Voando baixo: o que está preocupando analistas e investidores da Azul (AZUL3) e da Gol (GOLL4)?
Em fevereiro, as ações das companhias já caíram mais de 20% e razão do temor do mercado passa até mesmo pela crise da Americanas
Repórter Exame IN
Publicado em 18 de fevereiro de 2023 às 10h19.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2023 às 10h21.
Fevereiro não tem sido um bom mês para os papéis das companhias aéreas Azul ( AZUL4 ) e Gol ( GOLL4 ). Desde o primeiro dia do mês até esta sexta-feira, 17, as ações fecharam no campo negativo - e bastante depreciadas.A AZUL4 caiu 34% - chegando ao menor valor histórico - e a GOLL4, 22,5%.Mas, afinal, o que está assustando os investidores?
Parte da resposta tem a ver com os custos de operação, que não sugerem alívio num horizonte próximo. A Petrobras (PETR3/ PETR4), por exemplo, aninciou aumento de 17% no querosene de aviação no começo do mês, depois de uma sequência de quedas. O encarecimento do combustível é sempre uma má notícia para o setor aéreo, isso porque responde por 40% dos custos da operação das companhias aéreas.
Mas a maior parte do medo do mercado passa pelo cenário macroeconômico global, com os juros em todo o mundo subindo ou, como no Brasil, se mantendo em níveis elevados. Nesse cenário, o custo da dívida das companhias foi às alturas.
Renegociação de dívida
A pandemia ainda se reflete em impactos de caixa para as companhias.A Azul, por exemplo, diz que esse efeito foide mais de R$20 bilhões em sua geração de caixa, o que já está solucionado em 85%. No entanto, há a necessidade de caixa para o exercício de 2023 no valor de, aproximadamente, R$ 3 bilhões. Por isso a empresa começou a negociar seus débitos com arrendadores de aeronaves. Também háR$ 700 milhõesa vencer neste ano com os bancos.
Já a Gol anunciou a reestruturação de sua dívida com títulos de dívida emitidos no exterior, após fechar acordo com os acionistas da Abra Group, holding que agregará ações da Gol e da colombiana Avianca,e um grupo de credores detentores de bonds. A reestruturação prevê a injeção de pouco mais de US$ 400 milhões e troca de bonds.
Rebaixamento de rating
Com o caso Ameriacanas (AMER3) deteriorando o mercado de crédito no país, a percepção de risco ficou maior para os credores. Isso respingou nas companhias aéreas. Em 10 de fevereiro, a agência de classificação de risco Ficth Ratings, rebaixou os IDRs de longo prazo em moedas estrangeira e local da Azul e as notas sem garantia de CCC+ para CCC-, e também reduziu o rating nacional de B para CCC.
“Os rebaixamentos refletem os altos riscos de refinanciamento da Azul, as pressões no fluxo de caixa operacional da companhia, a deterioração de sua liquidez, e as restrições mais acentuadas no mercado de crédito local, em função da inadimplência da Americanas”, diz a Fitch.
O argumento é similar ao da S&P, que também reduziu o perfil de crédito da companhia. A agênciarebaixouseusratingsdecréditodeCCC+paraCCC-naescalaglobal.Aomesmotempo,rebaixou oratingdecréditodeemissornaescalanacionaldebrBBparabrCCC-. "Esperamos que o déficit de fluxo de caixa e os riscos de refinanciamento da Azul permaneçam altos"
A agência também rebaixou a nota de crédito da Gol. Passou os IDRs em moeda estrangeira e local da de B- para para C, com perspectiva negativa. A agência também rebaixou os ratings dos bonds sem garantia real da Gol Finance para de B- para C e o rating nacional de longo prazo foi de BB+(bra) para C(bra).
Desafios desde a covid-19
A ação da Azul chegou ao seu menor valor histórico na sexta-feira, 17, a R$ 7,79. O maior valor já registrado foi em 28 de janeiro de 2020, pouco antes do início da pandemia, quando atingiu os R$ 62,41. Desde seu a IPO em 2017 até o máximo em janeiro de 2020, a AZUL4 valorizou 197,2%.Agora, do máximo em 2020 até o dia 17 de fevereiro a ação registra queda de 87,5%.
No auge da pandemia, entre os dias 21 de fevereiro de 2020 e 18 de março do mesmo ano, o papel desvalorizou 81,4%, saindo de R$ 55,65 para R$ 10,35 por ação.
A ação da Gol, por sua vez, registra queda de 94% desde setembro de 2006, quando chegou ao seu valor máximo.Na sexta-feira, fechou negociada a R$ 5,93. No momento crítico da pandemia, entre os dias 21 de fevereiro e 18 de março de 2020, o papel se desvalorizou 83,4%, saindo de R$ 33,82 para R$ 5,60.