Caneca de ouro desenhada por joalheiro japonês: há formas bem mais inteligentes de investir em ouro (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2011 às 15h16.
São Paulo – Fraqueza do dólar, risco de calote na Europa, inflação nos países emergentes, guerras no Oriente Médio e possibilidade de novos atentados terroristas são excelentes motivos para o investidor tirar dinheiro da renda variável e correr para a renda fixa, certo? Nem sempre. É verdade que qualquer crise econômica ou geopolítica costuma atrapalhar quem investe em ações, mas na bolsa também há ativos que podem se beneficiar de tanta confusão.
Um deles é o ouro. O metal é considerado pelos investidores uma espécie de porto seguro. Não é à toa que foi o melhor investimento de 2010, quando teve valorização superior a 32%, contra apenas 1% do Ibovespa. Desde os atentados de 11 de Setembro de 2001, em Nova York, o ouro acumula alta de 650% no Brasil. Para quem está pensando em investir em ouro agora, a primeira pergunta que vem à cabeça é: o ouro já ficou caro? Há especialistas que acham que ainda não.
Walter de Wet, analista de metais do Standard Bank em Londres, considera o ouro uma das melhores commodities metálicas para se investir neste ano. Ele afirma que há diversos motivos para permanecer otimista. O principal deles é que as reservas internacionais de diversos países cresceram muito nos últimos anos. A maior parte desse dinheiro acaba aplicada em títulos de dívida de outros governos. No entanto, uma parte cada vez maior é investida em ouro – e é isso que empurrou a cotação da onça (pouco mais de 31 gramas) para o recorde de 1.540 dólares em Nova York.
Por trás desse movimento, está o temor de um calote de dívida soberana em países da Europa e o progressivo enfraquecimento do dólar. Bancos centrais de países como China, Índia, Rússia e México possuem trilhões de dólares em reservas e têm transferido parte do dinheiro aplicado em títulos de dívida para o ouro. Ao mesmo tempo, a oferta mundial é incapaz de atender a demanda.
Não há nenhuma garantia que esse movimento continuará a ser observado no futuro e o investidor que entrar agora deve estar ciente que os preços atuais são bastante elevados. Mas o debate sobre a bolha do ouro tem sido intenso desde que a onça atingiu 1.000 dólares e, contra todos os prognósticos pessimistas, a escalada continua.
Wet, do Standard Bank, admite que a retirada gradual dos estímulos econômicos e da política monetária frouxa nos Estados Unidos, esperada para os próximos meses, deverá enxugar parte da liquidez abundante que existe no mundo - e que também ajuda a inflar os preços das commodities. Isso poderia levar a uma queda temporária do ouro, mas, segundo ele, ainda haverá motivos para a reapreciação do metal. "Muita gente diz que os estímulos monetários estão por trás da alta. Mas essas políticas foram adotadas há apenas dois anos enquanto o ouro já está em escalada há uma década", afirma. Para quem acha que o Standard Bank está certo, seguem na próxima página cinco formas de investir em ouro no Brasil:
1 – Contratos futuros negociados na BM&FBovespa
Os contratos futuros de ouro já estiveram entre os mais negociados na BM&F. Desde o governo Collor, entretanto, as negociações de ouro vem gradativamente minguando. Mas essa opção ainda está ao alcance dos investidores brasileiros. Cada contrato negociado representa 250 gramas de ouro – o que equivale a quase 20.000 reais. Para comprar um contrato, é necessário possuir conta em alguma corretora e enviar a ordem. Assim como acontece no mercado de ações, o investidor terá de pagar à corretora pela realização da operação e arcar com as taxas cobradas pela BM&FBovespa pela compra e custódia de qualquer ativo financeiro. A cotação do ouro no Brasil costuma seguir a dos contratos negociados em Nova York e a variação cambial. Quem decide investir em ouro precisa estar ciente de que perde dinheiro sempre que o dólar cai em relação ao real. Nos cinco primeiros meses deste ano, por exemplo, a onça de ouro subiu 7,7% em Nova York – portanto, um ótimo investimento. Já no Brasil, o grama do ouro negociado na BM&FBovespa acumula baixa de 3,9%, para 78,80 reais – a diferença foi geradas pelas perdas do dólar.
