As razões para permanecer otimista com a bolsa
Sócio da gestora STK Capital acredita que há motivos para justificar uma alta continuada da bolsa
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2012 às 18h54.
São Paulo – A arrancada da bolsa neste início de ano deixou os investidores mais ressabiados com o pé atrás. Afinal, com tantos riscos que ainda pairam sobre a economia mundial, não seria a hora de aproveitar a recuperação para realizar o lucro? Ao menos para Antenor Gomes Fernandes, sócio da gestora de recursos STK Capital, ainda que seja impossível prever para que lado vai o mercado no curto prazo, há bons motivos para que as ações continuem a se valorizar nos próximos anos.
Fundada no final de 2010, a STK Capital administra 400 milhões de reais investidos no mercado acionário e tem entre seus sócios Ronaldo Cézar Coelho (ex-dono do banco Multiplic) e Eleazar de Carvalho (ex-presidente do BNDES). Nos últimos 15 meses, o fundo de ações da gestora teve valorização de 22% enquanto o Ibovespa recua 6%. A seguir, Fernandes explica as razões para estar otimista com a bolsa no longo prazo e as estratégias por trás das principais posições do fundo:
1 – A Europa melhorou
O panorama externo melhorou muito devido à ação do Banco Central Europeu. A bolsa vinha muito mal no ano passado porque as instituições financeiras europeias estavam carregadas de títulos públicos de países cuja capacidade de pagamento das próprias dívidas estava sendo bem questionada pelo mercado. A partir do momento em que o BCE colocou à disposição dos bancos europeus linhas de crédito de bilhões de euros com juros muito baixos, houve uma irrigação de liquidez no sistema financeiro que foi suficiente para resgatar a confiança dos investidores. Hoje o balanço do BCE é parecido com o do Federal Reserve em termos de empréstimos ao sistema financeiro. A percepção de que os bancos europeus não corriam mais tantos riscos de falta de liquidez fez com que o mercado passasse a olhar para ativos que estavam sendo evitados. Daí começou o rali das bolsas. A Europa ainda deve ser vista com um possível risco para os investidores? É lógico que sim. Mas a situação melhorou consideravelmente nos últimos tempos.
2 – Os juros estão caindo rapidamente no Brasil
Após a queda de 0,75 ponto percentual na taxa de juros nesta quarta-feira, o mercado passou a acreditar que a Selic será bem baixa nos próximos meses. A curva de juros mostra que já há muita gente apostando que a taxa possa cair para menos de 9% ao ano. Isso é ótimo para o Brasil porque viabiliza uma série de investimentos que não sairiam do papel se o capital custasse mais caro. Muitos negócios deixaram de ser criados no Brasil nas últimas décadas porque os juros eram muito altos. É lógico que a queda acelerada dos juros também pode em algum momento elevar a inflação. Mas acredito que esse é um risco que só deve começar a se fazer notar na prática no segundo semestre. Os resultados mais recentes divulgados pela indústria foram bastante fracos. Ainda estamos no ponto em que o gráfico da economia não começou a embicar para cima. Vai levar algum tempo, portanto, para que a retomada gere pressão sobre os preços.
3 – A renda deve continuar se expandindo
Nos últimos cinco anos, cerca de 25 milhões de pessoas ascenderam socialmente no Brasil e ingressaram na classe média. A economia brasileira continua muito bem, com baixo desemprego e renda em alta. Então é possível que, nos próximos cinco anos, mais 25 milhões de pessoas passem a ter renda suficiente para consumir.
4 – Ainda há espaço para o crédito crescer
O volume de crédito na economia brasileira cresceu rapidamente nos últimos anos. É lógico que daqui para frente o crescimento anual em termos percentuais pode não ser tão alto, mas ainda há espaço para consumidores e empresas se endividarem. A queda dos juros vai tornar o custo dos empréstimos mais baratos. Então não acho que o endividamento já tenha chegado ao limite do responsável.
5 – O cenário externo é melhor que em 2011
O ano passado foi marcado por um crescimento abaixo do previsto da economia brasileira, que foi atrapalhada principalmente pelas incertezas externas. É lógico que alguns riscos precisam ser monitorados. A China divulgou que o crescimento deve ser menor que o esperado neste ano e chacoalhou a bolsa em dois pregões desta semana. O risco de desaceleração na China realmente merece ser monitorado com atenção. Ninguém tem bola de cristal para saber como a economia chinesa vai evoluir daqui em diante. Mas o fato é que as coisas parecem melhores neste momento do que alguns meses atrás.
Mas o que comprar?
