7 ações que caem mais de 50% neste ano
Poucas empresas geraram ganhos para os investidores em 2011, mas algumas delas apresentaram resultados muito ruins mesmo considerando o contexto desfavorável
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2011 às 08h00.
São Paulo – Não está fácil ganhar dinheiro na BM&FBovespa neste ano. Enquanto a Europa não sinalizar alguma solução para os complexos problemas fiscais, pouca gente no mercado acha que haverá um recuperação firme no preço das ações. Mesmo considerando o contexto desfavorável, algumas empresas apresentaram resultados particularmente ruins por motivos específicos. De acordo com a base de dados da consultora Economática, sete companhias com valor de mercado superior a 100 milhões de reais apresentaram desvalorizações superiores a 50% neste ano até a última sexta-feira. Entenda a seguir por que essas companhias perderam mais da metade do valor nos últimos meses:
1– Papéis da Trisul despencam 60,6%
A Trisul é a empresa com ações negociadas na BM&FBovespa com pior desempenho neste ano. A empresa atua no segmento imobiliário, que, de forma geral, tem apanhado muito nos últimos meses. Primeiro foi a alta dos juros que castigou o setor com um todo. Depois veio uma sequência de revisões de orçamentos que derrubaram as margens das incorporadoras. Assim como Cyrela, CCDI, Gafisa e MRV, a Trisul também estourou orçamentos. A margem bruta foi de apenas 3,3% no segundo trimestre, uma das piores da indústria. Já o prejuízo trimestral chegou a 33 milhões de reais.
As margens de lucro têm caído devido principalmente ao aumento dos custos. Pressionadas pelos investidores, as empresas do setor de construção têm feito de tudo para continuar a crescer. O principal fato relevante que uma companhia imobiliária pode apresentar é uma forte projeção de expansão dos lançamentos. Para divulgar um número vistoso ao mercado, entretanto, as empresas têm comprado terrenos caros e contratado mão de obra por valores maiores que o razoável.
Na hora de fechar as contas, a empresa percebe que o lucro obtido com os empreendimentos também foi menor que o esperado. No caso específico da Trisul, houve inclusive atrasos no anúncio do balanço. Os números do segundo trimestre divulgados ao mercado não foram auditados. A preocupação dos analistas é que, em algum momento, o preço dos imóveis pare de subir e as empresas tenham de escolher entre uma forte redução no total de lançamentos ou nos lucros.
2– Ação da Marfrig é a segunda pior
A vice-campeã em perdas no mercado acionário neste ano é a Marfrig, com uma desvalorização acumulada de 57,7%. O principal motivo para a surra no mercado é o alto endividamento. Desde 2006, a Marfrig tem acumulado débitos que financiaram a aquisição de 18 empresas por cerca de 7 bilhões de reais. Também no topo das preocupações dos investidores está o fato de que boa parte dessas dívidas esteja denominada em dólares. A empresa possui 7,35 bilhões de reais em débitos indexados à moeda americana, a sétima maior exposição ao dólar entre todas as companhias da bolsa brasileira. Se o dólar disparar para 2 reais ou mais, por exemplo, a empresa pode ser pega no contrapé.
Nos últimos meses, a forte venda de ações da Marfrig pelo fundo de investimento GWI também ajudou a depreciar os papéis. Existe ainda um componente setorial nas perdas. As ações da JBS, a líder brasileira em proteína animal, acumulam baixa de quase 46% neste ano. De forma geral, os analistas acham que as duas empresas gastaram caminhões de dinheiro em aquisições que, até o momento, não renderam lucros expressivos nem fartos dividendos aos acionistas.
Em um momento de turbulência nas bolsas globais, a própria Marfrig já entendeu que seria a hora de melhorar os resultados operacionais e reduzir o endividamento. Neste mês, a empresa vendeu os ativos de logística de sua subsidiária Keystone Foods por 400 milhões de dólares e admitiu a possibilidade de se desfazer de outros ativos não-estratégicos.
