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Ryo Asset vê upside de mais de 50% em ação do setor de petróleo

Compra do Polo Bahia Terra, da Petrobras, poderá ser muito relevante para a história da companhia, disse Luiz Constantino em entrevista à EXAME Invest

Luiz Constantino, sócio e diretor de gestão da Ryo Asset (Ryo Asset/Divulgação)
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Guilherme Guilherme

Publicado em 20 de março de 2022 às 08h30.

O petróleo, diretamente afetado pela guerra na Ucrânia por causa das sanções econômicas à Rússia, tem apresentado intensa volatilidade nas últimas semanas. Somente neste mês, o preço do barril do tipo Brent chegou a subir 40%, para US$ 139, e a cair 40%, abaixo de US$ 100. Tamanha turbulência e mesmo uma eventual estabilização do preço, porém, devem ter efeito limitado sobre as ações da PetroRecôncavo (RECV3). É o que aponta a Ryo Asset, gestora que investe na empresa e que enxerga grande potencial de valorização da ação mesmo sem uma alta adicional nas cotações.

"Consideramos muito importante a parte micro. A PetroRecôncavo é uma empresa de revitalização de poços maduros. Enxergamos mais de 50% de upside [ potencial de valorização ] considerando apenas os ativos no portfólio", afirmou Luiz Constantino, sócio-fundador e diretor de gestão da Ryo Asset, em entrevista à EXAME Invest.

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O experiente profissional fundou a nova casa no ano passado, depois de ter trabalhado 16 anos no Opportunity, tradicional gestora em que cuidou das estratégias do Opportunity Selection e do Opportunity Long Biased.

Os planos de desinvestimento da Petrobras (PETR3, PETR4) são sinônimos de oportunidade de acelerar o crescimento para a PetroRecôncavo. O próximo leilão na mira da companhia é o de Bahia Terra, no estado que dá nome ao polo."Não sabemos se irá ganhar, mas poderá ser muito relevante para a história da companhia. O campo de Bahia Terra poderia representar mais de 50% do valor de mercado atual da PetroRecôncavo [de R$ 5,55 bilhões]."

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Constantino também segue otimista com as ações da Smart Fit (SMFT3), que já subiram mais de 30% neste início do ano, uma das maiores altas da bolsa brasileira.

"A alta recente é explicada pela melhora do cenário da pandemia. Capitais estão adotando ou defendendo o fim do uso de máscara, o que é muito importante para a Smart Fit. Quando isso aconteceu em outras geografias, houve um movimento muito forte de volta à academia", disse Renata Baião, sócia e analista da Ryo Asset.

-(Ryo Asset/Divulgação)

O movimento de valorização das ações da Smart Fit, que ganhou força nos últimos dias com o relaxamento da obrigatoriedade do uso de máscara no estado de São Paulo e em outras localidades, foi antecipado pela própria Ryo Asset em janeiro na participação de Constantino no Clube, o podcast da EXAME Invest com gestores.

A SmartFit (SMFT3) segue como uma das principais posições da gestora. "Ainda estamos bem animados com a história", disse Constantino.

Confira a entrevista comLuiz Constantino, sócio e diretor de gestão da Ryo Asset, e Renata Baião, sócia e analista da gestora.

A Ryo Asset chegou a aumentar posições em petrolíferas após as recentes altas das cotações do petróleo?

Luiz Constantino: O medo de interferência na Petrobras (PETR3, PETR4) pode fazer a ação cair mesmo sem a interferência de fato. Esse risco é difícil de monitorar. Portanto, tomamos cuidado para não ter uma posição grande. O desconto da Petrobras parece bastante alto, mas o cenário é difícil, ainda mais com a eleição no caminho.

Na PetroRecôncavo, consideramos muito importante a parte micro. É uma empresa de revitalização de poços maduros. Recentemente, ela pegou dois leilões da Petrobras, o Riacho da Forquilha e o Campo de Miranda.

É um player que já tem histórico longo e comprovado. Temos muito conforto nos números da empresa, que está conseguindo executar bem o plano de negócios. Enxergamos mais de 50% de upside considerando apenas os ativos que já estão no portfólio. Mas ela tem possibilidade de conseguir novos campos.

É uma empresa que tem muito potencial de valorização e isso depende mais dos tema micro do que das oscilações do preço do petróleo. Isso tudo fora o potencial do mercado de gás. A Petrobras pagava um preço muito baixo pelo gás da PetroRecôncavo, mas a empresa tem diversificado sua clientela, indo para outras distribuidoras de gás. É uma mudança importante para sua história de geração de valor.

Há algum campo relevante na mira da PetroRecôncavo?

Constantino: A Petrobras vem desinvestindo em campos maduros. Até o fim do mês de março, deve acontecer um novo leilão do campo de Bahia Terra, e a PetroRecôncavo parece bem posicionada. Não sabemos se irá ganhar, mas poderá ser muito relevante para a história da companhia. O campo de Bahia Terra poderia representar mais de 50% do valor de mercado atual da PetroRecôncavo. Se ganhar, não deve ser sozinha, mas por meio de consórcio.

Além de Bahia Terra, há outra grande oportunidade no radar da empresa?