Fernandes, da STK Capital, também revelou as principais posições do fundo em bolsa:
Redecard e Cielo – Assim como outros acionistas da Redecard, achamos que o preço de 35 reais por ação oferecido pelo Itaú para o fechamento de capital da empresa está do justo. A Redecard fez a oferta inicial de ações e chegou à bolsa valendo cerca de 20 vezes o lucro. Na época, o Itaú já sabia que viria pela frente um período turbulento para o setor de cartões devido às pressões do governo para que houvesse um aumento da concorrência. Esse período turbulento passou e agora eles querem recomprar as ações por 15 ou 16 vezes o lucro. É injusto porque é uma empresa muito promissora. A empresa possui uma rentabilidade fantástica e o uso de cartões ainda tem muito que crescer no Brasil.
O Itaú até já sinalizou que poderia ser menos generoso com os acionistas da Redecard se a oferta não tiver adesão. Eles realmente têm poder para isso porque poderiam cobrar mais pelo fato de levarem muitos clientes para a Redecard. Mas não acredito que fariam isso. O Itaú tem uma excelente imagem de governança no mercado. O banco faz seu papel ao jogar duro, mas não acredito que eles estariam dispostos a arranhar a própria imagem para economizar um pouco dinheiro. Acredito que o risco de eles retirarem a oferta é baixo. Então vejo algum potencial de valorização com baixo risco de perda. E se houver aumento da oferta pelo Itaú, as ações da Cielo também podem se valorizar, com já aconteceu quando eles anunciaram o 35 reais por ação.
Cosan – Achamos que a empresa está em um momento de grandes transformações. A fusão com a Shell no Brasil fez com que a Cosan deixasse de ser uma empresa de açúcar e etanol. Isso é bom porque os resultados do setor sucroalcooleiro variam muito de acordo com os preços internacionais do açúcar, do câmbio e do clima. O mercado sempre vai exigir um desconto para investir em um negócio com resultados tão voláteis. Mas agora a Cosan também é uma empresa de distribuição e varejo de combustíveis. A administração da empresa é muito boa. A Raízen já tem apresentado resultados melhores que os da Ipiranga, que também é considerada uma boa empresa pelo mercado.
Paralelo a isso, eles podem fazer um investimento na ALL. O anúncio da intenção de realizar o negócio foi visto com cautela pelos investidores devido à percepção de que o preço para entrar no bloco de controle da ALL pode ser alto demais. Olhando só o valor das ações da ALL, o preço oferecido realmente foi alto. Mas o que importa é o valor que a Cosan poderá extrair desse negócio. A ALL não é uma empresa bem-gerida hoje, mas tem um ativo único e irreplicável. É a maior empresa de ferrovias do Brasil, um negócio bastante competitivo quando comparado ao transporte rodoviário. A Cosan e a ALL podem criar um negócio de transporte não apenas de açúcar e de etanol mas também de outras commodities do interior paulista para o porto de Santos. Isso pode se mostrar muito rentável no futuro, ainda que seja cedo para cravar que tudo vai acontecer tão bem.
CCR – É uma empresa com ativos excelentes na área de infraestrutura e que tem se mostrado bastante responsável na avaliação de novos negócios. A CCR já mostrou diversas vezes que não faz loucuras para vencer um leilão. Para o investidor, isso quer dizer menos risco.
Itaú – O banco tem uma administração excelente e tem prometido ganhos de eficiência. Acredito que isso pode acontecer neste ano, com um impacto positivo nos resultados da instituição. O cenário econômico também deve permitir que o crédito continue a crescer sem um aumento preocupante de inadimplência.
Droga Raia – O setor de farmácias ainda é muito fragmentado no Brasil. Metade das lojas pertence a donos que só tem um estabelecimento. Acreditamos que uma empresa que tem 800 lojas pode diluir custos e negociar descontos com fornecedores de uma forma que cria uma enorme vantagem competitiva sobre os pequenos. Acreditamos que os varejistas desse setor vão crescer a um ritmo bem mais acelerado que a economia brasileira nos próximos anos.
Aliansce – É a empresa de shopping centers da Bovespa mais bem-posicionada no Nordeste, uma região em que o consumo cresce a um ritmo chinês. A administração entende do negócio. Então estamos confortáveis com a posição.
Vale – A mineradora tem os melhores ativos de minério de ferro e os custos operacionais mais baixos, mas está sendo negociada com um desconto em relação aos concorrentes. O risco de que a empresa seja obrigada pelo governo a pagar multas tributárias bilionárias realmente existe, mas, mesmo que seja obrigada a arcar com essas despesas, o valor da ação da Vale ainda pode ser considerado atrativo. O risco da China precisa ser monitorado de perto. Se a China desacelerar, a Vale vai sofrer. É por isso que não temos uma posição muito grande, mas achamos que os preços são suficientemente atrativos para termos comprado uma participação acionária.