3– Gol também faz pouso forçado
O aumento da competição no setor aéreo brasileiro tem jogado o preço das passagens lá embaixo – e afetado o desempenho das ações da Gol. No lado operacional, até houve fatos positivos. Com a compra da Webjet, a Gol acirrou a disputa com a TAM pela liderança do mercado de voos domésticos. Apesar dos problemas nos aeroportos brasileiros, a demanda dos passageiros têm crescido a um ritmo forte. A queda do petróleo também ajuda os resultados das companhias aéreas ao redor do globo. Mas as dificuldades da Gol vão além.
A grande pedra no sapato da empresa é o aumento da competição no mercado de aviação. A expansão da Azul tem obrigado a Gol e a TAM a trabalhar com margens mais baixas para não perder clientes. A companhia aérea da família Constantino registrou um prejuízo de 359 milhões de reais no segundo trimestre. Os maus resultados foram causados principalmente pela pressão sobre os valores das passagens. A receita por assento caiu 13,8% no trimestre. O mercado não perdoou. No ano, as ações da Gol acumulam baixa de 54,9%.
4– Papéis da Romi caem 54,3%
A fabricante de máquinas Romi é uma grande vítima da fraqueza do dólar. As importações de máquinas dispararam neste ano com a perda de competitividade da indústria nacional. Para enfrentar a concorrência principalmente dos chineses e evitar a perda de mercado, a Romi tem cortado o preço de seus produtos. A estratégia, no entanto, tem seus efeitos colaterais. Em julho, a companhia anunciou que a receita líquida deve ficar estável neste ano e que a margem Ebitda deve cair para 6% a 8%. Como investidor nenhum gosta de perda de rentabilidade, as ações despencam.
5– Lupatech é outra que rolou a ladeira
Entre as empresas altamente endividadas da BM&FBovespa que assistiram a uma fuga dos investidores neste ano está a Lupatech. No auge dos preços do petróleo e das descobertas no pré-sal, a fabricante de equipamentos para a indústria petrolífera chegou a ser vista como uma das grandes promessas da bolsa. No entanto, o adiamento de pedidos da principal cliente, a Petrobras, levou a companhia a perder receitas e lucros.
Com encomendas em queda e uma dívida alta, a Lupatech foi rebaixada pelas agências de classificação de risco e perdeu valor de mercado. Para recuperar a confiança dos investidores, a companhia já anunciou que vai colocar em prática um plano de redução de custos e de venda de ativos.
6– Hypermarcas cai com resultado abaixo do esperado
O ano de 2011 está longe de ser o melhor da história para a Hypermarcas. As ações da companhia acumulam queda de 53,4%, o sexto pior resultado da bolsa. Após uma série de aquisições realizadas nos últimos anos, os investidores estão descontentes com os resultados obtidos. O primeiro sinal de fraqueza foi dado pelo balanço do primeiro trimestre. Em seguida, a empresa reduziu as estimativas de geração de caixa para este ano.
As receitas estão em queda principalmente no segmento de higiene e beleza. Dados da Nielsen mostram perdas de participação de mercado em adoçantes, desodorantes, hidratantes, esmaltes e fraldas. No segmento de medicamentos, a empresa ainda deglute aquisições consideradas caras pelo mercado, como da Mantecorp. Ao mesmo tempo em que as receitas têm uma evolução abaixo do esperado, os custos crescem mais do que o mercado havia antecipado.
A empresa reagiu ao ceticismo dos analistas com o anúncio de que vai mudar a estrutura da organização. Foram criadas duas unidades de negócio separadas, uma de consumo e outra farmacêutica. A Hypermarcas também anunciou redução nas despesas com marketing, suspensão de novas aquisições e estudos para a vendas de marcas como Etti, Assim e Assolan.
7– CCDI sofre junto com setor imobiliário
Da mesma forma que a Trisul, a Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI) foi outra incorporadora que estourou o orçamento devido ao aumento dos custos da construção. No caso da CCDI, entretanto, a margem bruta não foi nem ao menos positiva. No segundo trimestre, a margem ficou negativa em 21%. O que acontece é que a empresa vendeu imóveis na planta calculando que os custos para entregá-los seriam bem menores do que realmente foram.
Ainda que essas empresas sejam especialistas em estimar os custos de uma obra e que os contratos de venda de imóveis na planta sejam corrigidos pelo INCC, o aumento dos custos da empresa foi muito maior que a inflação do setor de construção civil como um todo. Pegos ainda mais de surpresa que a própria empresa, os investidores puniram a CCDI com uma queda de 51,3% no preço das ações.
