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Ainda é vantagem investir nos fundos mais rentáveis de 2012?

Saiba como funcionam os fundos de inflação, os mais rentáveis do ano passado, e se ainda dá para ganhar dinheiro investindo neles


	Dragão da inflação: fundos que investem em papéis atrelados a índices de preços foram os melhores do ano passado
 (Donald Cook/SXC)

Dragão da inflação: fundos que investem em papéis atrelados a índices de preços foram os melhores do ano passado (Donald Cook/SXC)

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Da Redação

Publicado em 18 de janeiro de 2013 às 09h37.

São Paulo – Os fundos mais rentáveis do ano passado foram aqueles classificados como Renda Fixa – Índices pela Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Na média, esses fundos obtiveram rentabilidade de 21,71%, contra 8,36% do CDI – taxa de juro que se aproxima da taxa básica da economia – e 7,40% do principal índice da Bolsa, o Ibovespa.

Mas apesar de serem fundos de renda fixa, esses fundos de investimento não são tão familiares para o investidor brasileiro, há muito acostumado à poupança, aos fundos DI e aos fundos de renda fixa comuns. Chamados também de fundos de inflação, esses produtos investem em papéis de renda fixa públicos ou privados atrelados a índices de preços, como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M).

Outra particularidade dos fundos de inflação é que, assim como os demais fundos de renda fixa tentam vencer o CDI, os fundos de renda fixa – índices tentam acompanhar ou bater índices de renda fixa chamados IMAs (Índices de Mercado Anbima). Esses índices replicam o desempenho de uma carteira teórica de títulos públicos de determinada natureza, assim como o Ibovespa replica o desempenho de uma carteira teórica de ações.

Normalmente, os fundos de inflação seguem o IMA-Geral, cuja carteira teórica é composta por títulos pré e pós-fixados, além daqueles atrelados à inflação; ou o IMA-B, cuja carteira teórica contém apenas os títulos atrelados à inflação, as Notas do Tesouro Nacional-série B (NTN-B). Esses títulos já começam a fazer parte do repertório do investidor pessoa física, que pode comprá-los diretamente no Tesouro Direto, plataforma online de negociação de títulos do Tesouro Nacional.

Os fundos de inflação, portanto, basicamente investem em títulos públicos ligados à inflação, além de um ou outro papel privado atrelado a índice de preços. A carteira é composta por títulos de diferentes vencimentos, e pode ainda tentar seguir uma subdivisão do IMA-B: o IMA-B 5, para fundos que investem em papéis de prazos inferiores a cinco anos; e o IMA-B 5+, para fundos que investem em papéis de prazos superiores a cinco anos.

Ganho em 2012 se deveu à queda da Selic

Mas por que investir em fundos de renda fixa – índices se o investidor pode comprar NTN-B de vários prazos diretamente pelo Tesouro Direto, por quantias modestas? Por ter uma gestão profissional, os fundos de inflação compram e vendem títulos de modo a ganhar não só com sua rentabilidade – inflação mais um percentual prefixado – mas também com a valorização dos papéis.

Desde 2011, as NTN-B vêm se valorizando bastante, em função da queda nos juros reais (diferença entre a taxa básica de juros, a Selic, e a inflação). Como uma parte de sua remuneração é prefixada e a outra parte é pós-fixada à inflação, o comportamento dos preços desses títulos é de alta quando a Selic está em queda. Assim, antes de a Selic entrar nesse ciclo de cortes, era possível encontrar no mercado NTN-B que pagava juro de 4% a 6% mais IPCA, dependendo do prazo. Hoje, a parte prefixada da remuneração desses papéis não ultrapassa mais 4% para os prazos mais longos.


Ou seja, pela marcação a mercado, as NTN-B que pagavam 6% de juro real se valorizaram quando a Selic foi reduzida. “Como esses fundos têm marcação a mercado e houve grande procura por esses títulos, os preços subiram e a expectativa de uma taxa de juros ainda menor se refletiu no valor das cotas”, explica Beto Domenici, estrategista da gestora Rio Bravo.

É por isso que o investimento em títulos desse tipo pode ter rendimentos de dois dígitos. Bons gestores conseguem, inclusive, superar os IMAs. No ano passado, o IMA-B superou os 25%, e o IMA Geral fechou em 17,73%.

Riscos

Acontece que os fundos de renda fixa – índices são mais arriscados que os fundos de renda fixa comuns, que tentam apenas bater o CDI. É que assim como as cotas se valorizam quando a Selic está em queda, quando a taxa de juro volta a subir – ou ao menos quando esta é a expectativa do mercado – o rendimento pode ser negativo. As oscilações nos valores das cotas são bruscas em comparação com outros fundos de renda fixa. “O fundo de inflação tem volatilidade em torno de 4% ou 5% ao ano, o que é comparável aos fundos multimercados mais agressivos. A volatilidade de um fundo atrelado ao CDI é de 0,5%”, diz Domenici.

Se houvesse uma reversão de expectativas em relação à taxa Selic, o fundo ficaria com desempenho negativo pelo menos por alguns meses. Depois haveria uma correção e ele voltaria a render. Se o investidor for paciente e deixar o dinheiro no fundo por mais tempo, não corre o risco de perder dinheiro. A perda pode ocorrer se ele se desesperar e sacar na hora errada, quando as cotas estiverem desvalorizando.

