10 ações com preços que inspiram cuidado
Lista mostra empresas brasileiras que são negociadas na Bovespa por valores mais altos que enormes multinacionais americanas dos mesmos setores
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2011 às 07h12.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h35.
O valor de mercado de uma empresa tem muito pouco a ver com seu tamanho. Há negócios relativamente pequenos que não geram receitas tão elevadas, mas que, de tão rentáveis, acabam sendo bastante valorizadas pelos investidores. Da mesma forma, empresas enormes que não conseguem equilibrar seus balanços e estão prestes a quebrar podem valer quase nada no mercado acionário. Nas próximas páginas, EXAME.com apresenta uma lista de dez empresas com ações negociadas na BM&FBovespa que valem mais do que rivais gigantescos dos Estados Unidos. As empresas brasileiras, selecionadas a partir de consultas às bases de dados da Economática e da Thomson, não estão necessariamente caras. O bom momento da economia nacional, o dólar baixo e as elevadas margens de lucro de alguns setores ajudam a justificar a valorização das companhias brasileiras. As dificuldades enfrentadas por algumas empresas americanas também contribuem para a criação de distorções. Mas não se engane. As empresas brasileiras citadas são negociadas com um múltiplo de preço/lucro mais elevado que o das concorrentes internacionais - o que deve sempre ser encarado pelo investidor como um sinal de que é necessário ter cautela.
Fundada há 125 anos, a americana Avon é a maior empresa do mundo em venda direta de cosméticos. A companhia possui cerca de 6,5 milhões de consultoras em mais de 100 países, que geraram vendas de 10,9 bilhões de dólares em 2010. Já a brasileira Natura tem pouco mais de 1,15 milhão de consultoras, principalmente no Brasil, mas também em outros países da América Latina. Esse exército foi capaz de vender 5,1 bilhões de reais em cosméticos no ano passado - portanto, um quarto da receita da Avon. Por que então a empresa brasileira vale 11,8 bilhões de dólares e a americana é cotada por 11,6 bilhões? Em primeiro lugar, porque o crescimento nas vendas de cosméticos na América Latina é muito superior ao índice observado nos EUA e em outras partes do mundo. Isso faz com que a Natura consiga manter taxas de expansão bem mais elevadas que a concorrente americana. Além disso, a Natura é mais eficiente e obtém margens de lucro maiores.
Uma das maiores companhias aéreas do mundo, a American Airlines e sua divisão de aviação regional American Eagle possuem uma frota de 900 aviões que realizam 3.400 voos diários. A companhia emprega 88.000 funcionários e registrou vendas de 22,2 bilhões de dólares no ano passado. Já a Gol tem 114 aviões – ou um oitavo da frota da American. A brasileira realiza quase 900 voos diários em 12 países e obteve uma receita de 7 bilhões de reais em 2010. Números tão diferentes não revelam o motivo que leva a Gol a valer 3,5 bilhões de dólares em bolsa enquanto a AMR, holding que controla a American Airlines, é avaliada por 2,2 bilhões. A grande diferença entre as duas companhias é o nível de competição no setor de aviação brasileiro e americano. Enquanto a Gol só tem a TAM como grande rival, os Estados Unidos possuem várias grandes companhias aéreas. Muitas delas atuam no segmento de baixa tarifa e pressionam para baixo os preços cobrados no mercado como um todo. A pesada competição achata as margens da American Airlines, que registrou um lucro operacional inferior ao da Gol no ano passado.
No final da década de 90, a operadora de telefonia MCI tentou comprar a Sprint por 115 bilhões de dólares, o que, na época, seria a maior fusão da história mundial. O negócio nunca foi concluído por razões regulatórias, mas mostra quão valiosa a Sprint já foi. Hoje em dia, a operadora americana de telefonia celular, que anos depois se juntou à Nextel, vale 13 bilhões de dólares. O valor é 4 bilhões menor que o da Vivo, maior operadora de telefonia celular do Brasil. Por trás da vantagem da empresa controlada pela Telefônica, estão os momentos bem distintos vividos pelas duas operadoras. A Sprint Nextel faturou 32,6 bilhões de dólares em 2010, mas teve prejuízo de 3,5 bilhões. A empresa possui mais de 50 milhões de clientes e 16% do mercado de telefonia celular americano, mas não tem escala suficiente para concorrer com a Verizon e a AT&T. Já a Vivo, que patinou durante boa parte da década passada, vive agora um excelente momento. A empresa consolidou sua liderança no mercado brasileiro de telefonia celular, com uma fatia de 30% do total de linhas, e, com subsídios menores para a compra de aparelhos, alcançou um lucro de 1,9 bilhão de reais no ano passado.