São Paulo – A arrancada da bolsa neste início de ano deixou os investidores mais ressabiados com o pé atrás. Afinal, com tantos riscos que ainda pairam sobre a economia mundial, não seria a hora de aproveitar a recuperação para realizar o lucro? Ao menos para Antenor Gomes Fernandes, sócio da gestora de recursos STK Capital, ainda que seja impossível prever para que lado vai o mercado no curto prazo, há bons motivos para que as ações continuem a se valorizar nos próximos anos.
Fundada no final de 2010, a STK Capital administra 400 milhões de reais investidos no mercado acionário e tem entre seus sócios Ronaldo Cézar Coelho (ex-dono do banco Multiplic) e Eleazar de Carvalho (ex-presidente do BNDES). Nos últimos 15 meses, o fundo de ações da gestora teve valorização de 22% enquanto o Ibovespa recua 6%. A seguir, Fernandes explica as razões para estar otimista com a bolsa no longo prazo e as estratégias por trás das principais posições do fundo:
1 – A Europa melhorou
O panorama externo melhorou muito devido à ação do Banco Central Europeu. A bolsa vinha muito mal no ano passado porque as instituições financeiras europeias estavam carregadas de títulos públicos de países cuja capacidade de pagamento das próprias dívidas estava sendo bem questionada pelo mercado. A partir do momento em que o BCE colocou à disposição dos bancos europeus linhas de crédito de bilhões de euros com juros muito baixos, houve uma irrigação de liquidez no sistema financeiro que foi suficiente para resgatar a confiança dos investidores. Hoje o balanço do BCE é parecido com o do Federal Reserve em termos de empréstimos ao sistema financeiro. A percepção de que os bancos europeus não corriam mais tantos riscos de falta de liquidez fez com que o mercado passasse a olhar para ativos que estavam sendo evitados. Daí começou o rali das bolsas. A Europa ainda deve ser vista com um possível risco para os investidores? É lógico que sim. Mas a situação melhorou consideravelmente nos últimos tempos.
2 – Os juros estão caindo rapidamente no Brasil
Após a queda de 0,75 ponto percentual na taxa de juros nesta quarta-feira, o mercado passou a acreditar que a Selic será bem baixa nos próximos meses. A curva de juros mostra que já há muita gente apostando que a taxa possa cair para menos de 9% ao ano. Isso é ótimo para o Brasil porque viabiliza uma série de investimentos que não sairiam do papel se o capital custasse mais caro. Muitos negócios deixaram de ser criados no Brasil nas últimas décadas porque os juros eram muito altos. É lógico que a queda acelerada dos juros também pode em algum momento elevar a inflação. Mas acredito que esse é um risco que só deve começar a se fazer notar na prática no segundo semestre. Os resultados mais recentes divulgados pela indústria foram bastante fracos. Ainda estamos no ponto em que o gráfico da economia não começou a embicar para cima. Vai levar algum tempo, portanto, para que a retomada gere pressão sobre os preços.
3 – A renda deve continuar se expandindo
Nos últimos cinco anos, cerca de 25 milhões de pessoas ascenderam socialmente no Brasil e ingressaram na classe média. A economia brasileira continua muito bem, com baixo desemprego e renda em alta. Então é possível que, nos próximos cinco anos, mais 25 milhões de pessoas passem a ter renda suficiente para consumir.
4 – Ainda há espaço para o crédito crescer
O volume de crédito na economia brasileira cresceu rapidamente nos últimos anos. É lógico que daqui para frente o crescimento anual em termos percentuais pode não ser tão alto, mas ainda há espaço para consumidores e empresas se endividarem. A queda dos juros vai tornar o custo dos empréstimos mais baratos. Então não acho que o endividamento já tenha chegado ao limite do responsável.
5 – O cenário externo é melhor que em 2011
O ano passado foi marcado por um crescimento abaixo do previsto da economia brasileira, que foi atrapalhada principalmente pelas incertezas externas. É lógico que alguns riscos precisam ser monitorados. A China divulgou que o crescimento deve ser menor que o esperado neste ano e chacoalhou a bolsa em dois pregões desta semana. O risco de desaceleração na China realmente merece ser monitorado com atenção. Ninguém tem bola de cristal para saber como a economia chinesa vai evoluir daqui em diante. Mas o fato é que as coisas parecem melhores neste momento do que alguns meses atrás.
Mas o que comprar?