São Paulo – Não está fácil ganhar dinheiro na BM&FBovespa neste ano. Enquanto a Europa não sinalizar alguma solução para os complexos problemas fiscais, pouca gente no mercado acha que haverá um recuperação firme no preço das ações. Mesmo considerando o contexto desfavorável, algumas empresas apresentaram resultados particularmente ruins por motivos específicos. De acordo com a base de dados da consultora Economática, sete companhias com valor de mercado superior a 100 milhões de reais apresentaram desvalorizações superiores a 50% neste ano até a última sexta-feira. Entenda a seguir por que essas companhias perderam mais da metade do valor nos últimos meses:
1– Papéis da Trisul despencam 60,6%
A Trisul é a empresa com ações negociadas na BM&FBovespa com pior desempenho neste ano. A empresa atua no segmento imobiliário, que, de forma geral, tem apanhado muito nos últimos meses. Primeiro foi a alta dos juros que castigou o setor com um todo. Depois veio uma sequência de revisões de orçamentos que derrubaram as margens das incorporadoras. Assim como Cyrela, CCDI, Gafisa e MRV, a Trisul também estourou orçamentos. A margem bruta foi de apenas 3,3% no segundo trimestre, uma das piores da indústria. Já o prejuízo trimestral chegou a 33 milhões de reais.
As margens de lucro têm caído devido principalmente ao aumento dos custos. Pressionadas pelos investidores, as empresas do setor de construção têm feito de tudo para continuar a crescer. O principal fato relevante que uma companhia imobiliária pode apresentar é uma forte projeção de expansão dos lançamentos. Para divulgar um número vistoso ao mercado, entretanto, as empresas têm comprado terrenos caros e contratado mão de obra por valores maiores que o razoável.
Na hora de fechar as contas, a empresa percebe que o lucro obtido com os empreendimentos também foi menor que o esperado. No caso específico da Trisul, houve inclusive atrasos no anúncio do balanço. Os números do segundo trimestre divulgados ao mercado não foram auditados. A preocupação dos analistas é que, em algum momento, o preço dos imóveis pare de subir e as empresas tenham de escolher entre uma forte redução no total de lançamentos ou nos lucros.
2– Ação da Marfrig é a segunda pior
A vice-campeã em perdas no mercado acionário neste ano é a Marfrig, com uma desvalorização acumulada de 57,7%. O principal motivo para a surra no mercado é o alto endividamento. Desde 2006, a Marfrig tem acumulado débitos que financiaram a aquisição de 18 empresas por cerca de 7 bilhões de reais. Também no topo das preocupações dos investidores está o fato de que boa parte dessas dívidas esteja denominada em dólares. A empresa possui 7,35 bilhões de reais em débitos indexados à moeda americana, a sétima maior exposição ao dólar entre todas as companhias da bolsa brasileira. Se o dólar disparar para 2 reais ou mais, por exemplo, a empresa pode ser pega no contrapé.
Nos últimos meses, a forte venda de ações da Marfrig pelo fundo de investimento GWI também ajudou a depreciar os papéis. Existe ainda um componente setorial nas perdas. As ações da JBS, a líder brasileira em proteína animal, acumulam baixa de quase 46% neste ano. De forma geral, os analistas acham que as duas empresas gastaram caminhões de dinheiro em aquisições que, até o momento, não renderam lucros expressivos nem fartos dividendos aos acionistas.
Em um momento de turbulência nas bolsas globais, a própria Marfrig já entendeu que seria a hora de melhorar os resultados operacionais e reduzir o endividamento. Neste mês, a empresa vendeu os ativos de logística de sua subsidiária Keystone Foods por 400 milhões de dólares e admitiu a possibilidade de se desfazer de outros ativos não-estratégicos.
3– Gol também faz pouso forçado
O aumento da competição no setor aéreo brasileiro tem jogado o preço das passagens lá embaixo – e afetado o desempenho das ações da Gol. No lado operacional, até houve fatos positivos. Com a compra da Webjet, a Gol acirrou a disputa com a TAM pela liderança do mercado de voos domésticos. Apesar dos problemas nos aeroportos brasileiros, a demanda dos passageiros têm crescido a um ritmo forte. A queda do petróleo também ajuda os resultados das companhias aéreas ao redor do globo. Mas as dificuldades da Gol vão além.
