EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 11h29.
Há um conceito de finanças muito conhecido, até mesmo para quem não é da área: o conceito da diversificação. Significa dividir os investimentos em alguns ativos diferentes para diminuir o risco ou, posto de forma simples, "não colocar todos os ovos na mesma cesta". Para ser bem feita, porém, a diversificação deve ir além da decisão de simplesmente "espalhar" os investimentos.
O principal objetivo da diversificação é reduzir o risco das aplicações. Por isso, antes de iniciar o processo, é preciso avaliar, primeiro, a exposição a risco dos ativos que compõem sua carteira de investimentos. Um erro comum é acreditar que, apenas por comprar dois fundos de duas instituições diferentes, a diversificação está feita. Ora, se ambos os fundos atuam de forma semelhante ou se expõem ao mesmo mercado, muito provavelmente em uma situação de estresse as rentabilidades dos dois sofrerão em conjunto. O ideal é entender a exposição ao risco de cada ativo, e assim compor um portfólio que faça sentido.
A diversificação funciona quando os ativos oscilam de forma independente, na medida do possível. Dessa forma, há a possibilidade de que as perdas de um sejam compensadas pelos ganhos de outro. Com isso, o valor da carteira como um todo evolui de forma mais suave, sem movimentos muito abruptos - nem para cima, nem para baixo. Quando lidamos com ativos mais arriscados (visando, obviamente, retornos mais atrativos), é natural que busquemos a diversificação - no mínimo, para amenizar a "gastrite".
Só não podemos esquecer que os preços dos ativos mais arriscados variam de forma mais intensa, para cima e para baixo. E aí começa um outro grande erro: partindo-se do princípio de que os ativos que compõem o portfólio foram bem selecionados - por características individuais e pela forma como se encaixam na carteira como um todo -, tendemos a nos concentrar nas variações individuais dos ativos e a esquecer do ';funcionamento'; da carteira. Isso pode ser vantajoso no curto prazo, mas pode facilmente prejudicar a rentabilidade no longo prazo. Se nos deixarmos levar pelo estresse de ter um ativo performando mal no portfólio por um certo período e nos desfizermos de tal ativo sem pensar no conjunto, poderemos desbalancear a carteira e impedir que, num próximo momento, esse ativo que performou mal possa se recuperar e compensar um desempenho fraco de outro componente.
Isso significa que devemos ser incondicionalmente complacentes com má performance? Definitivamente não. Devemos, sim, tentar entender o motivo da má performance. Por exemplo, um fundo de ações apresenta rentabilidade negativa em vários meses do ano. É normal e é decorrente das variações normais dos preços das ações. Faz parte. Pode ocorrer com fundos multimercados mais agressivos também. Mas, se um fundo DI apresentar uma cota negativa, aí sim há problemas e motivos para questionamento - pois pelos ativos que o fundo compra, isso não deveria ocorrer.
A mensagem essencial é que é sempre necessário pensar no portfólio como um todo e de forma consolidada, para que não cometamos erros ocasionados por focar demais a atenção naquele único número vermelho no extrato. Afinal, de que serve a diversificação se nos focarmos apenas na parte ruim da carteira?
*Adriano Blanaru é analista-chefe da Link Corretora