Selic a 12,75%: 5 opiniões do mercado sobre a maior taxa desde 2017
Sinalização de nova alta de juros em junho pode deixar porta aberta para continuação do ciclo de aperto monetário
Beatriz Quesada
Publicado em 4 de maio de 2022 às 21h01.
Como era amplamente esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu, nesta quarta-feira, 4, aumentar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 1 ponto percentual (p.p.), para 12,75%, ao ano.
No comunicado, o Comitê justificou a elevação com o desafio em lidar com o aumento das as pressões inflacionárias, especialmente no exterior, com a chegada de uma nova onda de covid-19 na China e com os desdobramentos da guerra na Ucrânia.
O Copom reforçou ainda que o processo de alta de juros pretende também ancorar (guiar) as expectativas do mercado em torno das metas de inflação, trazendo maior confiança de que o BC é capaz de cumpri-las como esperado.
Uma das estratégias utilizadas para ancorar as expectativas é deixar claro os próximos passos. O Copom, no entanto, optou por deixar sua próxima decisão 'parcialmente' em aberto. A autoridade monetária sinalizou uma alta de menor magnitude na reunião de junho, o que levou grande parte do mercado a reajustar as expectativas para uma elevação de 0,5 p.p., levando a Selic para 13,25% ao ano.
O que a decisão significa e o que deve vir daqui para frente? A EXAME Invest ouviu 5 opiniões do mercado sobre a decisão do Copom:
Revisão da rota
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, avaliou que a mudança de rota do Copom foi positiva em responder aos anseios do mercado. “Depois de Campos Neto, ensaiar um final das altas de juros já agora em maio, o Copom indicou ser mais provável que o ciclo se estenda a um ritmo mais lento”, disse, em nota.
“A decisão de prolongar o aperto veio em linha com o que se esperava e sanou os questionamentos que o mercado vinha fazendo”. A casa prevê a Selic a 13,25% ao final do ciclo, considerando uma alta residual em junho.
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Expectativas ancoradas
Paloma Brum, analista da Toro Investimentos, acredita que uma nova alta em junho é suficiente para ancorar as expectativas do mercado.
“Na minha visão, o ajuste é positivo, em linha com a expectativa predominante no mercado, o que tende a manter as expectativas de inflação no Brasil bem ancoradas a longo prazo, servindo de base para a tomada de decisão dos agentes econômicos, especialmente no que tange aos investimentos”, afirmou, em nota.
Fim do ciclo em junho?
É possível, no entanto, que o ciclo se estenda mais que o previsto. Esta é a opinião de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “Acredito que o BC deixou as portas abertas para subir os juros para além da próxima reunião, considerando o seguinte trecho: ‘o comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno das suas metas’”, afirmou Cruz em nota.
“É possível que ocorram novas altas de juros depois de junho considerando pressões inflacionárias interna e externa”, disse. Ainda assim, a casa trabalha com projeção de 13,25% ao ano para a Selic.
Ainda pode faltar
O BNP Paribas, por outro lado, ressalta que o BC está mais otimista com a inflação do que deveria. A casa projeta 10% de inflação para 2022 e 5% para ano que vem, enquanto o Banco Central aguarda uma inflação de 7,3% para este ano e de 3,4% para 2023.
“Olhando para a persistência da inflação, acreditamos que o BC vai ter que fazer mais do que o comunicado mostrou. Acreditamos que ainda está em jogo algo perto de 14% para a Selic em 2022", afirmou Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas.
E o Fed, deve influenciar?
Em decisão divulgada também nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) elevou em 0,5 p.p. a taxa de juro americana. Foi o segundo passo da trajetória de alta de juros nos EUA, que deve se continuar mesmo após o fim do ciclo de aperto monetário no Brasil.
A grande questão é se as altas por lá podem influenciar a Selic ainda mais para cima. Para analistas da corretora Órama, isso não deve acontecer.
“Como o Banco Central brasileiro se antecipou, corretamente a nosso ver, no processo de aperto monetário ainda em 2021, não enxergamos uma relação mecânica, quase simbiótica, das resoluções de lá com as daqui”, afirmaram, em nota,Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e Elisa Andrade, analista de macroeconomia da corretora.