Ações continuarão melhores que renda fixa, diz UBS
Banco suíço também prevê, no entanto, período turbulento no mercado financeiro e redução do crescimento mundial no próximo ano
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
A tendência dos últimos anos de rentabilidade maior para as aplicações em ações do que em títulos de renda fixa continuará a dar o tom no mercado financeiro mundial, em 2008, prevê o banco suíço UBS, em relatório sobre as perspectivas para o próximo ano, divulgado nesta sexta-feira (14/12).
"As ações provavelmente superarão os títulos de curtíssimo prazo por uma margem suficiente para compensar o risco", afirma Paulo Tenani, chefe de pesquisa para América Latina do UBS Wealth Management.
No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo liderava o ranking de investimentos até novembro deste ano, com valorização de 47%, muito acima do segundo colocado, o ouro, que apresentava alta de 7,95%. Dados da UBS para mercados emergentes, como um todo, confirmam os números brasileiros. Enquanto as ações apresentaram retorno de cerca de 32%, os títulos que mais se vlorizaram, os globais vinculados à inflação, subiram em torno de 12%.
Segundo Tenani, também já foi possível observar neste ano que os papéis de grandes empresas de mercados desenvolvidos começaram a valorizar-se mais do os de pequenas empresas, o que deve continuar a acontecer em 2008.
Já os títulos soberanos devem ter um início de ano forte, diante do ritmo lento da economia dos Estados Unidos, influenciada pela crise no mercado de hipotecas de alto risco, as subprimes. Ao longo de 2008, porém, conforme os EUA recuperarem o crescimento e a inflação começar a subir, com o afrouxamento da política monetária do Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano), a atratividade desse tipo de papel deve cair, uma vez que seus ganhos serão reduzidos pelo aumento de preços e a competição com a renda variável ficará mais acirrada. Nesse cenário, os títulos do governo proporcionarão retorno "abaixo do normal", de acordo com o banco suíço, mas os títulos de empresas terão ganhos ainda menores, com a queda no mercado de crédito. A indicação, no universo da renda fixa, é apostar nos títulos de liquidez imediata e vencimentos mais breves.
Sobrevivência diante da crise
Ainda que as ações apresentem cenário mais favorável, o UBS recomenda a diversificação como melhor estratégia para investir em 2008, uma vez que a desvalorização do mercado imobiliário americano trará "um pouco de águas revoltas nos mares das finanças internacionais". A crise que se iniciou com o setor imobiliário e contagiou o financeiro deve afetar o crescimento dos lucros inclusive nos setores ligados ao consumo direto das famílias. Para o banco, a probabilidade de uma recessão nos EUA é "significativa", mas pode ser evitada pela manutenção da derrubada dos juros básicos, por parte do Fed. Em dezembro, o Banco Central americano anunciou o terceiro corte consecutivo nesse índice, que fechou o ano em 4,25%.
Colaborará para o cenário não tão favorável o fato de o crescimento mundial ter alcançado seu pico, em 2007, e tender a reduzir o ritmo, no próximo ano. As economias européias provavelmente reduzirão um pouco o ritmo considerável de crescimento que alcançaram neste ano, em razão da crise no setor financeiro e da desaceleração americana. O Reino Unido deve ser o mais afetado, por causa da maior dependência desses dois fatores, e sua expansão deve despencar dos 2,6% alcançados em 2007 para 1,8%.
Na Ásia, o impacto da crise não será tão forte e o crescimento chinês, que vem puxando a economia mundial há pelo menos três anos, seguirá próximo dos dois dígitos, levando-se em conta que o país tem suas exportações bastante concentradas no próprio continente e que o consumo interno deve continuar em expansão vigorosa. A maior ameaça, no caso chinês, é a inflação, que exigirá medidas mais drásticas do governo para sua contenção. O Japão deve registrar leve redução no crescimento do PIB, de 1,8% para 1,6% anuais.
O cenário latino-americano
A América Latina enxergará em 2008 os benefícios de ter se descolado, aos poucos, da economia dos Estados Unidos. A crise norte-americana não afetrá tão fortemente a região como teria ocorrido, alguns anos atrás, graças à diversificação dos parceiros comerciais, explica o relatório, ao citar o dado de que a participação das exportações para os EUA caíram 5% no bolo total da região, no período de uma década. Em média, o subcontinente deve crescer em torno de 4,7%, ante expansão de 5%, em 2007.
Para o Brasil, a expectativa é de "sólido crescimento", assim como para os parceiros emergentes México, Rússia e Índia.
No entanto, o texto aponta um motivo de preocupação para o Brasil, cujas exportações ainda são bastante ancoradas em commodities. Em 2008, deve se fortalecer um processo de consolidação no preço das commodities, após uma alta de cinco anos seguidos, o que pode prejudicar a cotação de determinados produtos. De acordo com o relatório, existe uma perspectiva de "correções de curto prazo em alguns mercados de grande importância na esteira da desaceleração no crescimento econômico".