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Selic a 10,75%: 5 visões do mercado sobre a alta de juros do Copom

Grande novidade da decisão é que BC pretende reduzir ritmo do aperto monetário na reunião de março

COPOM: a ata do último encontro abre possibilidade para mais um corte na Selic em dezembro / REUTERS/Adriano Machado (Adriano Machado/Reuters)
BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 19h51.

Última atualização em 2 de fevereiro de 2022 às 20h43.

O Banco Central do Brasil (BCB) abriu um novo capítulo na trajetória de aperto monetário do País e elevou a taxa básica de juros para a casa dos dois dígitos pela primeira vez em cinco anos.

O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic do patamar de 9,25% ao ano para 10,75% ao ano, uma alta de 1,5 ponto percentual (150 pontos-base). A confirmação levou a taxa básica de juros ao maior patamar em quase cinco anos, desde abril de 2017, quando ela ficou em 11,25% ao ano.

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A elevação era amplamente esperada pelo mercado: de 37 economistas consultados pela Bloomberg, 36 apostaram em um aumento de 1,5 ponto percentual. A grande novidade do comunicado foi sinalizar uma redução do ritmo de ajuste.

“Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, diz o comunicado.

O Copom, no entanto, não sinalizou qual deve ser a magnitude da elevação seguinte. A próxima reunião do Comitê será no dia 16 de março.

Confira 5 opiniões do mercado sobre a decisão do Copom:

RB Investimentos

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, acredita que a sinalização do BC em diminuir o aperto monetário foi arriscada. Isso porque a inflação pode continuar a avançar em um ritmo alto, o que pressionaria o Copom a rever sua posição.

A mediana das expectativas do mercado, segundo o mais recente boletim Focus, aponta para uma alta neste ano de 5,38% no IPCA, o índice de referência de inflação no país. Para 2023, a expectativa é de avanço de 3,50%.

“Não existem sinais de que a inflação deve ceder até a próxima reunião em março. Há o risco de que o BC repita o que ocorreu no ano passado, quando indicou que o ritmo seria menor, mas se viu obrigado a entregar uma elevação mais forte para segurar as expectativas”, afirma Cruz.

A previsão da RB é de uma nova elevação na taxa na reunião de março, de 1 ponto percentual, seguida de outra alta de 0,5 ponto percentual em abril. A Selic encerraria o ano em 12,25% ao ano – maior patamar desde fevereiro de 2017.

Reag Investimentos

Simone Pasianotto, economista chefe da plataforma Reag Investimentos, também acredita que a inflação pode ser um grande desafio para o Banco Central.

“As expectativas de inflação ainda seguem desancoradas, acima do teto neste ano e pouco acima do centro da meta em 2023. Adicionalmente, a surpresa negativa com a prévia da inflação de janeiro (IPCA-15), divulgada na semana passada, mantém o tom de cautela quanto ao processo de desinflação da economia”, afirma Pasianotto em nota.

A REAG projeta que a Selic chegue a 12,25% ao ano no fim do atual ciclo de aperto monetário, com mais duas altas após a decisão desta quarta. No melhor dos cenários, a taxa poderia encerrar o ano em 11,75% e recuar para 8% em 2023.

Necton Investimentos

André Perfeito, economista chefe da corretora Necton (do mesmo grupo controlador da EXAME), avalia que o comunicado foi mais duro, ou seja, direcionado para a tendência de aumento de juros.

“O tom do comunicado nos pareceu marginalmente “hawkish” [favorável ao aumento de juros] ao apontar diversos desafios, em especial a questão fiscal e a inflação mais persistente. Provavelmente o BCB preferiu agir mais duramente agora para abrir espaço para o fim do ciclo”, afirma Perfeito, em nota.

A projeção da casa prevê mais uma alta de 75 pontos-base e outra de 50 pontos-base, levando a taxa a 12% até o final do ano.

“Mas levando em conta o tom da ata e a perspectiva que o colegiado do BCB está olhando com mais atenção o ano calendário de 2023, talvez haja espaço para uma alta de 100 pontos base e depois mais nenhuma outra, fazendo a Selic ficar em 11,75%”, diz.

Órama Investimentos

Para a equipe da corretora Órama, a decisão do Copom em não se comprometer indicando a magnitude da próxima alta foi acertada. O economista-chefe Alexandre Espírito Santo e a analista de macroeconomia Elisa Andrade defendem que é prudente aguardar para avaliar como o choque de juros em curso vai afetar a economia.

“Permanecemos com a visão de que parte da inflação atual está sendo impulsionada por choques de oferta e inércia, e não por aquecimento de demanda."

"Dessa forma, movimentos muito acentuados de alta na Selic, acima de 11,5% ao ano, podem acabar sendo contraproducentes, pois tendem a afetar pesadamente o lado produtivo, sem, no entanto, alcançarmos o resultado desejado de fazer o IPCA convergir para o centro da meta em 2022”, afirmam em nota.

Ativa Investimentos

Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, argumenta que a sinalização de suavização do aperto é incoerente com o avanço das expectativas de inflação do próprio Banco Central.

“Avalio que a autoridade opta por perder graus de credibilidade no combate às expectativas de inflação. O BC apresentou um comunicado “dovish” [favorável à redução de juros] apontando para uma redução do ritmo de elevação da Selic, mas tentou ser “hawkish” ao tentar remover a tampa dos juros”, afirma Sanchez, em nota.

A corretora reduziu a perspectiva para Selic de 12,25% para 11,75%, com apenas mais uma elevação do juro na reunião de março, ao ritmo de 100 pontos-base. “A taxa deverá permanecer inalterada ao longo de todo 2022, com cortes apenas no início de 2023, ao ritmo de 50 pontos-base”, diz.

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