais – e não a pessoas físicas - para que a empresa não seja obrigada a publicar balanços trimestrais nem tenha custos muito elevados com a emissão. O que interessa nessas operações para a pessoa física é notar que o investidor profissional se cerca de diversas garantias para minimizar as perdas caso tudo dê errado.

As operações que montamos incluem a captação de 10 milhões a 70 milhões de reais em papéis com vencimento de 4 a 6 anos. Os juros pagos por esses papéis são de cerca de 150% do CDI (hoje 17,5% ao ano). Pode parecer alto, mas o investidor que compra títulos de empresas médias com um horizonte de longo prazo precisa se precaver de eventuais perdas. O gestor aplica nesse papel apenas como estratégia de diversificação. São pessoas que querem alcançar uma rentabilidade um pouco maior que a dos títulos públicos, mas sem assumir riscos excessivos.

Já na fase de estruturação da operação, o banco Bracce verifica se a emissão de dívida é compatível com o fluxo de caixa da empresa. Esse trabalho não se restringe à análise de balanço - que, em geral, não é auditado. É necessário verificar o que entra e o que sai da conta daquela empresa, olhando os extratos bancários, ligando para os clientes, verificando se os contratos declarados realmente existem. Se o resultado for positivo, é contratada uma agência de rating. A operação só acontece se o rating do emissor em moeda brasileira for no mínimo "A".

Mas isso ainda é pouco para o investidor institucional, que também quer saber se o banco responsável pela montagem da operação vai comprar parte dos papéis. O banco Bracce costuma colocar na carteira própria entre 10% e 15% dos títulos emitidos numa operação. Os outros compradores do papel ficam mais tranquilos quando sabem que a última coisa que o estruturador quer é que haja perdas.

Por último, o investidor também pede para ver as garantias da operação caso tudo dê errado. Em geral, as garantias podem ser tanto bens físicos (como imóveis ou frotas de veículos) quanto recebíveis. O investidor vai avaliar se esses bens existem, se não estão com pendências na Justiça ou se não foram usados como garantia para outros empréstimos.

Quando as coisas vão mal, em geral o devedor costuma seguir o caminho da recuperação judicial. Haverá uma empresa responsável por executar as garantias e dividir o dinheiro entre os credores. Nesses casos, costuma ser necessário esperar para receber apenas uma parte do que foi investido. É por esse motivo que o investidor institucional vai tentar se cercar do maior número de garantias possível antes de investir.

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