A grande pedra no sapato da empresa é o aumento da competição no mercado de aviação. A expansão da Azul tem obrigado a Gol e a TAM a trabalhar com margens mais baixas para não perder clientes. A companhia aérea da família Constantino registrou um prejuízo de 359 milhões de reais no segundo trimestre. Os maus resultados foram causados principalmente pela pressão sobre os valores das passagens. A receita por assento caiu 13,8% no trimestre. O mercado não perdoou. No ano, as ações da Gol acumulam baixa de 54,9%.
4– Papéis da Romi caem 54,3%
A fabricante de máquinas Romi é uma grande vítima da fraqueza do dólar. As importações de máquinas dispararam neste ano com a perda de competitividade da indústria nacional. Para enfrentar a concorrência principalmente dos chineses e evitar a perda de mercado, a Romi tem cortado o preço de seus produtos. A estratégia, no entanto, tem seus efeitos colaterais. Em julho, a companhia anunciou que a receita líquida deve ficar estável neste ano e que a margem Ebitda deve cair para 6% a 8%. Como investidor nenhum gosta de perda de rentabilidade, as ações despencam.
5– Lupatech é outra que rolou a ladeira
Entre as empresas altamente endividadas da BM&FBovespa que assistiram a uma fuga dos investidores neste ano está a Lupatech. No auge dos preços do petróleo e das descobertas no pré-sal, a fabricante de equipamentos para a indústria petrolífera chegou a ser vista como uma das grandes promessas da bolsa. No entanto, o adiamento de pedidos da principal cliente, a Petrobras, levou a companhia a perder receitas e lucros.
Com encomendas em queda e uma dívida alta, a Lupatech foi rebaixada pelas agências de classificação de risco e perdeu valor de mercado. Para recuperar a confiança dos investidores, a companhia já anunciou que vai colocar em prática um plano de redução de custos e de venda de ativos.
6– Hypermarcas cai com resultado abaixo do esperado
O ano de 2011 está longe de ser o melhor da história para a Hypermarcas. As ações da companhia acumulam queda de 53,4%, o sexto pior resultado da bolsa. Após uma série de aquisições realizadas nos últimos anos, os investidores estão descontentes com os resultados obtidos. O primeiro sinal de fraqueza foi dado pelo balanço do primeiro trimestre. Em seguida, a empresa reduziu as estimativas de geração de caixa para este ano.
As receitas estão em queda principalmente no segmento de higiene e beleza. Dados da Nielsen mostram perdas de participação de mercado em adoçantes, desodorantes, hidratantes, esmaltes e fraldas. No segmento de medicamentos, a empresa ainda deglute aquisições consideradas caras pelo mercado, como da Mantecorp. Ao mesmo tempo em que as receitas têm uma evolução abaixo do esperado, os custos crescem mais do que o mercado havia antecipado.
A empresa reagiu ao ceticismo dos analistas com o anúncio de que vai mudar a estrutura da organização. Foram criadas duas unidades de negócio separadas, uma de consumo e outra farmacêutica. A Hypermarcas também anunciou redução nas despesas com marketing, suspensão de novas aquisições e estudos para a vendas de marcas como Etti, Assim e Assolan.
7– CCDI sofre junto com setor imobiliário
Da mesma forma que a Trisul, a Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI) foi outra incorporadora que estourou o orçamento devido ao aumento dos custos da construção. No caso da CCDI, entretanto, a margem bruta não foi nem ao menos positiva. No segundo trimestre, a margem ficou negativa em 21%. O que acontece é que a empresa vendeu imóveis na planta calculando que os custos para entregá-los seriam bem menores do que realmente foram.
Ainda que essas empresas sejam especialistas em estimar os custos de uma obra e que os contratos de venda de imóveis na planta sejam corrigidos pelo INCC, o aumento dos custos da empresa foi muito maior que a inflação do setor de construção civil como um todo. Pegos ainda mais de surpresa que a própria empresa, os investidores puniram a CCDI com uma queda de 51,3% no preço das ações.