Real vira a pior moeda do mundo com medidas cambiais
Esforços do governo brasileiro para proteger exportadores está gerando prejuízos para investidores estrangeiros que optam pelo real
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2012 às 09h16.
Nova York - O real acumula a maior queda entre as principais moedas do mundo neste mês, gerando prejuízos para investidores estrangeiros. A baixa é resultado dos esforços do governo para proteger os exportadores.
A moeda perdeu 5,4 por cento em relação ao dólar desde o início do mês, o pior desempenho do mundo depois da rúpia do Sri Lanka. A desvalorização do real fez com que investidores de títulos em moeda local acumulassem perdas de 5,5 por cento em março em dólares, comparado ao ganho de 0,5 por cento para a dívida em peso mexicano, de acordo com dados do Bank of America.
O governo acelerou o ritmo de corte da taxa básica de juros no início de março para diminuir a atratividade dos títulos de renda fixa do País e frear investimentos que impulsionam os ganhos cambiais. A equipe econômica, que também elevou o Imposto sobre Operações Financeiras de empréstimos no exterior este mês, adota postura diferente do México, que tem evitado intervir no mercado de câmbio mesmo com a valorização de 9,8 por cento do peso, a maior alta entre as principais moedas.
“As autoridades brasileiras são muito mais intervencionistas que o Banco Central do México”, disse Nick Chamie, diretor global de mercados emergentes da RBC Capital Markets em Toronto, em entrevista por telefone. “No Brasil, o que parcialmente reforça a essa postura intervencionista é que eles querem manter a indústria competitiva, mas a valorização da moeda é vista como predatória para a indústria.”
O rendimento das Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 avançou 17 pontos-base, ou 0,17 ponto percentual, este mês para 11,46 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
‘Principal defesa’
O Banco Central reduziu a taxa básica de juros em 75 pontos-base, ou 0,75 ponto percentual, em 7 de março para 9,75 por cento, um corte maior do que a expectativa da maioria dos economistas sondados pela Bloomberg. O BC já baixou a Selic em 275 pontos-base desde agosto.
“A principal defesa do Brasil é a administração do câmbio”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em depoimento ao Senado em 13 de março.
Em viagem à Alemanha no começo do mês, a presidente Dilma Rousseff prometeu tomar todas as providências necessárias para proteger a economia do que ela chamou de “tsunami monetário” criado pelos esforços de desvalorização cambial das nações desenvolvidas. O governo ampliou a cobrança da alíquota de 6 por cento do Imposto sobre Operações Financeiras em empréstimos tomados no exterior e títulos emitidos lá fora para incluir também captações com prazos de até cinco anos. A cobrança do IOF, que originalmente se aplicava a captações com prazo de até dois anos, já havia sido estendida em 1º de março a empréstimos de três anos.
O Banco Central e o Ministério da Fazenda não quiseram comentar o assunto, segundo e-mails de suas assessorias de imprensa.
‘Assento traseiro’
Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo se desacelerou para 5,85 por cento nos 12 meses até fevereiro, a inflação continua acima da meta de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
“O crescimento e o valor do real subiram na lista de prioridades estabelecidas pelo governo, com a inflação provavelmente ocupando um assento traseiro”, escreveram os economistas do Barclays Plc Guilherme Loureiro e Marcelo Salomon em relatório divulgado ontem. “O Banco Central se uniu aos esforços para conter a valorização do real e estimular o crescimento ainda mais com um corte mais agressivo.”
Loureiro e Salomon não estavam disponíveis para fazer comentários adicionais para esta reportagem ontem, depois do horário comercial.
O Banco de México é o único entre os principais bancos centrais da América Latina que deixou a taxa básica de juros inalterada no último ano. A autoridade monetária mexicana mantém o juro básico no menor nível histórico, de 4,5 por cento, desde julho de 2009.
‘Hiperativo’
“O que se vê no caso de um banco central hiperativo é um esforço para corrigir esses desequilíbrios artificialmente”, disse o ministro da Fazenda do México, José Antonio Meade, durante entrevista na sede da Bloomberg em Nova York este mês. “No caso do México, temos uma posição equilibrada que não exige o tipo de políticas intervencionistas para corrigir -- em alguns casos artificialmente -- os desequilíbrios que se vê. É algo de que podemos nos orgulhar.”
Eduardo Suarez, estrategista de câmbio do Bank of Nova Scotia em Toronto, disse que a inflação no Brasil vai limitar o espaço para reduções maiores de juros pelo BC.
O real vai se valorizar 6,8 por cento, o maior ganho no mundo todo, até o fim do ano, de acordo com a estimativa mediana de uma sondagem da Bloomberg com 26 economistas.