A Tyson Foods é uma das maiores empresas de proteína animal do mundo. Abate aves, porcos e bois e produz comida industrializada a partir de um modelo de produção verticalizado e diversificado. A companhia americana teve uma receita de 28,4 bilhões de dólares em 2010, com um lucro líquido de 780 milhões - números bem melhores que os da JBS. Mesmo assim, a empresa brasileira vale 9,3 bilhões de dólares em bolsa, contra 7,2 bilhões da Tyson Foods. Ajuda a explicar a vantagem da JBS o explosivo crescimento que a empresa experimentou na última década, impulsionado por uma série de grandes aquisições no Brasil, nos Estados Unidos e na Austrália. Sob a lupa dos investidores, o apoio do BNDES à empresa e sua exposição ao crescente mercado brasileiro também favorecem a JBS.
O Goldman Sachs não é apenas o maior banco de investimentos do mundo. A instituição financeira centenária se transformou em um símbolo de Wall Street ao criar um modelo de "partnership" baseado na distribuição de bônus por meritocracia para seus executivos que hoje é imitado em centenas de instituições financeiras ao redor do planeta. Em 2008, auge do furacão que chacoalhou o sistema financeiro mundial, o banco recebeu um aporte do megainvestidor Warren Buffett, manteve-se de pé e superou a crise mais rápido que os concorrentes. Apesar disso, o valor de mercado do Goldman Sachs é menor do que o do Itaú Unibanco (89,3 bilhões contra 83,4 bilhões de dólares). Mesmo com menos da metade dos ativos do banco americano, o banco brasileiro consegue registrar receitas e lucros maiores. A baixa concorrência do sistema financeiro nacional permite a cobrança de juros e tarifas altas, que garantem uma rentabilidade que se mantém entre as maiores do planeta entre instituições financeiras. Além disso, aos olhos dos investidores do pós-crise, bancos de varejo como o Itaú, que possuem depósitos, são considerados mais seguros que bancos de investimento.
A Hering é um dos casos mais surpreendentes de mudança do modelo de negócios na história recente brasileira. A empresa sempre foi conhecida pela fabricação de roupas básicas. Tanto que a camiseta branca se tornou um de seus símbolos. Poderia ser considerado bastante surpreendente, portanto, se alguém dissesse que a empresa de Blumenau (SC) tem um valor de mercado superior ao da Timberland, uma multinacional americana de roupas esportivas com lojas em dezenas de países das Américas, Ásia e Europa. Mas não é. Mesmo com uma receita menor que a da Timberland, a Hering consegue contabilizar um lucro maior. A fórmula do rápido crescimento da empresa brasileira passa pela abertura de lojas franqueadas e pela sofisticação das coleções de roupas, que continuam com preços acessíveis para a classe média. É isso que faz a Hering ter valor de mercado de 2,8 bilhões de dólares, contra 2 bilhões da Timberland.
As sandálias Crocs se tornaram febre mundial nos últimos anos. Lançadas em 2002, são vendidas em dezenas de países e conquistaram os pés até mesmo de brasileiros, já bastante habituados a trajar confortáveis sandálias de borracha aos finais de semana. As Crocs nasceram como um calçado antiderrapante para ser usado em barcos. Longe de ser lindas, são bastante confortáveis e coloridas e atraem principalmente o público infantil e adolescente. Mesmo com o crescimento explosivo, a brasileira Alpargatas, que fabrica as Havaianas, ainda vale mais que a Crocs no mercado acionário: 2,3 bilhões contra 1,5 bilhão de dólares. Sandália por sandália, a fabricante da Havaianas se mostrou nos últimos anos mais preparada para prever a demanda mundial. A Crocs registrou forte prejuízo em 2008 ao expandir a capacidade de produção para um patamar muito superior ao da demanda. Além disso, a Alpargatas possui uma gama de produtos um pouco mais diversificada. A empresa brasileira tem a licença para produzir as marcas Timberland e Mizuno no Brasil, além de fabricar produtos da Rainha e da Topper.