2 – Barras de ouro com entrega física
Quem não tem 20.000 reais para investir em ouro ou não quer abrir conta em corretora também pode adquirir barras do metal com entrega física. As duas principais distribuidoras de ouro no Brasil são a OM DTVM e a Marsam DTVM. As empresas cobram um ágio de cerca de 1% do valor do ouro negociado na BM&FBovespa para realizarem a entrega física do metal. O ouro pode ser adquirido tanto em lojas dessas empresas como ser comprado pela internet. A entrega, nesse segundo caso, pode ser feita pelos Correios (até 10.000 reais com seguro) ou por motoboy (o seguro e a entrega costumam custar 1% do valor adquirido). As empresas possuem barras de ouro de diversos pesos. A OM DTVM permite até a entrega da barrinha de ouro em cartões customizados - como do time de futebol do coração. A responsabilidade por guardar o ouro em algum lugar seguro é do comprador. As barras também podem ser custodiadas exclusivamente pelo Banco do Brasil (mas somente para múltiplos de 250 gramas e com a cobrança de uma taxa mensal). "A maioria de nossos clientes é de pequenos investidores ou gente que quer presentear alguém", diz Mauriciano Cavalcanti, sócio-operador da OM DTVM. Quando o investidor quiser se desfazer do metal, tem a garantia de recompra da própria empresa que lhe vendeu as barras, mas também há um pequeno deságio em relação à cotação da BM&FBovespa.
3 – Mercado informal
Quem caminha pelas ruas da região central de São Paulo vai encontrar diversos "homens-sanduíche" trajando aqueles famosos anúncios de compra e venda de ouro. Muitas vezes os preços de negociação do metal podem parecer mais interessantes que os cobrados pelas empresas autorizadas pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários a realizar esse tipo de transação, como a OM e a Marsam. No entanto, o risco do investidor também é maior. Não há como saber se o ouro passou por um processo de purificação na fundidora nem se possui certificado de autenticidade. Esse tipo de transação, portanto, só deve ser realizada se o investidor conhecer a origem do metal.
4 – Fundos de capital protegido
Diversos bancos já possuem fundos de capital protegido que pagam ao investidor a variação do ouro, como o Banco do Brasil, o Credit Suisse Hedging Griffo, o HSBC e o Itaú. A grande vantagem de qualquer fundo de capital protegido é que o investidor não corre o risco de perder parte do principal se a cotação do ouro recuar – algo bem interessante em uma época de cotações elevadas. O risco, portanto, é de oportunidade: o dinheiro poderia ter sido investido em outro ativo mais lucrativo. Por outro lado, o investidor não ganhará toda a valorização do ouro se ela for muito expressiva. Outra desvantagem é que os fundos de capital protegido referenciados em ouro costumam ser oferecidos apenas aos clientes de alta renda dos bancos porque o produto visa um investidor mais sofisticado que está em busca de diversificação para seu portfólio. Por último, os fundos de capital protegido costumam permitir aportes somente na fase de captação. Encerrado esse prazo, os fundos se tornam fechados para novas aplicações.
5 – Joias
Comprar joias feitas de ouro também é uma forma de investir no metal – já que as peças tendem a se valorizar se as cotações subirem. No entanto, é preciso atestar que as joias são 100% feitas de ouro, já que é muito comum a mistura de outros metais. Dentro da joalheria, o preço da joia também embute o valor do trabalho do joalheiro – nem sempre será possível repassar esse custo no mercado secundário. Tanto joias quanto barras de ouro podem ser penhoradas caso seus proprietários precisem temporariamente de dinheiro para arcar com outras despesas. As operações de penhor no Brasil estão concentradas na Caixa Econômica Federal.