“As pessoas estão começando a questionar se o Banco Central pode continuar cortando juros sem empurrar a inflação para cima”, disse Suarez.
Nova York - O real acumula a maior queda entre as principais moedas do mundo neste mês, gerando prejuízos para investidores estrangeiros. A baixa é resultado dos esforços do governo para proteger os exportadores.
A moeda perdeu 5,4 por cento em relação ao dólar desde o início do mês, o pior desempenho do mundo depois da rúpia do Sri Lanka. A desvalorização do real fez com que investidores de títulos em moeda local acumulassem perdas de 5,5 por cento em março em dólares, comparado ao ganho de 0,5 por cento para a dívida em peso mexicano, de acordo com dados do Bank of America.
O governo acelerou o ritmo de corte da taxa básica de juros no início de março para diminuir a atratividade dos títulos de renda fixa do País e frear investimentos que impulsionam os ganhos cambiais. A equipe econômica, que também elevou o Imposto sobre Operações Financeiras de empréstimos no exterior este mês, adota postura diferente do México, que tem evitado intervir no mercado de câmbio mesmo com a valorização de 9,8 por cento do peso, a maior alta entre as principais moedas.
“As autoridades brasileiras são muito mais intervencionistas que o Banco Central do México”, disse Nick Chamie, diretor global de mercados emergentes da RBC Capital Markets em Toronto, em entrevista por telefone. “No Brasil, o que parcialmente reforça a essa postura intervencionista é que eles querem manter a indústria competitiva, mas a valorização da moeda é vista como predatória para a indústria.”
O rendimento das Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 avançou 17 pontos-base, ou 0,17 ponto percentual, este mês para 11,46 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
‘Principal defesa’
O Banco Central reduziu a taxa básica de juros em 75 pontos-base, ou 0,75 ponto percentual, em 7 de março para 9,75 por cento, um corte maior do que a expectativa da maioria dos economistas sondados pela Bloomberg. O BC já baixou a Selic em 275 pontos-base desde agosto.
“A principal defesa do Brasil é a administração do câmbio”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em depoimento ao Senado em 13 de março.
Em viagem à Alemanha no começo do mês, a presidente Dilma Rousseff prometeu tomar todas as providências necessárias para proteger a economia do que ela chamou de “tsunami monetário” criado pelos esforços de desvalorização cambial das nações desenvolvidas. O governo ampliou a cobrança da alíquota de 6 por cento do Imposto sobre Operações Financeiras em empréstimos tomados no exterior e títulos emitidos lá fora para incluir também captações com prazos de até cinco anos. A cobrança do IOF, que originalmente se aplicava a captações com prazo de até dois anos, já havia sido estendida em 1º de março a empréstimos de três anos.
O Banco Central e o Ministério da Fazenda não quiseram comentar o assunto, segundo e-mails de suas assessorias de imprensa.
‘Assento traseiro’
Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo se desacelerou para 5,85 por cento nos 12 meses até fevereiro, a inflação continua acima da meta de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
“O crescimento e o valor do real subiram na lista de prioridades estabelecidas pelo governo, com a inflação provavelmente ocupando um assento traseiro”, escreveram os economistas do Barclays Plc Guilherme Loureiro e Marcelo Salomon em relatório divulgado ontem. “O Banco Central se uniu aos esforços para conter a valorização do real e estimular o crescimento ainda mais com um corte mais agressivo.”
Loureiro e Salomon não estavam disponíveis para fazer comentários adicionais para esta reportagem ontem, depois do horário comercial.
O Banco de México é o único entre os principais bancos centrais da América Latina que deixou a taxa básica de juros inalterada no último ano. A autoridade monetária mexicana mantém o juro básico no menor nível histórico, de 4,5 por cento, desde julho de 2009.
‘Hiperativo’
“O que se vê no caso de um banco central hiperativo é um esforço para corrigir esses desequilíbrios artificialmente”, disse o ministro da Fazenda do México, José Antonio Meade, durante entrevista na sede da Bloomberg em Nova York este mês. “No caso do México, temos uma posição equilibrada que não exige o tipo de políticas intervencionistas para corrigir -- em alguns casos artificialmente -- os desequilíbrios que se vê. É algo de que podemos nos orgulhar.”
Eduardo Suarez, estrategista de câmbio do Bank of Nova Scotia em Toronto, disse que a inflação no Brasil vai limitar o espaço para reduções maiores de juros pelo BC.
O real vai se valorizar 6,8 por cento, o maior ganho no mundo todo, até o fim do ano, de acordo com a estimativa mediana de uma sondagem da Bloomberg com 26 economistas.
“As pessoas estão começando a questionar se o Banco Central pode continuar cortando juros sem empurrar a inflação para cima”, disse Suarez.