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União de bolsas da AL pode aumentar fluxo regional

A ideia de transformar a BM&FBovespa em um centro de liquidez da região é vista com bons olhos no mercado


	BM&FBovespa: a BM&FBovespa é a quinta bolsa no mundo, considerando o seu valor de mercado e a 12ª em volumes negociados
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

BM&FBovespa: a BM&FBovespa é a quinta bolsa no mundo, considerando o seu valor de mercado e a 12ª em volumes negociados (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2014 às 09h23.

São Paulo - Uma parceria da Bolsa brasileira com Chile, Colômbia, Peru e México poderá abrir as portas para o aumento dos fluxos financeiros regionais, impulsionando, ainda, a criação de um centro mais robusto de liquidez para a América Latina. A estratégia poderia, assim, ajudar na atração do investidor estrangeiro que ainda não faz negócios diretamente na região, e consequentemente trazer para cá a liquidez que os países latino-americanos levam para Nova York, por exemplo.

A BM&FBovespa é a quinta bolsa no mundo, considerando o seu valor de mercado e a 12ª em volumes negociados, mas com uma integração, com ações de países vizinhos podendo ser negociadas diretamente por aqui, e vice-versa, poderia se tornar uma referência do eixo Sul-Sul, na visão de especialistas.

"A BM&FBovespa precisa se colocar na posição de protagonista e atrair para ela os players que são menores e se aproveitar do fato de que o Brasil é um país considerado neutro. Nós temos um sistema financeiro sofisticado, mas nós não somos imperialistas", disse ao Broadcast Marcelo Maziero, fundador da Academia de Finanças e ex-diretor de Produtos da BM&FBovespa. O fluxo Norte-Sul-Norte, destaca, foi muito mais trabalhado e desenvolvido ao longo dos anos.

Um dos caminhos que pode ser trilhado pela Bolsa para dar o pontapé em sua internacionalização poderá ser por meio do ingresso no Mercado Integrado Latino-americano (Mila), que é a integração das bolsas do Chile, Peru e Colômbia, e no qual o México fará parte até o final deste ano. Hoje, por exemplo, por meio do Mila, é possível comprar uma ação chilena na bolsa colombiana ou peruana. Por outro lado, os volumes do Mila não têm crescido e hoje são menores do que à época de sua criação, em 2011. Um dos entraves têm sido as diferenças em regimes tributários.

Na visão, de Maziero a decisão de participar do Mila pode ser acertada, porque a partir daí se reconhece a iniciativa do Mila, ao passo que o bom relacionamento com os países e bolsas é preservado. O Mila, destaca, é também um movimento que envolve os governos e os órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no caso brasileiro.

Ou seja: esse passo da Bolsa brasileira precisa ser dado juntamente com o governo. Do lado dos outros países da região, Maziero destaca que eles seriam amplamente beneficiados, já que investidores estrangeiros, que ainda não colocam na mesa as ações latino-americanas para a decisão do investimento, podem passar a olhar esses mercados.

O secretário e gestor de projetos do Mila, Felipe Pezo Riquelme, considera que o objetivo de permitir oportunidades para o acesso a esses mercados foi alcançado. "Nós vemos a criação do Mila como uma integração natural, uma vez que seis instituições do Chile, Colômbia e Peru dividem uma visão de entregar melhores oportunidades para os investidores acessarem os mercados emergentes", destaca Riquelme ao Broadcast.

O secretário do Mila afirma que até o momento, a Bolsa brasileira não declarou sua intenção de fazer parte do Mila, mas que se esse passo for dado, seria uma "grande satisfação" e "reconhecimento do que foi feito até aqui", afirma ele.

Parcerias A percepção do ex-diretor da BM&FBovespa é de que esse passo para a Bolsa não deve envolver uma aquisição, mas realmente uma parceria.

"O objetivo maior é se aproximar das bolsas e trazer junto o regulador", disse. Uma compra de uma fatia minoritária, por outro lado, pode ser um instrumento utilizado de forma a "aumentar o nível de intimidade" entre as partes. "Eu acho factível uma aproximação e no passado já existiram conversas de como se fazer uma aproximação Brasil mais Mila", disse, lembrando que, se a decisão for integrar este mercado, uma das vantagens será "uma boa vontade dos governos locais", sem ter uma posição imperialista.

A movimentação para integração dos mercados do continente, por outro lado, não vem sendo apenas analisada pela Bolsa. A Brasil Investimentos e Negócios (BRAiN) possui um projeto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a integração financeira da América Latina. "Seria um ganha-ganha. Hoje em dia todos os países da região perdem em não ser integrados", disse o diretor Técnico da o BRAiN, André Sacconato.

Segundo ele, atualmente um investidor chileno que quer adquirir uma ação de uma companhia brasileira vai até Nova York, para comprar uma ADR, que é um recibo de depósito norte-americano, que representam ações de empresas estrangeiras. "O nosso projeto olha isso e tenta convencer todos os atores que vale a pena nacionalizar todos os serviços na região", disse. De acordo com Sacconato, atualmente todos os serviços que envolvem o mundo financeiro também são levados para os Estados Unidos a partir do momento que a liquidez é levada para os mercados do eixo norte. A ideia, disse, é trazer todo esse pacote de volta para a região.

Liquidez regional

A ideia de transformar a BM&FBovespa em um centro de liquidez da região é vista com bons olhos no mercado, apesar de algumas dificuldades que podem ser encontradas pela frente, como questões envolvendo o lado fiscal, por exemplo. "Tinha-se no passado uma conversa para tornar a Bovespa como o liquidity hub da América Latina, ou seja, qualquer investidor poderia negociar qualquer ativo de empresa da região em São Paulo. Por isso, foram lançados os BDRs. Mas essa classe de ativos não cresceu muito, em particular por causa de tratamento fiscal", destaca o analista do UBS, Frederic de Mariz.

Na visão de Francisco Kops, analista do Banco Safra, a internacionalização da BM&FBovespa é importante tendo em vista que diminuiria a correlação da companhia em relação ao andamento do mercado brasileiro e traria diversificação de suas receitas. Sobre a possibilidade de a Bolsa integrar o Mila, o analista lembra que, pelo tamanho da bolsa brasileira, ela se beneficiaria menos do que os demais países latino-americanos.

Ainda por similaridades, Maziero acredita que outro país que deve entrar no radar da Bolsa brasileira é a África do Sul. "África do Sul tem um bolsa muito moderna" disse. Com essa aproximação, juntamente com uma maior integração regional, Maziero acredita que a Bolsa poderia se firmar, assim, como uma candidata a hub regional. "Os bancos e corretoras do País também sairiam ganhando com esse desenho", afirma.

O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, afirmou que a Bolsa olha com mais expectativa para uma aproximação com o próprio Mercosul. Para o executivo, essa poderá ser uma saída para a integração não enfrentar as mesmas barreiras vividas pelo Mila. "Na minha opinião o Mila não deslancha primeiro pelo pouco volume que as bolsas latinas têm hoje e segundo pela falta de uniformidade na regulação", afirma.

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