Luiz Constantino: No curto prazo, não há nada tão relevante como o campo de Bahia Terra. Mas temos visto muitas empresas pequenas comprando poços da Petrobras recentemente. Talvez elas não tenham recursos para desenvolver os campos ou a expertise necessária.

Algumas dessas empresas ganharam blocos da Petrobras e podem buscar parcerias com players mais estabelecidos. É outra oportunidade que a PetroRecôncavo terá que conseguir: novos ativos em uma janela mais longa, para os próximos anos.

A Ryo Asset também vinha com posição montada em Smart Fit e as ações já acumulam forte alta no ano. Ainda vale o investimento?

Luiz Constantino: Ainda estamos bem animados com a história. A Smart Fit é uma das nossas principais posições.

Renata Baião: A alta recente é explicada pela melhora do cenário da pandemia. Capitais estão defendendo a queda do uso de máscara, o que é muito importante para a Smart Fit. Quando isso aconteceu em outras geografias, houve um movimento muito forte de volta à academia. No Chile, onde o uso obrigatório de máscara caiu já há algum tempo, a Smartfit recuperou alunos para o equivalente a mais de 100% do que tinha antes da pandemia.

Ainda há muita oportunidade de crescimento para a Smart Fit. A penetração de academias na população da América Latina é abaixo de 4%, enquanto em países desenvolvidos o percentual fica acima de 20%.

Esse número tem crescido bastante ao longo dos últimos anos, não só pela tendência de uma maior preocupação com com a saúde mas pelo próprio crescimento de academias low cost, com equipamentos de alta qualidade e preço bem mais em conta do que nas academias tradicionais. Esse modelo mais acessível atrai muitos novos entrantes. Vemos o mercado ainda pouco desenvolvido na América Latina e o modelo da Smart Fit é o certo para essa expansão.

A previsão é a de um ano difícil na economia. Como é a elasticidade do setor em relação ao nível da atividade?

Baião: O primeiro impacto é na inflação de custos das academias. Cerca de um 33% é aluguel e outros 33% são gastos com pessoal. A parte do aluguel foi a que mais pesou. O IGP-M tem avançado bastante. Mesmo assim, a empresa conseguiu boas negociações de aluguel, com os custos crescendo apenas 10%. E a despesa com mão-de-obra seguiu controlada.

A inflação está sendo bem gerida pela Smart Fit, com repasses de preços suficientes para manter a rentabilidade. Do lado da demanda, nos baseamos pelo histórico e o impacto da crise de 2015 e 2016 foi muito pequeno sobre a Smart Fit.

Essa busca por empresas mais resilientes ao cenário econômico tem sido o principal fator nas decisões de investimento da Ryo?

Constantino: Temos o cuidado de não concentrar o portfólio em histórias com os mesmos riscos. Nossas decisões de investimento são muito pautadas por entender cenários, mas, no fim, os fundamentos das empresas têm que se justificar em diferentes cenários. As empresas do nosso portfólio estão bem descontadas mesmo com um cenário difícil.

Não estamos concentrando muito em histórias com maior risco. Um dos principais riscos durante este ano e o próximo é a inflação alta e o crescimento baixo.

As empresas poderão enfrentar maior pressão de margem. A alta de commodities adiciona ainda mais pressão. Muitas empresas não conseguem repassar preços, mesmo estando bem posicionadas, porque o consumidor não aguenta.

A Ryo tem posição relevante dentro do varejo?

Baião: Temos ações da Soma (SOMA3) desde o IPO. Gostamos muito da dinâmica das marcas, especialmente as voltadas para as classes A e A+. Com a volatilidade do ambiente macro, essas marcas tendem a ser mais resilientes do ponto de vista de demanda. São marcas que têm performances muito boas, principalmente a Farm, voltada para a renda mais alta.

Apesar de já ser a maior marca do segmento, o market share da Farm no mercado endereçável é relativamente baixo. Também gostamos bastante da Farm global, que em dois anos já conseguiu entregar o que outras empresas demoraram muitos anos para conseguir. Gostamos muito da entrada deles na Europa.

O marketing digital da Soma é muito desenvolvido quando comparado com pares locais. A aquisição da Hering foi diferente das anteriores. O lado digital da Soma é muito forte e a Hering deixou a desejar nos últimos anos. Vemos potencial de a Soma agregar à operação da Hering.

A Equatorial continua sendo a maior posição do fundo?

Constantino: Sim. A Equatorial (EQTL3) é uma empresa em que investimos há mais de dez anos. Temos muita confiança na diretoria, no alinhamento e na execução dos processos de diversas distribuidoras. A alocação de capital foi muito assertiva ao longo do tempo. A Equatorial está sempre atenta a oportunidades e as aquisições têm gerado muito valor.

Eles fizeram movimentos importantes no setor de transmissão em um momento em que os leilões ainda não eram muito disputados. Quando ficaram muito competitivos, ela parou de entrar de forma mais ativa

Agora, a empresa entrou no saneamento. A Equatorial ainda deve dar bastante atenção a esse segmento.

Dada a previsão de maior participação do setor privado no saneamento, essa pode ser a principal frente de crescimento da Equatorial?

Constantino: Há a possibilidade de ser a maior frente de alocação de capital futuro. Mas, na empresa como um todo, a distribuição já é muito relevante e isso não muda.

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