Visão do Fed sobre juros contrasta com apostas de cortes em 2023
O banco central dos EUA deve elevar a taxa básica em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira
Bloomberg
Publicado em 12 de dezembro de 2022 às 11h52.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e sua equipe têm a história a seu favor ao discordar de Wall Street sobre quanto tempo os juros permanecerão altos em 2023.
Após o aperto mais rápido da política monetária desde a década de 1980, o banco central dos EUA deve elevar a taxa básica em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira, após quatro altas consecutivas de 0,75 ponto para combater a inflação.
Tal medida - amplamente sinalizada pelas autoridades – aumentaria a taxa de juros para uma meta entre 4,25% e 4,5%, o nível mais alto desde 2007. Também devem sinalizar mais 0,5 p.p. de aperto no próximo ano, de acordo com economistas consultados pela Bloomberg, e a expectativa de que, quando atingirem esse pico, permanecerão estacionados durante todo o ano de 2023.
Os mercados financeiros concordam com a visão de curto prazo, mas veem um rápido recuo das taxas em relação ao pico no próximo ano. Esse choque pode ocorrer porque investidores esperam que as pressões de preços diminuam mais rapidamente do que na percepção do Fed, cuja preocupação é de que a inflação se mostre persistente depois de sua projeção equivocada de que seria transitória. Também pode refletir as apostas de que o aumento do desemprego terá mais peso para o banco central americano.
A reunião desta semana em Washington é uma nova oportunidade para Powell enfatizar seu ponto de vista de que as autoridades esperam manter os juros elevados para derrotar a inflação - como o fez em discurso de 30 de novembro, quando destacou que a política permaneceria restritiva “por algum tempo”.
Nos últimos cinco ciclos de juros, a permanência média da taxa básica no pico foi de 11 meses, períodos em que a inflação se manteve mais estável.
“O Fed tem transmitido a mensagem de que a taxa básica de juros provavelmente permanecerá no pico por um tempo”, disse Conrad DeQuadros, consultor econômico sênior da Brean Capital. “Essa é a parte da mensagem que o mercado consistentemente não entende. As estimativas do grau em que a inflação cairá são muito otimistas.”
Em jogo na tensão entre a comunicação do Fed e investidores estão duas visões distintas sobre a economia pós-pandemia: a visão dos mercados mostra um banco central em que se pode confiar e que coloca rapidamente a inflação na trajetória de sua meta de 2%, possivelmente com a ajuda de uma recessão moderada ou forças desinflacionárias que mantiveram os preços baixos por duas décadas.
A curva de juros - medida pela diferença entre os rendimentos dos títulos de 10 e 2 anos do Tesouro dos EUA – está na posição mais invertida desde a década de 1980, um sinal de que traders veem uma desaceleração econômica à frente.
Os mercados financeiros “estão simplesmente precificando um ciclo normal de negócios”, disse Scott Thiel, estrategista-chefe de renda fixa da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo.
Uma visão distinta diz que as restrições de oferta serão uma força inflacionária por meses e talvez anos, à medida que as linhas de suprimentos redesenhadas e a geopolítica afetam insumos críticos, como chips, talentos na força de trabalho, petróleo e outras commodities.
Nesta tese, os bancos centrais estarão cautelosos em relação ao avanço da inflação, que pode ser apenas temporário e vulnerável ao surgimento de novos atritos que prolonguem as pressões sobre os preços.
A “competição estratégica” é inflacionária, diz Thiel, da BlackRock. “Esperamos que a inflação seja mais persistente, mas também esperamos que a volatilidade da inflação e, nesse caso, os dados econômicos de forma mais ampla, sejam maiores.”