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Para Barclays, é hora de investir em renda fixa

Banco vê cenário ruim para bolsas, países emergentes e commodities. Por isso, indica títulos públicos do Brasil ou de empresas americanas

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O banco britânico Barclays acredita que ainda não é a hora de investir em ações. No relatório "Panorama Global: Se Posicionando para uma Recuperação Incerta", a instituição financeira afirma que é muito baixa a probabilidade de bom desempenho dos países emergentes, dos mercados de ações e do preço das commodities - uma mistura que torna praticamente inútil a caça de oportunidades em um mercado com as características da Bovespa. Levando em consideração o risco e o potencial de retorno, a melhor recomendação seria investir em títulos de renda fixa. O Barclays prefere os papéis de empresas com grau de investimento dos Estados Unidos, que, nos últimos anos, só pagaram retornos tão atrativos quanto os atuais em cinco meses durante a Grande Depressão. Entre os países emergentes, os títulos públicos de economias sólidas como as do Brasil e do México seriam mais atrativos que os de Colômbia e Peru. Já papéis da Coréia do Sul, Indonésia, Índia e Malásia podem ser consideradas más apostas para 2009 devido à expectativa de redução do rating (classificação de risco) da dívida soberana. Outra provável decepção devem ser os títulos da Tailândia devido à crise política. Veja abaixo as principais previsões do banco para 2009:

Commodities: a queda dos preços será responsável pela desaceleração dos países emergentes, que vinham resistindo bem à crise nos Estados Unidos até a quebra do banco Lehman Brothers. Para o Barclays, não há a expectativa de reversão de preços no curto prazo. Embora a velocidade de queda tenha diminuído em dezembro, ainda há espaço para desvalorizações caso o dólar se mantenha em alta, a economia mundial continue a desaquecer e os fundos de hedge acelerem a liquidação de posições. Por outro lado, boa parte das empresas do setor já operam no vermelho, o que tem levado a rápidos cortes na produção, demissões em massa e adiamento de novos projetos. O Barclays mantém o pessimismo em relação aos preços nos próximos seis meses mesmo com essa tentativa de equilibrar a oferta e a demanda. O banco fez uma pesquisa com investidores institucionais que mostra que a maioria deles enxerga uma ótima oportunidade de compra de papéis ligados a commodities - mas com um perspectiva de longo prazo. O movimento de desistência de projetos não pressionará os preços para cima agora - mas isso deve acontecer no futuro. Para o Barclays, as commodities que devem ter a recuperação mais rápida são o ouro, os alimentos e as carnes. Na outra ponta estariam as commodities metálicas e de energia. Dentro das commodities metálicas, as que já tiveram grandes cortes na produção devem reagir mais cedo. Esse é o caso do alumínio, do níquel e do zinco. Já metais que ainda estão muito acima do custo de produção, como o cobre, oferecem mais risco neste momento. No caso do petróleo, o cenário é mais incerto. A demanda nos Estados Unidos vem encolhendo rapidamente e ainda é provável que haja uma nova queda em 2009. No entanto, a Opep vem reagindo rápido. Já cortou a produção em 1,7 milhão de barris por dia e, em janeiro, reduzirá a oferta em mais 2,2 milhões de barris. Só há expectativa de retomada dos preços, no entantoe, a partir de meados de 2009.

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Países emergentes: já começaram a sentir os impactos da crise na economia real e têm menos poder de fogo para reagir que o mundo desenvolvido. Poucos países estão em uma situação financeira saudável o suficiente para ampliar o gasto público em um ambiente de desaquecimento econômico e de queda na arrecadação de impostos. Para o Barclays, uma crise que leve à moratória ou à dificuldade de pagamento de dívida por algum emergente não pode ser descartada mesmo levando em consideração que hoje esses países acumularam reservas internacionais, possuem sistemas financeiros sólidos e estão numa melhor posição fiscal do que no passado. A recente moratória do Equador mostra que o risco dos emergentes cresceu, ainda que para níveis pouco preocupantes. Para o Barclays, será necessário que o cenário global se deteriore muito para que haja uma seqüência de moratórias como a vista na década de 1990. Mas, com os investidores mais cautelosos, é pouco provável que os mercados acionários de emergentes possam se descolar da crise americana e apresentem bons retornos aos investidores. As principais economias - mesmo a chinesa - estão passando por um pouso forçado, com a redução da alavancagem e dos investimentos. O crescimento médio dos emergentes deve cair de 6,2% neste ano para 3,4% em 2009, queda puxada pelos produtores de commodities. A expectativa é de que o Brasil tenha uma expansão de só 1,4% - contra 6% em 2008. Da mesma forma, a Rússia deve passar de um crescimento de 6,6% para só 0,9%. Essa desaceleração terá reflexo no preço das ações. As bolsas dos emergentes vêm apresentando um desempenho bem inferior à média mundial desde a quebra do Lehman Brothers. O Barclays acredita que os preços dos ativos nos países emergentes estão próximos do valor justo e descarta que as cotações voltem a se aproximar em breve dos níveis anteriores a julho de 2007. A valorização do dólar não vai gerar um aumento das exportações porque o comércio global está em desaceleração. Além disso, não se sabe se a crise poderá ser usada como justificativa para a adoção de políticas heterodoxas, como controles de capital, barreiras nacionalistas e reestruturações de dívida. Entre as regiões, a Ásia deve se sair melhor, com um crescimento de 5,2% em 2009. Apesar da forte dependência do comércio com os Estados Unidos, essa região será beneficiada pela queda dos preços das commodities por serem importadoras. Além disso, pacotes de estímulo econômico anunciados por governos regionais devem elevar o PIB asiático em cerca de 1,5 ponto percentual. Na América Latina, a situação será mais complicada. A economia vai desacelerar rápido e terá impacto na arrecadação - limitando cortes de impostos ou aumento de gasto público. Já a alta do dólar vai pressionar a inflação e limitará os cortes de juros, que, ainda assim, ocorrerão. Ainda que os mercados emergentes cheguem ao fundo do poço no primeiro trimestre, o Barclays descarta um grande fluxo de recursos estrangeiros para esses países. Haverá várias falsos sinais do fim da tendência de baixa, o que fará os investidores serem cautelosos nas apostas mais arriscadas. Sem um sinal claro de estabilização da economia e sem o barateamento do crédito, é improvável também que as bolsas emergentes possam apresentar retornos interessantes.