A Alcoa é a maior produtora mundial de alumínio e tem um faturamento quase quatro vezes maior que o da CSN. No entanto, no ranking das empresas de siderurgia e metalurgia mais valorizadas das Américas, quem aparece no topo é a empresa brasileira, que está longe de ser uma das maiores do planeta em aço. A CSN vale 22,6 bilhões de dólares, contra 17,6 bilhões da Alcoa. Por trás da vantagem da empresa brasileira, está o modelo de produção verticalizado. A CSN nasceu como uma siderúrgica, mas hoje é também uma mineradora, uma fabricante de cimento e uma empresa de logística. As minas da CSN são suficientes para atender a demanda de seus fornos por minério de ferro e também geram um excedente que pode ser vendido a terceiros. A empresa possui ferrovias que podem transportar sua produção. Sobras do aço feito pela companhia em Volta Redonda são utilizadas na fabricação de cimento. É por meio desse modelo verticalizado que a CSN se transformou na siderúrgica mais rentável do mundo, com um lucro de 2,6 bilhões de reais em 2010.
Não dá para comparar os volumes negociados na Nyse Euronext e na BM&FBovespa. Apenas na Bolsa de Nova York (Nyse), mais de 2 bilhões de ações mudam de mãos todos os dias. O grupo Nyse Euronext também é dono de bolsas na Holanda, Portugal, França e Bélgica, além já de ter assinado um acordo para a fusão com a Deutsche Boerse. No total, a empresa negocia cerca de 8.000 diferentes ativos - entre eles, estão muitas das maiores empresas do mundo. Já na BM&FBovespa há pouco mais de 400 empresas com ações negociadas, sendo que cerca de 150 possuem boa liquidez. Por outro lado, a bolsa brasileira possui algumas vantagens que fazem com que seu valor de mercado, de 13,4 bilhões de dólares, seja bem mais alto que os 9 bilhões de dólares da Nyse Euronext. Em primeiro lugar, a BM&FBovespa é uma bolsa verticalizada, que atua não apenas na intermediação de negócios com ações, mas também faz a liquidação e a custódia desses papéis. A bolsa paulista não possui competidores no Brasil, enquanto que a Nyse tem que enfrentar concorrentes de peso como a Nasdaq e a Bats. O monopólio da BM&FBovespa se estende aos mercados futuros e de derivativos, algo impossível de ser reproduzido nos EUA. A ausência de concorrência permite que a bolsa brasileira cobre taxas proporcionalmente maiores dos investidores e registre um lucro mais de 100% superior ao da Nyse Euronext. Como a Bats já anunciou a intenção de entrar no Brasil, entretanto, não se sabe por quanto tempo a BM&FBovespa poderá manter essas vantagens.
A AES Corp é um gigante americano do setor de energia, com presença em 29 países, capacidade de geração de 40.300 megawatts e 11 milhões de clientes na área de distribuição. No Brasil, faz parte do bloco de controle de empresas bastante lucrativas como a AES Tietê e a Eletropaulo, entre outras. Apesar de ter obtido receitas de 16,6 bilhões de dólares no ano passado, a companhia americana vale em bolsa quase 1 bilhão de dólares a menos que a CPFL, que faturou 10,6 bilhões de reais. A vantagem da empresa brasileira é sua forte geração de caixa tanto na área de geração de energia, em que tem capacidade para 1.737 megawatts, quanto em distribuição, onde atende 6,6 milhões de consumidores. Já a AES deu prejuízo de 55 milhões de dólares no ano passado, o que explica que seu valor de mercado seja menor.
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