“O investidor tem que estar consciente de que é uma perda temporária. Se ele sai do fundo em um momento de queda, equivale a comprar o ativo na alta e vender na baixa”, explica o estrategista da Rio Bravo. Por outro lado, se sacar na hora certa, o cotista pode ter um grande ganho. Basta que o fundo tenha conseguido se beneficiar de um período de queda nos juros e se valorizado bastante.

A estratégia dos fundos de inflação pode também ser replicada pelo investidor pessoa física pelo Tesouro Direto, que é livre para comprar NTN-B de vários prazos e especular com elas, vendendo-as antes do vencimento para embolsar ganhos. Porém, essa prática pode ser arriscada, pois demanda conhecimento que o investidor individual pode não deter. O risco de perder dinheiro, nesse caso, é alto.

Ainda vale a pena investir nesses fundos?

O ciclo de queda na taxa básica de juros parece ter chegado ao fim, ao menos por ora. O mercado espera que até o fim de 2013, a Selic permaneça exatamente onde está, em 7,25%. O motivo é a inflação, que já pressiona: no ano passado, o IPCA fechou em 5,84%, bem acima do centro da meta de 4,5% e próximo ao teto de 6,5%. Em função disso, os fundos de inflação já não têm mais tanto espaço para ganhar com valorização.


“A perspectiva para esses fundos é boa, mas eles não vão ter em 2013 o ganho que tiveram no ano passado. Mas o desempenho vai ser melhor que o dos fundos pós-fixados à Selic. Acreditamos que o governo só vá mexer nos juros no ano que vem, dependendo do nosso crescimento econômico. Achamos que o governo vai fazer de tudo para não aumentar o juro neste ano. A inflação vai ficar um pouco mais alta mesmo, mas IPCA mais 3% já está muito, muito bom”, opina Beto Domenici.

O diretor da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt, faz um alerta: em função da pressão inflacionária, o mais indicado para quem pretende começar a investir nesse tipo de fundo agora é preferir um fundo que tenha como parâmetro o IMA-B, isto é, que invista em papéis de prazo mais curto, de até cinco anos. Ele considera os fundos de papéis mais longos, que seguem o IMA-B 5+ muito arriscados neste momento.

“Os fundos de papéis mais curtos são mais raros, mas os de papéis mais longos na verdade estão pagando uma rentabilidade que reflete o passado. Os papéis mais curtos são menos voláteis. Então, na hora da marcação a mercado, o impacto da expectativa de inflação nesses títulos é menor”, diz. Ele explica ainda que quem já investe em fundos mais longos há mais tempo não tem muito com que se preocupar, pois um eventual impacto negativo nas cotas em 2013 não deve ocasionar grandes perdas para quem já obteve tanta rentabilidade no último ano.

Seja como for, os fundos de inflação têm uma qualidade atemporal: a proteção do patrimônio contra a inflação. Tanto o investimento nesses fundos quanto a aplicação direta em NTN-B fazem com que o investidor não perca seu poder de compra, o que é ideal para planejar despesas de médio prazo que serão afetadas pela inflação, como a entrada em um apartamento, e para planos de prazo mais longo, como a aposentadoria.

Quem pode investir nos fundos de inflação?

Qualquer investidor pode aplicar em fundos de inflação, desde que esteja consciente dos riscos e que use o fundo para poupar para objetivos de médio e longo prazo. “Não pode sacar na hora errada. Não é o dinheiro do dia a dia, é um dinheiro estratégico, que você deixa lá e não mexe”, diz Beto Domenici, da Rio Bravo.

“É menos para quem e mais para quando: como o desempenho desse fundo flutua em relação à expectativa de inflação, você não vai ver um resultado consistente antes de dois ou três anos de aplicação. Se você sabe que a parcela das chaves do seu apartamento comprado na planta vai vencer daqui a 24 ou 30 meses, já pode ir poupando em um fundo desses, pois essa parcela em geral é corrigida por algum índice de inflação”, diz Paulo Bittencourt.

Também é importante lembrar que se deve aplicar apenas entre 15% e 30% da cateira de investimentos nesse tipo de fundo. Não dá para prescindir, por exemplo, de aplicações atreladas ao CDI e de alta liquidez para emergências, como CDBs, Letras Financeiras do Tesouro (LFT) ou fundos DI.

Os grandes bancos já oferecem hoje fundos de renda fixa – índices atrelados ao IMA-B e ao IMA Geral. Existem ainda aqueles que seguem o IRF-M, cuja carteira teórica é composta apenas por títulos prefixados (LTN e NTN-F). Há fundos com aplicação inicial de 1.000 reais. Paulo Bittencourt considera que a taxa de administração não deve ultrapassar algo como 1,20% ou 1,25% ao ano. O fundo de inflação IMA-B 5 da Apogeo, por exemplo, cobra 1% ao ano.

Eventualmente o fundo de inflação pode cobrar uma taxa de performance, que é um percentual sobre o que exceder o índice que o baliza. No caso do fundo da Apogeo, a taxa é de 20%. Já no fundo Rio Bravo Juros, atrelado ao IMA Geral, essa taxa é de 10%. Em 2012, o gestor levou seu percentual de performance, pois o fundo rendeu 18,98%, acima dos 17,73% do índice, tecnicamente chamado de benchmark.

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