Cenário global: a economia mundial vive a pior recessão desde a década de 1980 ou, talvez, desde a Grande Depressão. A produção industrial global caiu entre 10% e 15% e muitas economias desenvolvidas devem registrar contrações de 1% a 2% em 2009. O PIB dos EUA deve cair 1,7%. A zona do euro terá uma retração de 1,2% e o Japão, uma queda de 1,6%. As três maiores economias do mundo continuarão em recessão ao menos até meados do próximo ano e devem arrastar as maiores economias emergentes. O crescimento global médio deve ser de 0,8% em 2009, a menor taxa em mais de meio século. É difícil encontrar algum país que não tenha sido afetada seriamente. Economias que pareciam imunes como a China estão passando por uma rápida desaceleração. A notícia positiva é que os mercados já parecem ter precificado esse cenário de extrema fraqueza econômica nos próximos meses.

O significado dos pacotes econômicos: a recuperação global vai requerer um esforço muito mais significativo do que o que foi feito até agora. Os governantes parecem cientes da necessidade de resposta, mas o que vai fazer a diferença é quão rápida e efetiva será essa resposta. Nas últimas crises globais, o aumento do consumo nos países desenvolvidos e a aceleração econômica da China ajudaram a garantir uma rápida recuperação. Como esses fatores não existem agora, a economia global ficou à mercê de políticas governamentais. Europa, Japão e países emergentes têm pouco a fazer. O Banco Central Europeu costuma ser mais conservador com os juros que o Federal Reserve e não deve baixar a taxa básica além de 1,25% ao ano. Com uma taxa de 0,30% ao ano, o BC japonês também tem pouco espaço para cortes de juros. Tampouco há muito que fazer na área fiscal além do que já foi anunciado. Caberia então aos BCs europeu e japonês garantir a liquidez necessária para bancos e empresas rolarem suas dívidas. Mas a grande resposta deve vir dos EUA e da China, onde o novo presidente e o governo comunista estarão totalmente comprometidos em buscar a recuperação. Além dos pacotes preventivos de socorro a bancos e do juro próximo a zero, o Federal Reserve também prometeu atacar outras taxas cobradas pelos bancos como forma de destravar o crédito. O Fed deve conceder suporte ilimitado para incentivar empréstimos privados. A melhor forma de estímulo à economia seria o governo dos EUA lançar um programa de renegociação de hipotecas que permitisse baixar os juros dos atuais contratos. Já o pacote de estímulo do presidente eleito, Barack Obama, deve ter como foco obras de infra-estrutura e alcançar entre 3,5% e 7% do PIB dos EUA. O mais provável é que o pacote atinja cerca de 600 bilhões de dólares, ou 4% do PIB, e seja aprovado no primeiro trimestre.

Com tantos pacotes, por que não investir em ações agora?: o Barclays acredita que a recuperação - ou mesmo o fim da contração - vai demorar vários trimestre para acontecer. "Os próximos meses serão como o garimpo para os investidores - e eles devem se posicionar com cautela." Existe o risco de que uma recuperação nos mercados só aconteça no final de 2009, pelo menos se os investidores pensarem nos fundamentos e não deixarem se levar por expectativas de prazo muito longo. "Não estamos totalmente convencidos que as ações chegaram ao fundo do poço e, desde outubro, estamos aconselhando apenas compras modestas." Para uma perspectiva de longo prazo (algo entre cinco e quinze anos), as ações oferecem uma das melhores oportunidades de compra desta geração. As ações já caíram mais de 40% desde o pico histórico. Na zona do euro, os preços parecem mais atrativos. As empresas com ações negociadas em bolsa têm em média um valor igual ao patrimonial - algo muito abaixo dos níveis históricos. Isso não quer dizer que as ações sejam uma pechincha. As cotações só caíram para os valores atuais porque há uma expectativa de queda generalizada no lucro - e também nos dividendos pagos aos acionistas. Com o processo de desalavancagem no mundo todo, é possível que a queda dos lucros das empresas seja superior ao limite de 25% sugerido por vários modelos econômicos de previsões. Por esse motivo, o Barclays só indica a compra mais agressiva de ações caso haja uma queda de 15% em relação aos valores atuais ou seja verificada uma clara tendência de alta. O conselho é manter uma parte do capital investido em aplicações que ofereçam liquidez diária. Caso haja indícios de que o mercado de ações passará por uma recuperação iminente, esse dinheiro poderia ser rapidamente transferido para a renda variável. Por enquanto, o dinheiro deve trabalhar na renda fixa.

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