Fernandes, da STK Capital, também revelou as principais posições do fundo em bolsa:
Redecard e Cielo – Assim como outros acionistas da Redecard, achamos que o preço de 35 reais por ação oferecido pelo Itaú para o fechamento de capital da empresa está do justo. A Redecard fez a oferta inicial de ações e chegou à bolsa valendo cerca de 20 vezes o lucro. Na época, o Itaú já sabia que viria pela frente um período turbulento para o setor de cartões devido às pressões do governo para que houvesse um aumento da concorrência. Esse período turbulento passou e agora eles querem recomprar as ações por 15 ou 16 vezes o lucro. É injusto porque é uma empresa muito promissora. A empresa possui uma rentabilidade fantástica e o uso de cartões ainda tem muito que crescer no Brasil.
O Itaú até já sinalizou que poderia ser menos generoso com os acionistas da Redecard se a oferta não tiver adesão. Eles realmente têm poder para isso porque poderiam cobrar mais pelo fato de levarem muitos clientes para a Redecard. Mas não acredito que fariam isso. O Itaú tem uma excelente imagem de governança no mercado. O banco faz seu papel ao jogar duro, mas não acredito que eles estariam dispostos a arranhar a própria imagem para economizar um pouco dinheiro. Acredito que o risco de eles retirarem a oferta é baixo. Então vejo algum potencial de valorização com baixo risco de perda. E se houver aumento da oferta pelo Itaú, as ações da Cielo também podem se valorizar, com já aconteceu quando eles anunciaram o 35 reais por ação.
Cosan – Achamos que a empresa está em um momento de grandes transformações. A fusão com a Shell no Brasil fez com que a Cosan deixasse de ser uma empresa de açúcar e etanol. Isso é bom porque os resultados do setor sucroalcooleiro variam muito de acordo com os preços internacionais do açúcar, do câmbio e do clima. O mercado sempre vai exigir um desconto para investir em um negócio com resultados tão voláteis. Mas agora a Cosan também é uma empresa de distribuição e varejo de combustíveis. A administração da empresa é muito boa. A Raízen já tem apresentado resultados melhores que os da Ipiranga, que também é considerada uma boa empresa pelo mercado.
Paralelo a isso, eles podem fazer um investimento na ALL. O anúncio da intenção de realizar o negócio foi visto com cautela pelos investidores devido à percepção de que o preço para entrar no bloco de controle da ALL pode ser alto demais. Olhando só o valor das ações da ALL, o preço oferecido realmente foi alto. Mas o que importa é o valor que a Cosan poderá extrair desse negócio. A ALL não é uma empresa bem-gerida hoje, mas tem um ativo único e irreplicável. É a maior empresa de ferrovias do Brasil, um negócio bastante competitivo quando comparado ao transporte rodoviário. A Cosan e a ALL podem criar um negócio de transporte não apenas de açúcar e de etanol mas também de outras commodities do interior paulista para o porto de Santos. Isso pode se mostrar muito rentável no futuro, ainda que seja cedo para cravar que tudo vai acontecer tão bem.
CCR – É uma empresa com ativos excelentes na área de infraestrutura e que tem se mostrado bastante responsável na avaliação de novos negócios. A CCR já mostrou diversas vezes que não faz loucuras para vencer um leilão. Para o investidor, isso quer dizer menos risco.
Itaú – O banco tem uma administração excelente e tem prometido ganhos de eficiência. Acredito que isso pode acontecer neste ano, com um impacto positivo nos resultados da instituição. O cenário econômico também deve permitir que o crédito continue a crescer sem um aumento preocupante de inadimplência.
Droga Raia – O setor de farmácias ainda é muito fragmentado no Brasil. Metade das lojas pertence a donos que só tem um estabelecimento. Acreditamos que uma empresa que tem 800 lojas pode diluir custos e negociar descontos com fornecedores de uma forma que cria uma enorme vantagem competitiva sobre os pequenos. Acreditamos que os varejistas desse setor vão crescer a um ritmo bem mais acelerado que a economia brasileira nos próximos anos.
Aliansce – É a empresa de shopping centers da Bovespa mais bem-posicionada no Nordeste, uma região em que o consumo cresce a um ritmo chinês. A administração entende do negócio. Então estamos confortáveis com a posição.
Vale – A mineradora tem os melhores ativos de minério de ferro e os custos operacionais mais baixos, mas está sendo negociada com um desconto em relação aos concorrentes. O risco de que a empresa seja obrigada pelo governo a pagar multas tributárias bilionárias realmente existe, mas, mesmo que seja obrigada a arcar com essas despesas, o valor da ação da Vale ainda pode ser considerado atrativo. O risco da China precisa ser monitorado de perto. Se a China desacelerar, a Vale vai sofrer. É por isso que não temos uma posição muito grande, mas achamos que os preços são suficientemente atrativos para termos comprado uma participação acionária.