Rússia dá calote em dívida externa pela primeira vez desde 1917
No final do dia de domingo, o período de carência para pagamentos de juros de cerca de US$ 100 milhões que venceram em 27 de maio expirou, caracterizando o default
Bloomberg
Publicado em 27 de junho de 2022 às 11h40.
Última atualização em 27 de junho de 2022 às 12h07.
A dívida externa da Rússia entrou em default pela primeira vez em um século após as sanções ocidentais cada vez mais duras fecharem as rotas de pagamento aos credores estrangeiros.
Durante meses, o país encontrou caminhos para contornar as penalidades impostas após a invasão da Ucrânia pelo Kremlin. Mas no final do dia de domingo, o período de carência para pagamentos de juros de cerca de US$ 100 milhões que venceram em 27 de maio expirou, caracterizando o default.
Foi um marco na rápida transformação do país em um pária econômico, financeiro e político. Os eurobônus do país têm sido negociados em níveis de estresse desde o início de março, as reservas estrangeiras do banco central permanecem congeladas e seus maiores bancos estão isolados do sistema financeiro global.
Mas, dados os danos já causados à economia e aos mercados, o calote também é sobretudo simbólico por enquanto, e pouco importa para a população russa que lida com inflação de dois dígitos e a pior contração econômica em anos.
A Rússia contestou a designação de default , dizendo que tem fundos para cobrir quaisquer contas e foi forçada a não pagar. Na tentativa de contornar as sanções, o país anunciou na semana passada que passaria a pagar seus US$ 40 bilhões em dívida soberana em rublos, criticando uma situação de “força maior” que disse ter sido artificialmente fabricada pelo Ocidente.
“É uma coisa muito, muito rara, onde um governo que teria os recursos é forçado por um governo externo a entrar em default ”, disse Hassan Malik, analista de dívida soberana sênior da Loomis Sayles & Co. “Será um dos maiores defaults da história.”
Uma declaração formal de default normalmente viria de agências de classificação de risco, mas as sanções europeias levaram-nas a retirar a cobertura de entidades russas. De acordo com os documentos das notas cujo período de carência expirou no domingo, os detentores de 25% dos títulos em circulação podem declarar um calote se concordarem que ocorreu um “evento de inadimplência”.
O foco agora muda para o que os investidores vão fazer daqui para frente.
Eles não precisam agir imediatamente e podem optar por monitorar o progresso da guerra na esperança de que as sanções sejam eventualmente suavizadas. O tempo pode estar do seu lado: os créditos só se tornam nulos três anos após a data do pagamento, de acordo com os documentos do título.
“A maioria dos detentores de títulos manterá a abordagem de esperar para ver”, disse Takahide Kiuchi, economista do Nomura Research Institute em Tóquio.
Durante a crise financeira da Rússia e o colapso do rublo de 1998, o governo do presidente Boris Yeltsin deu calote em US$ 40 bilhões de sua dívida local, e declarou uma moratória sobre a dívida externa.